A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou em nota para uma “prolongada sentença de sofrimento” na Faixa de Gaza sitiada, por conta de casos de queimaduras graves que se acumulam após 19 meses de ataques de Israel tanto às comunidades palestinas quanto a seu sistema de saúde básica.
“Muitas pessoas sofrem hoje com queimaduras extensas, que cobrem grandes porções de seus corpos”, apontou o comunicado. “Algumas delas têm até 40% da superfície dos corpos cobertas por queimaduras devido a explosões a bombas ou meios improvisados de subsistência”
“À medida que as autoridades de Israel mantêm o cerco a Gaza, ao bloquear a entrada de assistência básica e insumos para salvar vidas, muitos pacientes se veem deixados a sofrer uma dor excruciante, sem limites tampouco alívio”, acrescentou.
Segundo a organização, “desde que Israel retomou suas hostilidades, em 18 de março, equipes da MSF notam aumento no número de pacientes com queimaduras graves — a maioria, crianças”.
“Neste mês abril”, observou, “em nossa clínica na Cidade de Gaza, no norte do enclave, as equipes da MSF têm visto uma média de cem pacientes com queimaduras e outros ferimentos diariamente”.
“Desde maio de 2024, equipes da MSF a serviço no Hospital Nasser realizaram mais de mil cirurgias em pacientes com queimaduras, dos quais 70% eram crianças, em maioria menores de cinco anos de idade”, detalhou o comunicado.
Conforme o alerta, as causas das queimaduras variam de bombardeios diretos a causas indiretas, como ferimentos por água fervente e combustíveis usados pelas famílias para cozinhar ou se aquecer nas tendas improvisadas do enclave sitiado.
“Queimaduras graves exigem cuidados complexos e de longo prazo, incluindo múltiplas cirurgias, mudanças diárias dos curativos, fisioterapia, gestão de dor, apoio psicológico, bem como ambiente estéril para impedir infecções”, explicou a MSF. “No entanto, após 50 dias sem entrada de suprimentos em Gaza, devido ao bloqueio, analgésicos básicos estão se esgotando”.
Desde dezembro, reportou a nota, equipes da MSF operantes em sua clínica na Cidade de Gaza, assim como em um hospital de campo em Deir al-Balah e no Hospital Nasser de Khan Yunis realizaram ao menos 6.518 curativos e cuidados relativos a queimaduras. Contudo, quase metade dos pacientes não retornaram para acompanhamento.
Conforme o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), reiterou a ong, “mais da metade das instalações de saúde ainda operantes em Gaza se situam em áreas sob ordens de evacuação”, emitidas pelo exército de Israel, “o que torna o acesso a saúde quase impossível”.
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