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Sharaa reconhece passado na Al-Qaeda, mas nega papel na guerra sectária do Iraque

11 de fevereiro de 2025, às 12h27

Presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa (à esquerda) durante entrevista no podcast Rest is Politics, com Rory Stewart e Alastair Campbell, em 10 de fevereiro de 2025 [@RestIsPolitics/X]

O novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, reconheceu ter se filiado à Al-Qaeda do Iraque (AQI), durante a invasão dos Estados Unidos no país, mas insistiu que suas ações tinham como intuito “ganhar experiência e defender os iraquianos”.

Seus comentários foram feitos durante entrevista com Alastair Campbell, ex-porta-voz do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, e Rory Stewart, ex-ministro conservador, como convidado do podcast Rest is Politics.

“Não tínhamos capacidade ou experiência o suficiente, então decidimos ir aonde quer que fosse para ganhar experiência”, notou Sharaa a seus anfitriões. “Sim, eu trabalhei com várias facções, mas elas começaram a minguar e eu me vi dentro da Al-Qaeda no Iraque”

A AQI — sob o falecido líder jordaniano Abu Musab al-Zarqawi — tornou-se infame por alimentar o conflito sectário no Iraque, incluindo atentados a bomba com numerosas baixas, execuções sumárias e ataques a civis.

O grupo de al-Zarqawi foi responsável, por exemplo, pelo ataque a bomba ao santuário de Askari, em Samarra, em 2006, além de executar reféns em vídeos de propaganda e sucessivos atentados suicidas em áreas de maioria xiita.

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Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, foi encarcerado por cinco anos em instalações americanas, incluindo Abu Ghraib e Camp Bucca. Segundo ele, seu tempo em custódia moldou suas demandas políticas; no entanto, ao rejeitar narrativas sectárias.

“Algumas facções na prisão me atacavam por não adotar a ideologia do Estado Islâmico [Daesh], um pouco adiante”, recordou o presidente.

Sharaa foi libertado dois dias antes de eclodir a revolução síria, em 2011, e logo voltou ao país, onde formou o grupo mais tarde conhecido como Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), dissidência da Al-Qaeda.

“Começamos com apenas seis pessoas”, disse Sharaa. “Dentro de um ano, éramos mais de cinco mil”.

Sharaa insistiu em se distanciar dos métodos da AQI, ao afirmar que sua oposição levou a uma cisão violenta. “Uma fissura se formou entre nós e começou uma guerra, na qual perdemos mais de 1.200 combatentes”.

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Neste contexto, fontes judiciais iraquianas confirmaram um mandado de prisão contra Sharaa por crimes relacionados com terrorismo. Juristas debatem se a lei de anistia do Iraque se aplica a ele, empossado presidente da Síria há uma semana.

Os Estados Unidos haviam oferecido US$10 milhões por sua captura, mas rescindiram a recompensa após uma recente visita diplomática a Damasco.