Apesar da eventual impressão imediata sobre a validade e mesmo o motivo da pergunta posta acima — com base na enorme escala de destruição generalizada e no fato de que toda a Palestina permanece vítima de uma guerra de extermínio; uma verdade triste —, isso não deve impedi-lo, caro leitor, de ponderar como Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, contribuiu para que seu próprio povo impusesse o questionamento, a até mesmo estendê-lo a âmbitos regionais e internacionais. Não é um exagero, dadas a euforia, a revelia e a intimidação manifestas por Netanyahu, em detrimento da urgência em parar a guerra contra a Palestina: seja em sua forma atual, como “guerra aberta” em Gaza, seja o extermínio diário e a limpeza étnica na Cisjordânia, ou mesmo, o apartheid imposto aos palestinos dentro do chamado Estado de Israel.
Nem a razão, nem a consciência podem aceitar aguardar a emergência de circunstâncias políticas, diplomáticas ou econômicas adequadas — e mesmo armadas, como o caso do assassinato de Yitzhak Rabin — para parar Netanyahu e seu genocídio imposto contra o povo palestino. O custo da espera é alto demais, seja ao cidadão comum palestino como ao combatente da resistência — personagens muitas vezes forçados a coincidir. Porém, para fins retóricos, busquei distinguir ambos — ambos intrépidos e resilientes.
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A guerra injusta em curso contra a Faixa de Gaza levou de fato à exaustão da resistência e mesmo erosão de suas ações de longa data, ao enfraquecer, no momento, sua posição sólida para negociar um cessar-fogo e preservar as estruturas de vida remanescentes no enclave. Tragicamente, a resistência não vive seus melhores dias e trava suas batalhas, em grande parte, de maneira orgânica e esparsa, com poucas janelas de ação e cercada em todos os fronts — por completo no Líbano e em parte no Iêmen.
A demora em se chegar a um acordo prejudica cada vez mais cidadãos comuns de Gaza, bem como o restante da Palestina, cuja única missão, lhes parece, é aguentar um pouco mais e perseverar muito embora sem qualquer apoio adequado, salvo escassos esforços de diplomacia e ajuda humanitária. A resiliência humana não é sem fim e, muito embora eu conheça bem a resiliência do povo palestino, esta se abala pela falta de comida, água e abrigo e pelas vozes de apoio que pouco a pouco se silenciam — na mídia, na política, na economia e, muito eventualmente, nas pressões militares. Apesar da dita diplomacia de países como Catar, Jordânia, Egito e Arábia Saudita, apenas adotar uma narrativa de “não-deslocamento” não basta sem apoio tangível para que os palestinos suportem suas dores. O que os palestinos enfrentam hoje é muito mais do que uma guerra clássica com objetivos claros, mas sim extermínio e solução final.
Apesar dos danos diretos à Palestina, o contexto amplo certamente importa: a mancha na reputação de árabes e muçulmanos, por falharem em apoiar seus irmãos palestinos, ecoa em todo o planeta. Nossa incapacidade em auxiliá-los devidamente, seja qual for a razão, deixa uma ferida profunda a olhos nus. Como falar de bravura e dignidade diante de tamanho fracasso?
Neste entremeio, todavia, mesmo a sociedade israelense sofre as consequências de sua guerra. A obstinação de Netanyahu levou ao revés israelense nos mais variados fronts. Por exemplo, em termos de demografia e migração, a taxa de crescimento da população israelense caiu 1.1% em 2024, comparada a 1.6% no ano anterior. Sobre a economia, o orçamento de 2025 requereu um recorde de 756 bilhões de shekels dos cofres públicos, incluindo 136 bilhões para dívida interna e 110 bilhões para gastos militares, sobretudo para ser consumido na guerra em Gaza. O conflito incessante danificou a infraestrutura de Israel, em particular nos colonatos ao norte. Fissuras sem precedentes emergiram na sociedade israelense, ao refletir contradições políticas, étnicas e sociais profundas e de longa data, com danos irreversíveis aos alicerces da ocupação.
Tais danos cumulativos geram pressão uníssona, embora frequentemente superficial, a Netanyahu para que dê fim à guerra: de líderes políticos, militares e de inteligência em Israel, bem como um público inflamado, seja no país, como no mundo árabe e islâmico e mesmo em âmbito global — na Europa, na Rússia e na China, nas Nações Unidas e nas cortes internacionais sediadas em Haia.
Ainda assim, Netanyahu parece inabalável. Como parar sua arrogância?
Resultados diferentes daqueles que emergiram até então requerem novas ferramentas, estratégias e táticas. Muito embora meu coração pese e faltem palavras, ainda acredito firmemente que os países árabes e islâmicos têm, sim, poder para parar Netanyahu — desde que unifiquem posições sobre a matéria. Mantenho em mim a convicção de que, dadas as condições certas, a guerra acabaria em questão de horas.
O que precisamos é adotar um novo discurso político-econômico, mais forte e perspicaz, ao passo em que mantemos as portas abertas à comunidade internacional. Declarações da Liga Árabe, da Organização para Cooperação Islâmica e do Conselho de Cooperação do Golfo devem ainda ser emitidas, no entanto, com ainda maior intensidade, com base em passos subsequentes para que países árabes e islâmicos unifiquem posições. Sobre a economia, não há alternativa senão pressão de verdade, sobretudo aos apoiadores de Netanyahu, incluindo ao suspender eventuais parcerias econômicas com tais governos e entidades.
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Por último, mas não menos importante, países com “tratados de paz” com Israel devem coordenar seus esforços para persuadir Netanyahu a reconsiderar suas políticas no que concerne a suposta racionalidade de seu custo-benefício. Sem tais medidas, arriscamos culpar perpetuamente uma elusiva “comunidade internacional”, ao nos esquecermos, porém, de que somos parte dela.
Publicado originalmente em al-sharq
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