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Sentindo-se expostos, metade dos israelenses se opõe a retaliação a Teerã

Protesto contra o premiê israelense Benjamin Netanyahu pede eleições antecipadas no país, em Tel Aviv, 24 de fevereiro de 2024 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Uma pesquisa recente confirmou a polarização em Israel sobre a possibilidade de um ataque retaliatório contra o Irã, após disparos inéditos de drones e mísseis iranianos contra o Estado ocupante no último sábado (13), por sua vez, em resposta a um bombardeio israelense ao consulado do país em Damasco, na Síria.

A ação iraniana, que resultou na exposição das localidades de defesa do sistema antimísseis Domo de Ferro e de regimes aliados — incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Jordânia —, é vista, desde então, como um golpe considerável à tão celebrada capacidade de dissuasão de Israel.

Uma pesquisa da Universidade Hebraica de Jerusalém ocupada revelou que 52% dos israelenses se opõem a uma resposta armada, ao aderir, portanto, à tese iraniana de que a questão está concluída. A apreensão contrasta com o apoio predominante sobre as operações em Gaza, apesar dos sucessivos massacres da população civil.

“Todo mundo está de acordo com os objetivos [em Gaza]. Mas vemos um caminho muito diferente no que diz respeito a Teerã”, comentou Nimrod Zeldin, pesquisador da universidade sionista, em entrevista ao Financial Times. “É mais complicado”.

O ex-premiê Ehud Olmert também argumentou que Israel deve exercer comedimento e “paciência estratégica” sobre a possibilidade de retaliação.

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“A questão não é tolerar ou retaliar, mas sim se é algo inteligente fazer isso agora ou no futuro”, declarou Olmert. “O governo [de Benjamin Netanyahu] tem de ter noção suficiente de que não deve ser arrastado a um conflito regional”.

Olmert e outros se preocupam com uma nova escalada. Analistas alertam que Israel falhou em seus objetivos declarados em Gaza: destruir o movimento Hamas e resgatar os prisioneiros de guerra capturados na ação transfronteiriça de 7 de outubro.

Israel sofre ainda uma pressão internacional sem precedentes, mesmo de aliados históricos. O presidente americano Joe Biden — em campanha à reeleição — alegou, por exemplo, que não pretende participar de uma eventual retaliação contra o Irã.

Em visita a Israel, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, confirmou que o regime ocupante está “decidido a agir”, mas declarou ter “esperanças de que o faça de maneira a agravar o menos possível a situação”.

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Ao comentar o ataque israelense à missão iraniana, o ex-premiê britânico admitiu que seu país estaria inclinado a reagir em caso de ataque a uma de suas embaixadas.

A pesquisa reafirma a crise interna e os obstáculos de Netanyahu em como responder a Teerã. Protestos tomam as ruas há semanas por sua renúncia, enquanto grupos extremistas — base de apoio de sua coalizão — insistem na escalada dos conflitos.

Analistas destacam que a aura de invencibilidade de Israel está duramente abalada: primeiro, pela operação do Hamas; agora, pela ação de Teerã.

Sete dos 320 projéteis iranianos cruzaram as defesas, apesar da robusta assistência internacional. O contingente militar iraniano, no entanto, abarca milhares de mísseis, além de um arsenal espalhado pela região na mão de grupos aliados.

Além disso, Teerã permitiu a defesa, ao alertar Estados Unidos e países regionais sobre o ataque com até 72 horas de antecedência.

Os ataques israelenses contra a Faixa de Gaza deixaram 33.899 mortos e 76.664 feridos até então, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados. Dentre as fatalidades, mais de 13.800 são crianças.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, que acatou, em 26 de janeiro, a “plausibilidade” da denúncia sul-africana sobre os crimes perpetrados em Gaza. O processo deve durar anos.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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