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Israel intensifica ataques a Rafah, diplomatas tentam salvar acordo

Palestinos inspecionam carro destruído por ataque israelense em Rafah, no sul de Gaza, em 7 de fevereiro de 2024 [Jehad Alshrafi/Agência Anadolu]

Forças israelenses intensificaram bombardeios à cidade fronteiriça de Rafah, no extremo sul de Gaza, nesta quinta-feira (8), onde mais da metade da população deslocada do território costeiro está abrigada, à medida que diplomatas buscam salvar as negociações de cessar-fogo, após uma veemente recusa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Em um sinal de que a diplomacia continua em tração — diante do maior esforço de Washington desde o início do genocídio israelense em Gaza, há 120 dias — uma delegação sênior do Hamas, liderada por Khalil al-Hayya, chegou ao Cairo nesta quinta, para debater como seguir junto aos principais mediadores regionais, Egito e Catar.

Na tarde de quarta-feira (7), Netanyahu respondeu a uma contraproposta do Hamas, em busca de um processo de cessar-fogo e libertação escalonada de reféns, ao descrever os termos como “delirantes” e prometer continuar os ataques “até a vitória”.

A população civil da Faixa de Gaza, contudo, depende urgentemente de um cessar-fogo, sob um surto de fome e epidemias, à medida que a assistência humanitária continua restrita pelo cerco militar israelense.

Neste entremeio, tropas coloniais avançaram contra Rafah, na fronteira com o Egito, que abriga hoje um milhão de pessoas em tendas provisórias —população cinco vezes maior do que antes da deflagração da guerra.

A negativa israelense, somada à varredura rumo ao extremo sul de Gaza, corrobora os objetivos declarados por diversas lideranças coloniais de que a operação militar busca de fato expulsar os 2.4 milhões de palestinos de Gaza ao deserto do Sinai — o que configura crime de genocídio, via transferência compulsória e limpeza étnica.

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Segundo John Kirby, porta-voz da Casa Branca, sua administração não apoia o avanço israelense a Rafah, ao descrever as implicações como “um desastre”, dada a crise generalizada imposta à população civil.

Não obstante, aviões israelenses bombardearam partes da cidade na manhã de quinta, segundo testemunhos em campo, deixando ao menos 11 mortos em duas residências.

Tanques de guerra também dispararam contra o leste de Rafah, ao alimentar o pânico entre os palestinos de que estão prestes a vivenciar uma nova ofensiva por terra.

Os residentes e refugiados lamentaram seus mortos pelos ataques aéreos contra o bairro de Tel al-Sultan, ao cobrir os corpos com mortalhas brancas. Um cidadão foi registrado carregando o corpo de uma criança pequena em um saco preto.

“De repente, em um piscar de olhos, choveram foguetes sobre crianças, mulheres e idosos. Para quê isso? Por quê? Por causa de um pedido de cessar-fogo?”,

perguntou o morador Mohammed Abu Habib.

Emad (55), pai de seis abrigado em Rafah, expulso de suas terras ao norte, afirmou que o maior medo se refere justamente a uma ofensiva por terra, sem ter para onde ir. “Nossas costas estão contra a cerca de fronteira, nossos rostos contra o Mar Mediterrâneo. Para onde vamos?”

Israel insiste na alegação de que busca reduzir baixas civis, apesar de protestos até mesmo de Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, notório apoiador sionista.

No entanto, bombardeios continuam a atingir escolas, hospitais e abrigos, em franca violação a uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TPI), radicado em Haia, para que evite atos de genocídio e permita o acesso humanitário ao território sitiado.

Entidades internacionais — incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU) e Cruz Vermelha — alertam para uma catástrofe humanitária ainda maior caso o exército da ocupação israelense materialize suas ameaças a Rafah.

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“Vivemos em um lugar destinado aos animais”, reportou Umm Mahdi Hanoon, abrigada em um galinheiro com seus filhos e outras quatro famílias. “Imagine dormir em um galinheiro. Há vezes que desejamos que a manhã nem chegue”.

Diplomacia sob pressão

Apesar da negativa israelense sobre a proposta de cessar-fogo do movimento Hamas, as partes envolvidas planejam manter as conversas.

Blinken novamente viajou ao Oriente Médio nesta semana, para se reunir com oficiais de Israel, Catar, Egito e Autoridade Palestina (ONU). Trata-se de sua quinta turnê na região no período de quatro meses. Embora sem o aval de Tel Aviv, o chanceler americano insiste ainda em ver um espaço para negociações.

Ao reconhecer o alto índice de baixas, Blinken reiterou que as ações israelenses devem priorizar a proteção à população civil. O ministro alegou sugerir meios de minimizar os danos em diálogo com líderes da ocupação; contudo, sem detalhes.

Blinken voltou aos Estados Unidos na tarde de quinta-feira.

A delegação do Hamas no Egito deve agora encontrar-se com diversos oficiais de alto escalão do governo local, incluindo Abbas Kamel, chefe de inteligência e braço direito do presidente Abdel Fattah el-Sisi.

Termos do acordo

 Estados Unidos, Catar e Egito confirmaram receber uma resposta do movimento palestino a um acordo proposto em Paris, incluindo cessar-fogo e troca de prisioneiros.

O Hamas firmou detalhes ao texto, incluindo prazos. A proposta seria estabelecer um plano de três fases, de 45 dias cada, para um cessar-fogo, com a soltura escalonada dos prisioneiros: na primeira fase, mulheres, menores, idosos e doentes; na segunda, homens adultos; na terceira, restos mortais.

O grupo palestino pediu ainda o aumento no fluxo humanitário à população de Gaza, sujeita a fome generalizada e epidemias, sem água, luz ou medicamentos, em meio a um cerco absoluto imposto por Israel.

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Sob a proposta, ao menos 500 caminhões entrariam no enclave diariamente, com remessas de itens básicos e combustível. Além disso, haveria o estabelecimento de 60 mil lares provisórios e 200 mil tendas ainda no primeiro mês.

Na primeira fase, deveria haver o retorno dos deslocados de Gaza a suas residências e garantias de salvo-conduto entre as áreas norte e sul do território costeiro.

Sobre a reconstrução, o Hamas pediu também a aprovação de um plano abrangente voltado à infraestrutura civil, para retomar os serviços públicos e restabelecer a economia de Gaza, com um prazo máximo de três anos.

O Hamas condiciona um acordo de libertação dos prisioneiros de guerra ao fim da ofensiva e à retirada das tropas ocupantes. Israel insiste que sua missão é erradicar o grupo palestino, apesar de analistas militares advertirem que o objetivo não é factível.

 Destruição de morte

 Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há 120 dias, deixando ao menos 27.840 mortos e mais de 67 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.

Na madrugada de quinta, forças israelenses realizaram novos bombardeios a Khan Yunis e Deir-Al-Balah, no centro-sul de Gaza, resultando na morte do jornalista Nafez Abdel-Jawwad, ao lado de seu filho.

Segundo relatos, combates continuam na Cidade de Gaza, após militantes do Hamas aderirem a uma campanha de guerrilha nos escombros que desmentiu as alegações israelenses de concluir sua missão na maior cidade do enclave mediterrâneo.

Philippe Lazzarini, diretor-geral da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), anunciou na rede social X (Twitter) que remessas alimentares fornecidas por sua organização, com destino a populações famintas, foram indeferidas por Israel.

Volker Turk, chefe de Direitos Humanos das Nações Unidas, informou que tratores da ocupação demoliram estruturas civis perto da cerca de fronteira com Gaza, para criar uma zona neutra, o que configura crime de guerra.

Os Estados Unidos confirmaram ciência de que dois palestino-americanos de Gaza foram presos por Israel, sob circunstâncias não reveladas.

Cerca de 85% da população de Gaza foi deslocada pela ofensiva israelense, que destruiu 60% da infraestrutura civil do território, conforme dados das Nações Unidas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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