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Israel ataca Teerã e outras cidades iranianas: O que sabemos até então

13 de junho de 2025, às 11h28

Prédio danificado por ataques israelenses na capital iraniana Teerã, em 13 de junho de 2025 [Fatemeh Bahrami/Agência Anadolu]

Israel conduziu ataques a diversas áreas do Irã, incluindo segundo informações de seu exército, localidades nucleares e militares, além de assassinatos de oficiais militares de alto escalão e cientistas de destaque.

Uma primeira onda de ataques foi realizada na madrugada de sexta-feira (13), reportou a Al Jazeera. Uma segunda ofensiva, posteriormente, atingiu Tabriz, no noroeste do Irã, informou a mídia local.

A agressão voltou a alimentar temores de um conflito regional no Oriente Médio, com promessas de Teerã de uma “dura resposta”. Segundo o aiatolá Ali Khamenei, Supremo Líder do Irã, a retaliação será “amarga e dolorosa”.

Em mensagem pré-gravada, o primeiro-ministro de Israel e foragido internacional, pelo genocídio em Gaza, Benjamin Netanyahu, afirmou que as operações buscaram lesar a infraestrutura nuclear e a indústria balística do Irã.

O que Israel atacou?

Ataques foram confirmados nas seguintes localidades:

  • Teerã, capital do país, incluindo bairros residenciais e áreas militares ao redor;
  • Natanz, cidade central, onde explosões foram reportadas na principal instalação de enriquecimento de urânio do país;
  • Tabriz, cidade no noroeste iraniano, onde explosões foram reportadas próximas a um centro de pesquisa nuclear e duas bases militares;
  • Isfahan, ao sul de Teerã;
  • Arak, a sudoeste de Teerã;
  • Kermanshah, a oeste de Teerã.

Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram danos a estruturas civis, incluindo prédios residenciais, em diversas áreas da capital iraniana.

O exército israelense alegou danificar “consideravelmente” as estruturas subterrâneas da usina de enriquecimento de urânio de Natanz, incluindo centrífugas, redes elétricas, salas de máquina e instalações de apoio adicionais.

Quem Israel matou?

Segundo a mídia local, Hossein Salami, comandante-chefe da Guarda Revolucionária, e Mohammad Bagheri, chefe do Estado-maior do exército iraniano, estão entre aqueles assassinados por Israel.

A rede estatal Nour News relatou que Ali Shamkhani, assessor de Khamenei, foi “ferido gravemente”. A rede Tasnim, por sua vez, indicou a morte do major-general Gholamali Rashid, comandante do quartel-general de Khatam al-Anbiya.

De acordo com correspondente da Al Jazeera em campo, dois dos principais cientistas nucleares do Irã, Fereydoon Abbasi e Mohammad Tehranchi, foram assassinados.

LEIA: Israel iniciou ataques militares na capital iraniana, Teerã, e arredores, bem como em outras cidades do Irã, na noite de sexta-feira.

Abbasi liderou a Organização de Energia Atômica do Irã de 2011 a 2013. Tehranchi era professor de física teórica da Universidade Shahid Baheshti e membro do conselho da Universidade Islâmica de Azad.

A agência iraniana Fars estimou ao menos 70 mortos e 320 feridos.

Qual a reação no Irã?

A população iraniana acordou em meio a cenas assustadoras de destruição.

Em nota, Khamenei alertou que Israel “estendeu sua mão suja de sangue a um crime” contra o Irã, sobretudo centros residenciais. Para o aiatolá, “o regime [israelense] deve esperar uma punição severa”.

Abolfazl Shekarchi, porta-voz das Forças Armadas do Irã, advertiu para um “alto preço” pelos ataques.

Segundo Foad Izadi, professor da Universidade de Teerã, o público reagiu “em torno da bandeira”, ao entender o conflito como inevitável. “O Irã não quer guerra, mas o outro lado não deixou escolha senão responder”.

Grupos se reuniram nas ruas por uma réplica rápida contra Israel.

“Não é possível deixar que isso continue, ou então acabaremos como Gaza”, lamentou Abbas Ahmadi, residente de Teerã de 52 anos, em referência ao enclave destruído pelo genocídio israelense, há mais de 600 dias.

Masoud Pezeshkian, presidente iraniano, ressoou promessas de uma resposta “firme”, ao preconizar que o “inimigo se arrependerá deste ato estúpido”.

Teerã lançou mais de cem drones rumo a Israel, como uma primeira resposta; contudo, operações de maior escala devem ocorrer ainda nas próximas horas.

Qual a reação em Israel?

Eyal Zamir, chefe do Estado-maior do exército de Israel, reconheceu um “ponto de não retorno”. Para Zamir, a ofensiva serve a uma “luta para preservar nossa existência”, de modo que o Estado agressor “não poderia aguardar outro momento de agir”. 

LEIA: Irã revela vasta instalação subterrânea de mísseis

Yair Lapid, chefe da oposição israelense, considerado centrista, compartilhou uma nota na rede social X (Twitter), para parabenizar seu exército pelos ataques.

Qual a reação nos Estados Unidos?

Irã e Estados Unidos estavam envolvidos, até então, em negociações sobre o programa nuclear iraniano, na tentativa de firmar um novo acordo para restringir suas operações e mitigar sanções impostas à República Islâmica.

Em entrevista à emissora de extrema-direita Fox News, o presidente americano Donald Trump insistiu que Washington não colaborou com a agressão. No entanto, prometeu defender Israel em caso de retaliação.

A negativa foi ecoada pelo secretário de Estado, Marco Rubio. 

“O Irã não pode ter uma bomba nuclear”, disse Trump, “mas esperamos voltar à mesa de negociações”.

O Conselho de Segurança Nacional de Trump convocou uma reunião extraordinária na manhã desta sexta-feira, para avaliar a conjuntura, corroborou a Casa Branca.

Quais os riscos de atacar sítios nucleares?

Ataques a instalações nucleares podem causar consequências imprevisíveis, incluindo vazamentos radioativos, explosões colaterais e contaminação de longo prazo.

Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), reiterou que a organização, filiada às Nações Unidas, está monitorando a situação. Grossi confirmou que a usina de Natanz esteve entre os lugares alvejados.

“Nossa agência está em contato com as autoridades iranianas e nossos inspetores no país para monitorar os níveis de radiação”, observou Grossi.

Qual a reação global?

Em comunicado, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, pediu “máximo comedimento” das partes, para evitar uma “queda a uma conflito ainda maior”. Farhan Haq, seu porta-voz, notou condenação de Guterres sobre a escalada.

Conforme Haq, o secretário está “particularmente apreensivo pelos ataques de Israel a instalações nucleares, dado que conversas entre Irã e Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano deveriam estar em curso”.

LEIA: Irã obtém documentos nucleares de Israel, reporta imprensa estatal

O Conselho de Segurança das Nações Unidas marcou uma reunião extraordinária nesta tarde, a pedido de Teerã, para debater a matéria, repassaram à Reuters diplomatas não identificados.

Segundo as equipes do Centro Conjunto de Informações Marítimas (JMIC) no Golfo de Aden e no Mar Vermelho, os eventos recentes elevam chances de conflito regional. O estreito de Hormuz, porém, permanece aberto ao tráfego comercial.

Para o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, os ataques israelenses constituem uma “provocação flagrante”, de modo que Netanyahu pretende arrastar toda a região a um “verdadeiro desastre”.

“Os ataques de Netanyahu e sua rede de açougueiros, que põem fogo em toda a região e no mundo, devem ser rechaçados”, destacou Erdogan nas redes sociais.

Omã, mediador nas negociações, descreveu as ações israelenses como “imprudente e perigosa escalada, ao configurar uma violação flagrante” da Carta das Nações Unidas e das leis de guerra internacionais.

“Este comportamento agressivo e persistente é inaceitável e desestabiliza ainda mais o prospecto da paz e segurança regionais”, destacou o regime omani.

“O sultanato de Omã responsabiliza Israel por essa escalada e suas consequências, bem como insta a comunidade internacional a adotar uma postura firme e inequívoca para cessar tão arriscado curso de ações”, acrescentou.

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