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A marcha global para Gaza: o caso Indonésia e Egito

16 de junho de 2025, às 06h16

A Plataforma de Solidariedade Ancara-Palestina (ANFIDAP) organizou uma marcha da Mesquita de Kocatepe até a Embaixada do Egito para apoiar os ativistas da “Marcha Global para Gaza” no Egito, em Ancara, Turquia, em 13 de junho de 2025. [Akın Çeliktaş/Agência Anadolu]

Esta semana, dez cidadãos indonésios — entre eles celebridades como Wanda Hamidah, Zaskia Adya Mecca e Ratna Galih — desembarcaram no Cairo, não para uma cúpula política, mas para se juntar à Marcha Global para Gaza. Eles vieram sem armas, sem agendas, apenas com a convicção inabalável de que a humanidade deve falar onde o poder se calou. Vieram para caminhar.

Em vez disso, foram vigiados. Monitorados. Efetivamente detidos. De acordo com uma declaração publicada por Abdul Somad — um pregador islâmico amplamente respeitado na Indonésia — esses cidadãos foram colocados sob rigorosa vigilância pelas autoridades egípcias e não podem seguir para Rafah. Somad escreveu no Instagram que seus celulares são monitorados, seus movimentos monitorados por escoltas policiais e que o uso de suas redes sociais pode colocá-los em risco de prisão.

Essas ações levantam uma questão assustadora — que precisa ser respondida pelos governos indonésio e egípcio: por que os esforços humanitários pacíficos estão sendo tratados como conspirações criminosas?

A Marcha Global para Gaza não é uma manobra política. É o capítulo mais recente de um crescente clamor global contra o sofrimento na Palestina — uma onda moral provocada inicialmente pelo Madleen, um navio humanitário que foi impedido de chegar a Gaza. Quando o navio foi desviado pela força militar, seu impacto se espalhou por continentes. Do mar ao deserto, do navio à sandália, a consciência do mundo agora marcha em frente.

No calor escaldante do Sinai, milhares caminham em direção a Rafah — a última passagem para Gaza sitiada. Eles não são diplomatas. Eles não exercem mandatos governamentais. São enfermeiros, aposentados, estudantes e ativistas. Não vêm para protestar contra uma nação, mas para proteger um povo.

No entanto, seus passos não são recebidos de braços abertos, mas sim de portas fechadas. O Egito respondeu à marcha com detenções, deportações e, em alguns casos, violência. Vídeos virais mostram ativistas — incluindo americanos e europeus — sendo assediados perto de Ismailia. Uma americana teria sido espancada e teve seu hijab arrancado. O parlamentar irlandês Paul Murphy foi detido e deportado.

E os cidadãos indonésios — que vieram para caminhar, não para guerrear — estão agora presos num limbo.

O que torna essa reviravolta particularmente desanimadora é que, há apenas dois meses, o presidente indonésio Prabowo Subianto se encontrou com o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi no Cairo para elevar o relacionamento entre suas nações a uma parceria estratégica. A Palestina foi central na discussão. Ambos os líderes afirmaram publicamente seu compromisso mútuo de apoiar o povo palestino e denunciaram a agressão israelense.

O presidente Prabowo — liderando um país cuja constituição o vincula explicitamente à luta contra o colonialismo — deixou claro que a Indonésia vê o sofrimento dos palestinos como uma injustiça global. Al-Sisi, cujo país faz fronteira com Gaza e atua como mediador há muito tempo, ressaltou a necessidade de interromper a destruição e iniciar a recuperação humanitária.

Mas se essas duas nações estão tão alinhadas em seu apoio à Palestina, por que agora cidadãos indonésios pacíficos estão sendo vigiados, impedidos e impedidos de expressar essa mesma solidariedade?

Esta é a pergunta que os governos indonésio e egípcio devem responder — não apenas aos ativistas, mas também aos seus próprios povos. A diplomacia se tornou tão vazia que o apoio público a Gaza só é permitido quando conveniente? O humanitarismo foi reduzido a teatro político?

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A Indonésia, em particular, precisa agir. Seus cidadãos estão sendo obstruídos por incorporarem valores que a nação afirma prezar. Ela deve exigir sua libertação e total liberdade de movimento. Deve convocar o embaixador egípcio em Jacarta para prestar contas por essas ações injustas. E deve levantar essa questão em fóruns internacionais, incluindo a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), para denunciar todas as formas de obstrução — das bombas de Israel à burocracia egípcia.

Rafah é mais do que uma travessia — é a linha divisória entre a paralisia moral e o despertar global. Quanto mais bloqueada, mais forte se torna a pulsação da consciência. A Marcha Global não é simplesmente um protesto. É uma declaração de que a humanidade não desviará o olhar.

Do Madleen no mar aos manifestantes em terra, a mensagem é a mesma: nenhum poder pode suprimir um movimento impulsionado pela convicção. E nenhum silêncio pode apagar a dor de Gaza.

Os cidadãos indonésios estão caminhando não apenas em direção a Gaza — mas em direção à alma da política externa do país.

É hora de seu governo caminhar com eles.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.