Os Estados Unidos, como o maior exportador mundial de armas, utilizam seu complexo militar-industrial para fortalecer sua economia e expandir sua influência geopolítica. Em maio de 2025, essa dependência foi nitidamente revelada durante a visita do ex-presidente Donald Trump ao Oriente Médio, onde acordos massivos de armas foram assinados com a Arábia Saudita (US$ 142 bilhões), Catar (US$ 1,96 bilhão) e Emirados Árabes Unidos (US$ 1,6 bilhão), elevando os compromissos totais de investimento desses países para mais de US$ 1,4 trilhão. Comercializados como conquistas econômicas, esses acordos ressaltam o profundo envolvimento da economia dos EUA com o comércio de armas — uma dependência que, ao militarizar regiões voláteis como o Oriente Médio, representa sérias ameaças à paz e à estabilidade globais.
A venda em larga escala de armamento avançado intensifica os riscos de corridas armamentistas, fortalece regimes autoritários e alimenta conflitos regionais, minando, em última análise, a ordem internacional. Essa tendência não apenas exacerba as tensões existentes, mas também aumenta a probabilidade de uso indevido de tecnologias militares avançadas em conflitos ilícitos. Esta análise explora os impulsionadores econômicos das exportações de armas dos EUA, as implicações dos acordos de armas do Golfo de 2025 e seus efeitos desestabilizadores no Oriente Médio, argumentando que a dependência econômica dos EUA na venda de armas prioriza os lucros de curto prazo em detrimento da segurança global de longo prazo.
O imperativo econômico das vendas de armas dos EUA
O complexo militar-industrial dos EUA constitui um pilar central da economia nacional, criando milhões de empregos e gerando receitas de exportação significativas. Em 2023, os EUA foram responsáveis por 43% das exportações globais de armas, fornecendo armas para pelo menos 107 países. Gigantes da defesa como Lockheed Martin e Boeing desempenham um papel importante no PIB e no emprego, e as vendas de armas ajudam a financiar o custo de manutenção do domínio militar global. De acordo com o Center for American Progress, os acordos do Golfo — especialmente o acordo de US$ 142 bilhões com a Arábia Saudita — apoiam diretamente as indústrias de defesa dos EUA e reforçam a dependência econômica de uma política externa militarizada.
No entanto, esse modelo econômico tem um lado obscuro. A ênfase exagerada na exportação de armas frequentemente marginaliza considerações éticas, como se reflete na disposição dos Estados Unidos em armar regimes antidemocráticos. A Al Jazeera destacou o controverso histórico de direitos humanos da Arábia Saudita, incluindo o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, que questiona a legitimidade moral do fornecimento de armas. O New York Times também noticiou as preocupações do Congresso com os acordos de armas com o Catar e os Emirados Árabes Unidos, enfatizando os riscos de corrupção e violações dos direitos humanos. Essa dependência econômica cria um ciclo vicioso: para sustentar os lucros da indústria de defesa, os EUA precisam perpetuar ou expandir a demanda global por armas — uma estratégia que muitas vezes ocorre às custas da estabilidade global.
Visita de Trump ao Oriente Médio em 2025: Um estudo de caso em diplomacia armamentista
A viagem de Donald Trump ao Oriente Médio em maio de 2025 — visitando a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar — foi um exemplo clássico de uma estratégia que prioriza a economia, construída em torno do comércio de armas. A visita resultou em enormes negócios de armas: US$ 142 bilhões com a Arábia Saudita, US$ 1,96 bilhão com o Catar para aeronaves Boeing e US$ 1,6 bilhão com os Emirados Árabes Unidos ao longo de uma década, elevando o investimento total no Golfo para mais de US$ 2 trilhões. Os acordos incluíram sistemas avançados de armas, apoio logístico e programas de treinamento que impulsionaram significativamente as capacidades militares dos países do Golfo.
Trump descreveu os acordos como grandes vitórias econômicas, enfatizando a criação de empregos e a atração de investimentos. No entanto, além dos objetivos econômicos, os acordos faziam parte de uma estratégia mais ampla para aprofundar a influência geopolítica dos EUA na região. Trump descreveu a Arábia Saudita como um aliado fundamental contra o Irã e enquadrou a venda de armas como um meio de equilibrar ameaças regionais. Essa abordagem transacional — priorizando interesses econômicos e militares — minou os esforços diplomáticos para resolver conflitos regionais como os de Gaza e Iêmen. Por exemplo, a proposta dos Emirados Árabes Unidos de participar de uma força de segurança em Gaza, apoiada por armas americanas, demonstrou como tais acordos alimentam ainda mais a militarização em vez de apoiar a paz.
Implicações de segurança das vendas de armas para o Golfo
O influxo de armas dos EUA para o Golfo representa grandes ameaças à estabilidade do Oriente Médio e à segurança global. O acordo de US$ 142 bilhões com a Arábia Saudita equipa o reino com armas avançadas e provavelmente intensifica sua rivalidade com adversários regionais. Os componentes logísticos e de treinamento do acordo garantem uma dependência militar de longo prazo dos EUA, perpetuando um ciclo de militarização. No Iêmen, onde a coalizão liderada pela Arábia Saudita enfrenta críticas por baixas civis, essas armas correm o risco de prolongar e intensificar o conflito, minando os esforços humanitários.
Os acordos de US$ 1,6 bilhão com os Emirados Árabes Unidos e US$ 1,96 bilhão com o Catar — abrangendo helicópteros Chinook, drones e componentes do F-16 — aumentam a influência regional dessas nações, mas rompem os frágeis equilíbrios geopolíticos. A ambição dos Emirados Árabes Unidos de estabelecer o maior campus de IA do mundo, impulsionada por transferências de tecnologia dos EUA, incluindo 500.000 chips NVIDIA, levanta alarmes sobre o potencial uso indevido para vigilância em massa ou transferência para rivais como a China. Da mesma forma, as compras de armas do Catar, somadas aos seus laços com o Hamas, complicam seu papel como mediador nas negociações de Gaza e levantam dúvidas sobre sua neutralidade.
Esses acordos inegavelmente desencadeiam novas corridas armamentistas e crises em toda a região. O aumento das capacidades militares, especialmente entre rivais, pode transformar tensões em conflitos abertos. Além disso, a disseminação de tecnologias militares avançadas e IA aumenta o risco de seu uso indevido em disputas regionais, diminuindo ainda mais as perspectivas de uma paz duradoura.
Preocupações morais e de segurança global
As consequências éticas da venda de armas pelos EUA são profundas. O histórico de direitos humanos da Arábia Saudita — incluindo o assassinato de Khashoggi e seu papel na crise humanitária do Iêmen — levanta questões morais sobre o armamento desses regimes. O New York Times citou os esforços dos democratas do Congresso para bloquear acordos com o Catar e os Emirados Árabes Unidos, citando riscos de corrupção e os interesses comerciais de Trump. Essas vendas também podem violar o Tratado de Comércio de Armas da ONU, pois facilitam danos a civis.
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Globalmente, a expansão da venda de armas pelos EUA aumenta a instabilidade em outras regiões. Transferências de tecnologia, como chips NVIDIA para os Emirados Árabes Unidos, podem eventualmente atingir adversários como a China, minando a segurança nacional dos EUA e a estabilidade global. A queda dos preços do petróleo também pode levar os Estados do Golfo a reforçar o poderio militar para manter sua influência, desestabilizando ainda mais a região. Essa dinâmica demonstra que a dependência econômica dos Estados Unidos em relação à exportação de armas cria um ciclo vicioso: as vendas de armas aumentam a demanda, prolongam os conflitos e tornam a venda de armas essencial para a continuidade econômica.
Contexto mais amplo: Um padrão de política externa militarizada
Os acordos de armas do Golfo de 2025 fazem parte de um padrão histórico mais amplo. Por exemplo, o acordo de US$ 110 bilhões com a Arábia Saudita em 2017, durante o primeiro mandato de Trump, visava grandes ganhos econômicos, mas produziu resultados limitados, com muitos investimentos prometidos não cumpridos. Essa tendência reflete uma estratégia mais ampla dos EUA de alavancar as exportações de armas para expandir a influência econômica e geopolítica, muitas vezes em detrimento da paz e da estabilidade. O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo relata que as exportações de armas dos EUA têm impulsionado consistentemente o crescimento do comércio global de armas e estão ligadas ao aumento de conflitos nas regiões receptoras.
O Oriente Médio, como um dos principais destinos das armas dos EUA, exemplifica esse padrão. O relatório da Anistia Internacional sobre o comércio global de armas mostra como as armas americanas exacerbaram os conflitos no Iêmen, na Síria e na Líbia, intensificando o sofrimento civil e a instabilidade regional. Os acordos do Golfo de 2025, com seu foco em armas e tecnologias avançadas, aumentam esses riscos e perpetuam um ciclo de violência.
A profunda dependência econômica dos Estados Unidos da venda de armas — demonstrada pelos acordos massivos assinados durante a viagem de Donald Trump ao Oriente Médio em 2025 — representa uma ameaça significativa à paz, à estabilidade e à segurança global. O acordo de US$ 142 bilhões com a Arábia Saudita, juntamente com os contratos de US$ 1,96 bilhão do Catar e de US$ 1,6 bilhão dos Emirados Árabes Unidos, priorizam os lucros econômicos e da indústria de defesa em detrimento de considerações éticas e diplomáticas. Essas transações alimentam corridas armamentistas regionais, fortalecem regimes com históricos preocupantes de direitos humanos e aumentam o risco de proliferação tecnológica — tudo isso minando a estabilidade do Oriente Médio e a segurança global. A abordagem transacional dos EUA, que marginaliza os esforços de paz em Gaza e no Iêmen, sustenta um ciclo de militarização que ameaça a ordem internacional a longo prazo. A dependência dos EUA em exportações de armas continuará a desestabilizar regiões sensíveis como o Oriente Médio, com consequências de longo alcance para a paz global.
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