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O que querem os estudantes manifestantes pró-Palestina nas universidades brasileiras?

Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) aderiram à onda de protestos por Gaza, maio de 2024 [Daniela Fajer/Vozes Judaicas por Libertação]

À medida que os protestos pró-Palestina continuam nas universidades dos EUA e da Europa, milhares de estudantes da universidade mais prestigiada da América Latina, a Universidade de São Paulo (USP), juntaram-se ao movimento contra o genocídio de Israel na Faixa de Gaza. Os estudantes brasileiros de diversas faculdades montaram tendas no Edifício de História e Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, hasteando uma bandeira palestina gigante e gritando “Palestina Livre” enquanto clamam por um “cessar-fogo imediato”.

Os protestos dos estudantes da USP estão sendo organizados pelo Comitê Estudantil em Solidariedade ao Povo Palestino da USP (ESPP-USP), bem como pela associação estudantil brasileira e outras organizações populares que manifestam seu apoio dentro e fora do campus universitário.

Os estudantes exigem que a universidade se desfaça das empresas israelenses e daquelas que beneficiam da ocupação israelense da Palestina.

Eles também querem um boicote acadêmico às instituições israelenses com a renúncia aos actuais acordos académicos ou quaisquer outros laços e o fim de todas as relações académicas com instituições israelenses.

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Em particular, pressionam a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP para suspender acordos com a Universidade de Haifa na Palestina ocupada. Também foi elaborada uma petição exigindo que as instituições brasileiras, as universidades e o governo rompam relações com Israel. No que diz respeito aos estudantes que participam nos protestos, os acordos da universidade com universidades e organizações israelenses, como a “Israel Corner”, ajudam a desenvolver a tecnologia utilizada na ofensiva israelense contra os palestinianos em Gaza.

A Federação israelense de São Paulo expressou sua insatisfação com essas manifestações e as vê como discurso de ódio contra os judeus. Tais alegações por parte de Israel e dos seus apoiantes são inteiramente previsíveis.

Um dos participantes no protesto, João Conceição, explicou ao MEMO as reivindicações dos estudantes:

“Exigimos o cancelamento imediato dos sete convênios acadêmicos que a USP assinou com universidades israelenses e com o Consulado de Israel em São Paulo”, disse Conceição. “O presidente Lula e o governo brasileiro precisam romper todas as relações com Israel, sejam elas diplomáticas, militares ou comerciais. A solidariedade com o povo palestino deve estar dentro e fora dos muros da universidade, à luz do genocídio em curso.”

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Ele ressaltou que as manifestações na USP chamam a atenção para o fato de que a tragédia humanitária em Gaza é resultado do genocídio e massacre da Nakba em curso há mais de 76 anos. “Acreditamos que romper relações com Israel é a resposta prática que pode deixar Israel em isolamento internacional como um pária global.”

Segundo Conceição, os governos da América Latina têm feito muito pouco em termos reais, porque, “a maioria deles tem associações directas ou indirectas com entidades sionistas, e estão comprometidos com a burguesia israelense e internacional para defender o que está a acontecer hoje em Gaza.” Ele criticou a postura de Lula. “Ele fala duramente e compara o que acontece na Palestina com o Holocausto, mas as ações no terreno são diferentes.”

O ativista brasileiro e membro do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) do país, Fabio Bosco, disse que as manifestações estudantis são muito importantes para obter o apoio público à Palestina e enviar uma mensagem ao povo palestino de que não está sozinho em sua luta para a libertação.

“Os protestos nas universidades americanas, por exemplo, são muito positivos e estão encurralando o presidente dos EUA, o sionista Joe Biden. Além disso, servem como símbolo de solidariedade e humanidade para o mundo inteiro”, observou Bosco. “Lula da Silva reconheceu que há um genocídio em curso em Gaza e apoiou a acção da África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça, e ainda assim manteve relações diplomáticas com o estado de ocupação e comprou bens militares israelenses.”

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Ele sugeriu que a principal coisa que os países latino-americanos podem oferecer a Gaza é romper as relações económicas e diplomáticas e assim isolar a entidade sionista “criminosa”. “Esperamos que o exemplo dado pelos estudantes de São Paulo inspire estudantes de todo o país e expanda as atividades de solidariedade com o povo palestino dentro dos sindicatos e movimentos sociais.”

Espera-se que os protestos na Universidade de São Paulo sejam os primeiros de muitos no campus da USP e em outras universidades brasileiras a desafiar qualquer promoção relacionada ao regime israelense do apartheid. Os movimentos de solidariedade à Palestina estão crescendo em força nas universidades brasileiras, apesar da presença sionista no Brasil. Ativistas palestinos e brasileiros conseguiram no passado forçar o cancelamento de uma feira com universidades israelenses. Os ativistas esperam conquistar  outros resultados.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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