clear

Criando novas perspectivas desde 2019

‘Carnificina’ em Gaza domina agenda da cúpula da Liga Árabe no Iraque

20 de maio de 2025, às 09h52

Encontro da 34ª Cúpula Árabe, em Bagdá, no Iraque, em 17 de maio de 2025 [Governo do Iraque/Divulgação/Agência Anadolu]

O genocídio israelense na Faixa de Gaza assumiu protagonismo nas reuniões anuais de cúpula da Liga Árabe, realizadas no Iraque, reportou a rede Al Jazeera.

Em seu discurso de abertura na 34ª Cúpula Árabe, neste sábado (17), afirmou o premiê iraquiano Mohammed Shia al-Sudani: “Este genocídio [em Gaza] atingiu uma nível sem paralelo de hediondez, comparado a todos os conflitos na história”.

Bagdá ressaltou apoio à criação de um “fundo árabe para reconstrução”, destinado às crises que tomam a região, incluindo US$20 milhões iraquianos para a reconstrução de Gaza e o mesmo valor para o Líbano, também sob ataques de Israel.

Al-Sudani rechaçou ainda o “deslocamento forçado dos palestinos” e reivindicou o fim dos “massacres em Gaza e dos ataques à Cisjordânia e aos territórios ocupados”.

“Clamamos, e continuamos a clamar, por ações sérias e responsáveis dos países árabes para salvar Gaza e reativar a UNRWA”, prosseguiu, em referência à Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina.

LEIA:  “Isso precisa acabar”, diz comissária da UE sobre os últimos ataques israelenses a Gaza

Os encontros no Iraque se iniciaram um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concluir sua turnê pelo Oriente Médio, com novos acordos com regimes do Golfo, como Catar e Arábia Saudita.

O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, foi o primeiro líder árabe a chegar em Bagdá, nesta sexta-feira (16). Porém, uma fonte da rede AFP reportou que a maior parte dos países do Golfo enviou representação em nível ministerial.

‘Carnificina segue em Gaza’

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o premiê da Espanha, Pedro Sánchez — crítico do genocídio israelense em Gaza — foram convidados à cúpula deste ano. 

Para Guterrez, “precisamos de um cessar-fogo permanente agora mesmo, bem como a soltura incondicional dos reféns [sic; prisioneiros de guerra] e fluxo livre de assistência humanitária, para encerrar o bloqueio”.

Sánchez destacou que a crise humanitária em Gaza “deve acabar imediatamente e sem demora”.

“A Palestina e a Espanha estão trabalhando em um novo esboço a ser apresentado às Nações Unidas, onde exigem que Israel dê fim a seu cerco humanitário injusto imposto a Gaza e permita entrega incondicional de assistência”, declarou o premiê.

Sánchez instou ainda “maior pressão sobre Israel para dar fim à carnificina que segue em Gaza, por todos os meios concebíveis, isto é, todas as ferramentas disponíveis sob a lei internacional”.

“Aqui, gostaria de anunciar que Madrid apresentará uma proposta à Assembleia Geral [das Nações Unidas] para que o Tribunal Penal Internacional [TPI, em Haia] examine o cumprimento de Israel para com a entrega humanitária em Gaza”, acrescentou.

Em março, Israel rescindiu o acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros firmado em janeiro com o grupo Hamas, ao retomar os ataques intensivos a Gaza e intensificar seu cerco militar ao enclave — sem comida, água ou medicamentos.

Em reunião preparatória da Cúpula Árabe, o ministro de Relações Exteriores do Iraque, Fuad Hussein, prometeu manter apoio a decisões de um encontro no Cairo conduzido em março, para a reconstrução de Gaza como alternativa ao plano de limpeza étnica e expropriação de Trump.

LEIA: O cemitério de ilusões de Gaza: Como a narrativa de Israel colide com o fracasso militar

Na quinta-feira (15), em visita ao Catar, Trump alegou desejar que Washington “tome” Gaza, para torná-la uma “zona de liberdade”.

Semanas após assumir posse, neste ano, Trump incitou críticas por promover em Gaza um projeto imobiliário que descreveu como “Riviera do Oriente Médio”. Líderes árabes reagiram com um plano próprio, para reconstruir o enclave sem a transferência forçosa da população.

Síria e Irã na agenda

Além de Gaza, as lideranças árabes devem debater as condições na Síria, em um novo capítulo da história do país, seis meses após a implosão da ditadura de Bashar al-Assad e fim dos 13 anos de guerra civil.

Em Riad, na Arábia Saudita, Trump se encontrou pela primeira vez, nesta semana, com o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, pouco depois de anunciar suspensão das sanções americanas a Damasco.

Al-Sharaa — que esteve preso no Iraque por anos, sob acusações de filiação ao grupo terrorista al-Qaeda, no contexto da invasão americana de 2003 — deve, porém, perder a cúpula, após políticos iraquianos objetarem sua presença.

O ministro de Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shaibani, representará o país.

Os encontros coincide também com novas negociações nucleares entre Estados Unidos e Irã. Trump prometeu diplomacia, ao prometer conter ataques israelenses à república islâmica, em meio a tensões que perduram há anos.

LEIA:  O genocídio de Gaza e os limites da propaganda israelense

Na quinta-feira, Trump disse se aproximar de um acordo; no dia seguinte, ao contrário, preconizou “algo ruim prestes a acontecer”.

O Iraque retomou relativa normalidade apenas recentemente, após décadas de conflito sob intervenção estrangeira. Seus líderes atuais veem a cúpula como oportunidade de projetar estabilidade e confiança geopolítica.

Enquanto isso, em Gaza, o exército israelense mantém seus bombardeios, com mais de 53 mil mortos, 120 mil feridos e dois milhões de desabrigados.