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Como a ‘farsa do antissemitismo’ ofuscou as covas coletivas em Gaza

Ao manufaturar ruídos na imprensa sobre as marchas contra o genocídio em Gaza, o lobby sionista sabia bem que conseguiria uma vitória — independente dos fatos em campo.
Protesto contra o genocídio israelense em Gaza em frente à sede do governo britânico, em Londres, em 7 de maio de 2024. No cartaz, junto a um pedido de boicote ao apartheid de Israel: “Gaza e Cisjordânia — Genocídio, destruição e expulsão: uma crise de humanidade” [Wiktor Szymanowicz/Agência Anadolu]

Uma descoberta grotesca foi feita em Gaza em meados de abril. Cerca de 300 corpos de cidadãos palestinos — de homens, mulheres e crianças — exumados de uma vala comum sem qualquer identificação no pátio do Hospital Nasser de Khan Younis.

Mesmo diante dos registros infindáveis de atrocidades de Israel em Gaza nos últimos seis meses — incluindo dezenas de milhares de mortos, na ampla maioria, mulheres e crianças —, esta descoberta se destacou.

Alguns dos corpos foram encontrados com mãos e pés atados, nus, sugerindo fortemente que foram executados durante uma invasão de três meses contra a cidade por soldados da ocupação. Outros foram decapitados e eviscerados — pele e órgãos faltando.

Cerca de dez mil pessoas se abrigavam no segundo maior hospital de Gaza, quando se deu início ao ataque em fevereiro. Na ocasião, relatos surgiram de pacientes e profissionais de saúde sendo baleados por franco-atiradores. O hospital foi deixado em ruínas.

Ao menos 400 pessoas permanecem desaparecidas em Khan Younis. Outras covas comuns devem ser descobertas a qualquer momento.

Sobre alguns dos corpos, Yamen Abu Suleiman, um dos chefes da defesa civil na cidade de Khan Younis, comentou à CNN: “Não sabemos se foram executados ou enterrados vivos. A maioria dos corpos já está decomposta”.

As revelações de Khan Younis se encaixam em um padrão que se confirma sempre que as tropas de Israel deixam uma área. Também em abril, covas coletivas foram encontradas no maior hospital de Gaza, al-Shifa, invadido e destruído por Israel no mês anterior. Juntas, as valas continham centenas de corpos.

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Outras foram descobertas, novamente sem identificação, em Beit Lahiya.

Volker Turk, chefe de direitos humanos das Nações Unidas, declarou-se “horrorizado” com as descobertas.

Onda de indignação

Na década de 1990, a descoberta de valas comuns com milhares de homens muçulmanos da cidade de Srebrenica, na Bósnia, levou ao estabelecimento de uma corte extraordinária para crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional. Em 2001, a corte confirmou que um genocídio ocorrera na Bósnia, perpetrado por forças sérvias. O veredito foi ratificado mais tarde pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).

Diante das circunstâncias, poderíamos esperar que a descoberta de valas com centenas de corpos palestinos tomasse as manchetes de primeira página — sobretudo três meses após o TIJ reconhecer a “plausibilidade” do genocídio cometido por Israel em Gaza, conforme a denúncia da África do Sul. Ainda assim, como muitas atrocidades de Israel, esta foi quase completamente ignorada.

Meses atrás, o establishment de imprensa no Reino Unido perdeu, em boa parte, qualquer interesse em reportar os massacres que persistem em Gaza. A abordagem contrasta com a cobertura sobre a invasão russa na Ucrânia. A descoberta de valas coletivas, com cerca de cem corpos, em Bucha, no subúrbio da capital Kiev, trouxe indignação internacional. Bucha logo se tornou sinônimo da selvageria de Moscou e a descoberta sustentou meses e meses de apelos para que os líderes russos fossem julgados por genocídio.

A indiferença aberta da imprensa britânica para com as valas comuns em Gaza é bastante conveniente, no entanto, a ambos os principais partidos políticos do país. A Grã-Bretanha insiste em obstruir, direta ou indiretamente, um cessar-fogo em Gaza e se recusa a cessar a venda de armas a Israel.

Com base no diz-que-me-diz israelense, Londres cortou os recursos à Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), que melhor se posiciona para confrontar a crise de fome que assola Gaza, imposta deliberadamente pelo cerco de Israel. Ademais, a abstenção britânica nos esforços da ONU para reconhecer devidamente a Palestina como um Estado ajudaram a “legitimar” o veto americano no Conselho de Segurança, ao ignorar o reconhecimento de outras 140 nações.

O Partido Trabalhista, que supostamente disputa a arena política com os conservadores no governo, ofereceu nada mais que uma oposição discreta.

O apoio bipartidário no Reino Unido ao genocídio de Israel — sob investigação em Haia —provocou uma onda de indignação pública, incluindo protestos regulares em Londres que atraem centenas de milhares de pessoas.

Protesto contra o genocídio israelense em Gaza em frente à sede do governo britânico, em Londres, em 7 de maio de 2024 [Wiktor Szymanowicz/Agência Anadolu]

Rumores pró-Israel

Mais uma vez, a imprensa britânica parece menos interessada em reportar as atrocidades israelenses do que imputar motivações malignas a uma enorme parcela do público que se opõe ao que acontece em Gaza.

Neste sentido, é bastante extraordinário que a descoberta de valas comuns no enclave foi quase completamente abafada por uma onda de mentiras bastante nítidas promovida por lobistas coloniais sionistas.

Gideon Falter, diretor executivo da chamada Campanha Contra o Antissemitismo, tenta há meses calar e difamar as marchas pacíficas que tomam Londres, pelo fim dos massacres a homens, mulheres e crianças, desde a deflagração da ofensiva de Israel. Segundo Falter, as centenas de milhares de pessoas que saem pacífica e regularmente às ruas para pedir um cessar-fogo — incluindo numerosos blocos de judeus antissionistas — são “turbas sem lei”, que impõem uma suposta ameaça direta a todos os judeus.

Falter encontrou aliados poderosos no governo. O Ministro do Interior, James Cleverly, por exemplo, disse que os organizadores das manifestações têm “intenção maligna”, após sua antecessora no cargo, Suella Braverman, descrever os atos por cessar-fogo como “marchas do ódio”. Ambos pressionaram a polícia para reprimir e banir os protestos.

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No entanto, não há qualquer evidência real de antissemitismo. De fato, segundo números da própria polícia, cidadãos que atendem ao festival de música de Glastonbury tem quase quatro vezes mais chances de serem presos do que os manifestantes que comparecem às marchas pró-Palestina.

Desta forma, a continuação das manifestações de massa na capital e além se mostrou um verdadeiro motivo de constrangimento tanto ao governo quando à oposição, ao reafirmar sua persistente cumplicidade no que se tornou — com a descoberta das valas comuns — um caso ainda mais nítido de genocídio.

“Atravessando a rua”

É este o contexto para compreendermos a mais recente intervenção de Falter.

Como sabe bem a Polícia Metropolitana, o grupo de Falter, junto de outros militantes pró-Israel, tem todo o intuito e incentivo para manufaturar uma provocação e somar pressão à ideia de que as forças de segurança devem banir os protestos em Londres, isto é, ao atacar um princípio básico das liberdades civis: o direito à manifestação.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra Falter sendo confrontado por policiais em um incidente prévio no qual tentou dirigir uma van repleta de mensagens favoráveis às ações de Israel em direção às marchas. Seu ápice, contudo, veio em abril, quando, escoltado por seguranças treinados em Israel e uma equipe de filmagem, tentou reiteradamente romper a barreira policial junto ao protesto para obstruir seu fluxo. A polícia, na ocasião, preferiu impedi-lo.

Sabemos, porém, que há protocolos impostos pela polícia sobre protestos de massa com uma carga supostamente ideológica — como estes. Os manifestantes não podem sair da rota determinada pela polícia. Seus oponentes — sejam apologistas coloniais, como Falter, ou supremacistas brancos e nacionalistas islamofóbicos — não podem se aproximar para antagonizar a marcha. O trabalho da polícia é separar os lados.

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Impedido pelos agentes públicos, Falter já tinha um roteiro em mãos. O ideólogo sionista insistiu que tinha o direito de “atravessar a rua”, ao destacar sua identidade judaica, para supostamente acessar seus negócios.

Dada a maneira como o discurso público sobre Israel e antissemitismo se manipula de um modo particularmente malicioso pelo establishment britânico — em particular nos últimos oito anos, após o longevo ativista por direitos civis ser eleito líder trabalhista; em seguida, difamado —, Falter não poderia perder a oportunidade. Caso fosse preso, teria um registro em vídeo sendo “vitimizado como judeu” por uma instituição policial “antissemita”. Caso o impedissem de “atravessar a rua”, teria supostas provas de que a marcha estaria lotada de “antissemitas”, que representariam uma ameaça a sua segurança.

Por fim, caso a polícia deixasse de cumprir seu dever e o permitisse antagonizar a marcha, Falter — como qualquer outro que tentasse fazê-lo — seria, no mínimo, empurrado para o lado. Com base na credulidade consolidada pela mídia corporativa no que diz respeito ao antissemitismo, Falter se mostrou confiante de que poderia clamar “crime de ódio”.

Política atroz

A polícia pareceu entender a jogada de Falter, extremamente relutante em prendê-lo. Até mesmo o ex-superintendente-chefe, Dal Babu, reconheceu que, caso tentasse fisicamente romper a barreira, Falter poderia ser indiciado por “agredir um agente público e infringir a paz”. Ao contrário, argumentaram pacientemente com Falter por ao menos 15 minutos, ao apontar as razões — de conhecimento público — pela qual poderia desviar da marcha por uma rota alternativa.

Protesto contra o genocídio israelense em Gaza em frente à sede do governo britânico, em Londres, em 7 de maio de 2024. No cartaz, uma cidadã judia diz: “Basta de assassinatos em nosso nome” [Wiktor Szymanowicz/Agência Anadolu]

No entanto, nesse encontro encenado, sua Campanha Contra o Antissemitismo finalmente obtivera o que tanto queria. Um policial cometeu uma gafe, ao indicar que Falter, vestindo um quipá, seria “claramente judeu”. Como dissemos, muitos judeus compareceram ao ato, sob faixas e cartazes que o indicavam como tais. Apesar de “claramente judeus”, todos eles relataram uma atmosfera de confraternização e boas-vindas.

Podemos compreender o escorregão do policial branco. Apologistas de Israel e a imprensa britânica passaram anos manipulando o discurso público para associar o Estado ocupante, com sua ideologia ultranacionalista colonial sionista, à identidade judaica, em um complô gritante para vilificar Corbyn e seus apoiadores — aberta e historicamente antirracistas — como “antissemitas”.

Deputado Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, participa de protesto contra o genocídio israelense em Gaza em frente à sede do governo britânico, em Londres, em 7 de maio de 2024 [Wiktor Szymanowicz/Agência Anadolu]

O problema nunca foi o fato de que Falter é “claramente judeu”, mas sim seu apoio vocal e eloquente ao supremacismo sionista, ao utilizar desculpas para a execução do genocídio e para demonizar aqueles que ousam se opor ao derramamento de sangue. Não se trata de sua religião ou etnia, mas sim de sua política atroz.

No entanto, com o comentário do policial no bolso de seu casaco, Falter divulgou um vídeo altamente editado do episódio ao establishment de imprensa, bastante predisposta — ao menos a princípio — em engolir duas de suas ideias, absolutamente inverossímeis.

Primeiro, que o comentário seria prova de que a Polícia Metropolitana é particularmente racista contra os judeus, em âmbito institucional, razão pela qual as marchas antigenocídio continuam. Falter não se encanhou em pedir a cabeça do chefe de polícia, Mark Rowley. E segundo, e mais importante, que seria prova de que os protestos são de fato “marchas do ódio”, repletos — como declarou a um entrevistador da rede BBC — “racistas, extremistas e apoiadores do terrorismo”.

Acusações de fraude

Pode até ser fake news, mas a campanha supracitada se encaixa muito bem na agenda que a imprensa corporativa no Ocidente promove há anos: que qualquer crítica a Israel, seja a mais branda, seria prova de antissemitismo.

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A elite política e midiática parece lutar cada vez mais para sustentar essa ideia de maneira crível — sobretudo diante das ações nitidamente genocidas de Israel. O vídeo de Falter, no entanto, serviu brevemente como uma injeção de adrenalina. De um pequeno escorregão verbal de um policial despreparado, Falter conseguiu incendiar o debate que se seguiu, ao acusar a polícia de “conspirar com as marchas do ódio antissemitas”.

Em resposta, a Polícia Metropolitana se apressou docilmente em encontrar Falter, junto de “líderes da comunidade judaica”, aparentemente para receber seus conselhos sobre o que fazer com as marchas.

O noticiário da noite da BBC de domingo reportou suposta pressão crescente à instituição policial “para obter o equilíbrio certo entre protestos legítimos e repressão ao discurso de ódio e à intimidação”. O âncora do programa da manhã deu as boas-vindas a Falter logo na segunda-feira, aceitando sem qualquer reflexão ou réplica sua versão dos fatos.

Todavia, diferente dos anos de acusações espúrias de antissemitismo lançados por Falter e outros para demonizar Corbyn — sob a cumplicidade entusiasmada da imprensa estatal e corporativa —, a Polícia Metropolitana enfim encontrou poderosos aliados, inseridos ao restrito establishment britânico, que porventura a defendessem.

Antes das mentiras de Falter tomarem corpo, a rede Sky publicou um vídeo mais completo do incidente, o qual demonstrou que os policiais bloquearam seu caminho ainda antes de identificá-lo como um provocador. No registro, os policiais pedem para que Falter não seja “desonesto” e que, por obséquio, não “confronte os manifestantes”.

Cartaz instrui como lidar com sabotadores e provocadores em um acampamento de apoio a Gaza na Universidade de Michigan, em Ann Arbor, Estados Unidos, 13 de maio de 2024 [Adam J. Dewey/Agência Anadolu]

Ex-policiais, como Babu, foram convidados à televisão para oferecer uma contranarrativa, que expôs uma imagem muito mais antipática de Gideon Falter.

Na terça-feira, Rowley, chefe da polícia, sentiu-se confiante o bastante para contra-atacar, ao saudar o agente que protagonizou o embate e acusar o grupo de Falter de recorrer a “fraudes” para sabotar as instituições.

Tática favorita

Mesmo ferido, Falter pareceu projetar uma vitória decisiva.

Ninguém está falando — como deveria — do porquê grupos como a Campanha Contra o Antissemitismo, frequentemente flagrados interferido na política nacional, sob interesses de um Estado estrangeiro, são tratados como instituições beneficentes.

Ao contrário, Falter deu à elite política e midiática ainda mais munição para afirmar que as marchar precisam ser banidas, ao impor maior pressão e escrutínio ao processo decisório da polícia. Pouco importa a bravura de Rowly exibida em pública — suas batalhas por trás das cenas contra forças influentes do governo, preocupadas em silenciar as manifestações, serão muito mais complicadas.

Ainda mais importante, a jogada de Falter teve um papel inestimável em amplificar a tática favorita de Israel: desviar atenção dos crimes de guerra — incluindo as valas coletivas em Khan Younis — a problemas alheios à realidade, sobre a segurança da comunidade judaica ou sobre a natureza do movimento antiguerra.

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Precisamente a mesma dinâmica transcorre nos Estados Unidos, onde o establishment — desde o presidente Joe Biden — busca retratar protestos pacíficos nos campi universitários contra o genocídio como supostos viveiros de manifestações de ódio antijudaico. Em solo americano, as coisas parecem ainda mais descontroladas. A polícia logo foi chamada para realizar prisões contra estudantes e professores.

Acampamento de solidariedade a Gaza na Universidade de Michigan, em Ann Arbor, nos Estados Unidos, em 13 de maio de 2024 [Adam J. Dewey/Agência Anadolu]

Em ambos os casos, o debate de verdade — sobre por qual razão Grã-Bretanha e Estados Unidos ainda apoiam ativamente a fome e os bombardeios em Gaza, após sete meses — é novamente abafado pela propaganda de guerra e a campanha de desinformação do lobby colonial sionista.

A imprensa corporativa, mais uma vez, aproveitou qualquer pretexto para olhar à árvore e não à floresta.

Verdade encoberta

É fácil identificar um padrão: o establishment britânico, incluindo o governo e a rede BBC, trabalham de mãos dadas para auxiliar o Estado colonial israelense e seus apologistas do genocídio, em sua cruzada de relações públicas.

Apenas brevemente, quando a honra da polícia — a mão fechada das elites — sentiu um golpe resvalar em seu nariz, houve algum grau de resposta.

Tome, por exemplo, aquele dia em janeiro no qual o tribunal de Haia determinou que os acontecimentos em Gaza podem equivaler a genocídio. Horas depois, Israel sequestrou o noticiário, com um furo sem provas de fabricação própria. O regime israelense alegou que 12 trabalhadores da UNRWA — de um total de 13 mil em Gaza — haviam participado dos ataques do Hamas de 7 de outubro e exigiu de seus parceiros ocidentais que cortassem as doações à agência. O objetivo, em último caso, é eliminá-la e apagar, portanto, os direitos dos refugiados de retorno a suas terras ancestrais, expropriadas mediante limpeza étnica, em 1948, quando se criou o Estado de Israel, da pauta internacional.

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A maioria das capitais ocidentais — como Londres — acatou docilmente, mesmo embora a decisão afogasse Gaza ainda mais em uma epidemia de fome, parte essencial dos planos israelenses para consolidar seu genocídio no território.

O momento do anúncio foi oportuno. A imprensa corporativa e estatal do Ocidente pouco hesitou em concentrar seu foco na narrativa sobre a UNRWA — estatisticamente marginal, mesmo se fosse verdade.

Em termos históricos, o reconhecimento de Haia de que Israel incorre possivelmente em genocídio é muito mais importante. Não obstante, a cobertura sobre o veredito foi quase inteiramente ofuscada pela campanha de desinformação posta por Israel. Meses depois, a Organização das Nações Unidas (ONU), através de um inquérito independente requerido desde então, chefiado pela ex-chanceler francesa Catherine Colonna, revelou que Tel Aviv não produziu quaisquer provas que suportassem as alegações.

Mas assim como as mentiras de Falter, o objetivo do projeto colonial israelense é sempre encobrir a verdade. O método é distrair o público dos fatos.

O mesmo devemos dizer das alegações ainda infundadas de Israel sobre suposta selvageria sem precedentes cometidas por combatentes do Hamas em 7 de outubro, incluindo bebês decapitados e estupros em massa. Nada disso — amplamente regurgitado pela imprensa corporativa e estatal no Ocidente — jamais demonstrou qualquer sinal de prova concreta. Quando supostos testemunhos sofreram escrutínio, logo caíram por terra.

Todas essas alegações, no entanto, servem um propósito: manter o olhar do público sobre supostamente vis trabalhadores humanitários e manifestantes antiguerra, em vez do mal verdadeiro em plena luz do dia, representado na morte de 15 mil crianças, na destruição dos hospitais e nos corpos sem nome nas valas comuns.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês em 26 de abril de 2024 pela rede Middle East Eye.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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