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Lula de volta do Oriente Médio: laços mais fortes com o mundo árabe. Contradições ambientais também

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do Emir do Catar, Xeque Tamim bin Hamad al-Thani, durante cerimônia oficial de chegada, no Amiri Diwan, Doha - Catar. [Ricardo Stuckert / PR]

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta para casa, após um circuito por três países do Oriente Médio e da atuação na COP28, com pendências que gostaria de ter resolvido e um saldo a comemorar. Nos planos postergados estão o tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, vetado novamente pelo francês Emmanuel Macron,  e a inclusão de um refém brasileiro na troca de prisioneiros pelo Hamas. Quando o assunto foi tratado no Catar, a guerra em Gaza estava entrando em trégua e a conversa com o sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, que mediou trocas  anteriores, parecia mais promissora. Lula chegou a prever que a libertação do brasileiro ocorreria nos dias seguintes com ajuda do mediador. Mas a trégua em Gaza foi interrompida e tudo voltou à um cenário de incerteza e desespero, levantando as vozes da sociedade civil na COP28 em protestos contra Israel.

Esses pendências não diminuiram o balanço positivo do governo brasileiro em relação a seus  objetivos:  ocupar papel de destaque e influência nas principais disputas e articulações internacionais, aumentar o prestígio e os apoios ao Brasil por seus resultados positivos na agenda climática,  e fortalecer os laços e negócios do país com as parcerias no Oriente Médio. Juntas, essas questões enterraram de vez a imagem de pária diplomático com que o Brasil se isolou durante o governo de Jair Bolsonaro, em que colecionava crimes ambientais e rejeição à civilidade.

Lula e o Emir do Catar, o sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, durante encontro em Doha – [Ricardo Stuckert/PR]

Sendo a primeira participação oficial do presidente Lula na Conferência do Clima – ele esteve na Conferência do Cairo, em 2022, mas ainda como candidato eleito,,  esta foi uma viagem cuidada em detalhes pelo Itamaraty. Lula precisaria afirmar sua liderança ambiental e ao mesmo tempo fazer cumprimentos calorosos a poluidores, tratar de transição para a energia limpa e firmar acordos com seus pares produtores de petróleo, falar alto contra a guerra em Gaza, mas passar pelo desconforto de posar ao lado do presidente de Israel, Isaac Herzog, enquanto milhares morrem por suas bombas em Gaza.

Na volta ao Brasil, após um acordo de boas intenções energéticas com a Alemanha, o governo contabiliza acertos e procura driblar as contradições.

A voz da floresta na COP

Lula falou abertura da COP28, enfatizando a forte reversão na tendência ao desmatamento da Amazônia que marcou o governo de Jair Bolsonaro. Nos primeiros dez meses de 2023, o índice caiu quase à metade ( 48,9%). Também deu segurança à fala do brasileiro o fato de contar com a maior parte de sua matriz energética baseada em energia limpa.

O Brasil teve uma série de pontos positivos a mostrar na COP 28, onde chegou com agenda cheia. Na sexta-feira (1º) e no sábado (2), o presidente cumpriu sete agendas bilaterais além dos discursos na conferência, tendo sido  convidado a discursar na abertura da cúpula de líderes,  logo após a fala do secretário-geral da ONU, António Guterres.

LEIA: ‘A era de hoje não deve ser de guerra’ diz G20, enquanto Brasil cobra dívida ambiental

A tônica do discurso foi a cobrança do engajamento dos países ricos, a defesa de menor dependência de combustíveis fósseis no mundo, e a adoção de energias renováveis. Lula assegurou que o desmatamento ilegal na Amazônia brasileira estará zerado até 2030 e assinou acordo com 117 países para triplicar a capacidade global de produção de energia renovável até aquele ano.

Em seu alerta mais grave,  Lula expôs o risco de não retorno na degradação da Amazônia, que passa por destruição acelerada e pode entrar em processo de savanização se os países poluidores não acordarem para sua responsabilidade e os ricos não ajudarem a financiar os países que estão salvando o planeta.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e a ministra Marina Silva, durante a sessão de abertura da Presidência da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), na Expo City Dubai – Teatro Al Waha. Dubai – Emirados Árabes Unidos. Em 01.12.2023 [Ricardo Stuckert / PR]

O Brasil vem “mais para cobrar do que ser cobrado”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, sobre a postura do país na  Conferência Climática da ONU, a COP28, em Dubai.

Convidado a falar no  Painel sobre Proteção Florestal, Lula deu a palavra à ministra Marina Silva, rendeu-lhe homenagem, e afirmou ser a primeira conferência do clima em que “as florestas falam por si”.

Marina Silva reforçou a  proposta do Brasil de que países com fundos soberanos coloquem recursos em um fundo criado para garantir a conservação das florestas tropicais. A ministra brasileira cobrou ajuda de todos os setores da sociedade para preservação ambiental e disse que as coisas não são separadas. “Proteger florestas é proteger o equilíbrio do planeta e dos oceanos”, afirmou, e convocou o mundo a   “tirar o pé no acelerador dos combustíveis fósseis num contexto geopolítico que não é fácil”.

LEIA: Lula: mudança climática e desigualdade são principais desafios globais

Entre as medidas que o governo apresentou no evento em Dubai, de acordo com o Planalto, estão a de remunerar a proteção das florestas, para que o mundo pague os países que mantêm as florestas em pé; o Plano de Transformação Ecológica, com ações para finanças sustentáveis, transição energética, bioeconomia e de infraestrutura e adaptação à mudança do clima; e o recém-lançado programa para recuperação de pastagens degradadas, com previsão de recuperar 40 milhões de hectares de pastagem em até 15 anos. O governo ainda destacou a retomada e ampliação do Fundo Amazônia e do Fundo Clima.

O fundo de perdas e danos ja foi aprovado no primeiro dia. Inicialmente, previa-se um aporte  de US$ 420 milhões, mas os dias dias seguintes reforçaram as entradas e, de acordo com os números divulgados pela COP 28 até a segunda-feira, 4 de dezembro, já estava em US$ 720 milhões.

O desempenho de Lula passou por momentos de críticas de ambientalistas.  Um deles ocorreu ao receber – e aceitar – o convite para entrada como país observador na OPEP+ , enquanto o vizinho  latino-americano, Gustavo Petro, da Colômbia, assinava o Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis. ,

A moderação de Lula na terra dos senhores do petróleo, no entanto, foi de caso pensado. O Brasil tem interesse nos investimentos árabes, que também querem investir no paĩs. O Brasil é importante produtor de petróleo, tem orgulho pela tecnologia para extração do pré-sal e não abre mão da chance de explorar petróleo na margem equatorial brasileira.

Mais perto dos ricos do petróleo

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia oficial de chegada. Palácio Real Al Yamamah, Riad – Arabia Saudita. Em 28.11.2023 [Ricardo Stuckert / PR]

O circuito da delegação brasileira pelo Oriente Médio começou no dia 28, terça-feira, com a chegada à Riad, capital da Arábaia Saudita.. Nas redes sociais, Lula afirmou que a intenção era  “apresentar projetos de investimento no Brasil e aumentar as relações comerciais e de parceria entre nossos países nos setores de energia, agricultura e também na indústria”.

Com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro Mohamed bin Salman, filho do rei Salman bin Abdulaziz al-Saud, Lula  discutiu investimentos da ordem de US$ 10 bilhões do Fundo Soberano Saudita no Brasil,  em  projetos em energia limpa, hidrogênio verde, defesa, ciência, tecnologia, agropecuária e infraestrutura ligada ao Novo PAC. Os dois governantes se comprometeram em aumentar as transações comerciais de US$ 8 bilhões para US$ 20 bilhões até 2030.

Após o encontro com o  príncipe MbS, Lula voltou a postar nas redes: “Conversamos sobre investimentos sauditas no Brasil em diversos setores e sobre o potencial de exportações brasileiras”

Ainda em Riad, em Mesa Redonda Brasil-Arábia Saudita promovida pela Apex com empresários dos dois países na quarta-feira,  Lula disse que o Brasil vai ser “a Arábia Saudita da energia verde” . Outra agenda de negócios foi o Seminário Embraer, onde foram assinados três memorandos de cooperação nas áreas de aviação civil, defesa, segurança e mobilidade aérea urbana para empresas públicas e privadas.

Reunião ampliada com o Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, no Palácio Real Al Yamamah. Riade – Arabia Saudita. Em 28.11.2023 [Ricardo Stuckert / PR]

A passagem pela Arábia Saudita rendeu um convite ao Brasil para entrada, sem direito a voto,  na Opep+, grupo que reúne dez países produtores de petróleo e   tem poder de influenciar o preço dos barris de petróleo. São membros regulares da Opep Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Venezuela, Argélia, Angola, Congo, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné Equatorial, Líbia e Nigéria.

No Fórum Econômico Brasil – Catar

Na quinta-feira (30), Lula discursou na abertura do Fórum Econômico Brasil – Catar: Oportunidades e Negócios, em Doha, capital do Catar, e prometeu que “o Brasil vai ser em breve um exportador de sustentabilidade. Temos imenso potencial nos setores de energia solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio verde”.

Lula afirmou que o Catar é, atualmente, uma de principais portas de entrada para negócios do Brasil com o Oriente Médio e afirmou que o comércio bilateral entre os dois países “cresceu de maneira exponencial, passando de cerca de 38 milhões de dólares em 2003 para os atuais 1,6 bilhão de dólares”.

Conforme informação do governo brasileiro,  Lula  reforçou o interesse do país em “estreitar relações comerciais com os catarianos ao mesmo tempo em que espera que o país do Oriente Médio diversifique sua pauta de investimentos no Brasil”. Ele mencionou “produtos de maior valor agregado, como autopeças, produtos de defesa e aeronaves da Embraer”

Aos empresários, o presidente brasileiro informou que está implementando um sistema eletrônico de validação e assinatura de documentos para operações de comércio bilateral. O sistema já está em vigor no comércio do Brasil  com o Egito e a Jordânia e, conforme disse Lula, tem potencial de reduzir os prazos e os custos das transações comerciais entre o Brasil e o Catar.

Rios secos e inundações, o Brasil que foi à COP 28

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Secretário-Geral da ONU, António Guterres. Na foto (da esquerda para a direita): Presidente do Senado, Senador Rodrigo Pacheco, Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Secretário-Geral da ONU, António Guterres e a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em 01.12.2023 [ Ricardo Stuckert /PR]

 O Brasil será anfitrião da COP30, na Amazônia, e chegou à COP com razões de sobra para cobrar atenção aos desastres climáticos que têm açoitado o país.  Desde outubro de 2021 foram registrados, oficialmente, 11 desastres causados por temporais no país e quase 500 pessoas morreram. Durante a viagem da delegação brasileira, as serviços de defesa civil dos Estados do sul ainda lidavam com o rescaldo das inundações que afundaram casas e estradas e deixaram milhares de desabrigados no mês de novembro. O calor extremo bateu recordes de altas temperaturas e ocorrências inimagináveis, como o leito do rio Negro  à mostra e milhares de peixes e animais ribeirinhos  perecendo pela seca, reforçaram o sentido de alerta e pedido de socorro do Brasil na COP28.

LEIA: Projeção ambiental do Brasil ajudará o país a ser ator global em outras áreas geopolíticas

Além do esforço em reverter o desmatamento na Amazônia – e zerã-lo até 2030, o bioma cerrado é outra preocupação.  A região abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas, das quais todo país depende, Mas o desmate aumentou 34% entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período do ano anterior.

Lula levou à COP28 um programa para recuperar terras cultiváveis degradadas e improdutivas, para  expandir sua área agrícola dos atuai 65 milhões de hectares para 105 milhões, sem desmatar. Precisa, para isso, investir cerca de 120 bilhões de dólares em uma década. Mas principalmente o Brasil pediu a  criação de um fundo internacional através do qual os países poluidores remunerem a preservação de florestas tropicais em cerca de 80 países.

Com as medidas que vem tomando, o  Brasil é um dos poucos países com chances, ainda que remotas, de cumprir suas metas do Acordo de Paris até 2030,. Mas para chegar lá, terá de cortar suas emissões em 480 milhões de toneladas de CO2, que parece mais difícil.

Presidência do G20 

Na sexta-feira (1º), ainda durante a COP28, o Brasil  assumiu aa presidência rotativa do G20, bloco reúne os países com as maiores economias do mundo, além da União Europeia e a União Africana. Durante um ano terá 120 encontros internacionais pelo Brasil,começando em 11 de dezembro deste ano e encerrando com a 19º Cúpula do G20, marcada para 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.

No país sede da COP28, Lula usou de sua prerrogativa como novo presidente para convidar oito países árabes – Emirados Árabes e Egito -, dois lusófonos (Portugal e Angola) . além de Nigéria, Noruega, Singapura e Espanha (que é convidada permanente) participar da cúpula do G20 em 2024.

O G20 sob Lula pretende conectcar a luta ambiental e a social, com o tema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável“, aproximando lideranças internacionais das cidades brasileiras e mantendo o Brasil no topo das discussões mundiais. O G20 será a oportunidade de ouro para o Brasil destacar suas principais estratégias em relações internacionais. Uma é retomar em nível mundial a campanha contra a fome que marcou com sucesso seus dois primeiros mandatos como presidente do Brasil. A proposta é lançar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, buscando o compromisso das economias mais ricas do mundo com as quais se reunirá no G20.

O G20 também será estratégico para o país dar seguimento ao trabalho que vem fazendo para liderar ações para reversão da mudança climática. Para isso, deve lançar uma  Força Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima e a Iniciativa para Bioeconomia. O embaixador Mauricio Lyrio, chefe negociador do país no G20. vê oportunidade e urgência em avançar a partir das economias ricas, uma vez que o aquecimento do planeta  “não é mais uma especulação, como os negacionistas diziam”, mas está presente e causando problemas econômicos e sociais graves, “Financiamento é fundamental e os países precisam desembolsar”, acrescentou.

LEIA: “Mundo normalizou o inaceitável”, critica Lula sobre desigualdade

Outra ambição do presidente Brasileiro é impulsionar a reforma da ONU, do seu Conselho de Segurança e das instituições internacionais seriamente ameaçadas pelo avanço da extrema direita no mundo e fragilizadas pelo direito de veto e poder de obstrução financeira das principais potências. Para o Planalto, o G20 no Brasil em 2024 será uma oportunidade de redefinir as relações internacionais em um contexto mais inclusivo e participativo. 13 cidades serão sedes dos encontros internacionais durante o ano.

Brasil na Opep+ 

No sábado, 2/12, Lula anunciou ter aceitado o convite para a entrada do Brasil na Opep+, feito em Riad. “Eu acho importante a gente participar porque precisamos convencer os países produtores de petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis.”

O discurso não foi bem aceito por ambientalistas. Foi motivo de alarme, também uma declaração do dirigente da Petrobras,  Jean Paul Prates, afirmando que a empresa pretende abrir uma subsidiária no Oriente Médio, a Petrobras Arábia. Lula desmentiu o executivo. “Não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui. Como a cabeça dele (Prates)  é muito fértil, e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1 e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, preciso aprender o que é isso que ele vai fazer” , ironizou.

Após a confusão, o governo  afirmou que a subsidiária não seria voltada para exploração de petróleo na região, mas para atuar de forma integrada com países do Oriente Médio na área de insumos para fertilizantes. Lula mencionou a possibilidade de investimentos cruzados entre a Petrobras e a Arábia Saudita nessa área.

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e o maior importador mundial desses insumos, para suprir as demandas do agronegócio, em um momento em que o mercado sofre o impacto da guerra na Ucrânia, que afetou a exportação da Rússia,  um dos maiores exportadores mundiais de fertilizantes.

Nada disso, porém, diminuiu a frustração dos ambientalistas, que contam com uma liderança forte de Lula para ajudar e acelerar mudanças que livrem o mundo da catástrofe climática.

Israel, encontro fora da agenda.

Lula em Dubai teve vários encontros bilaterais, por exemplo com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki, e o primeiro-ministro da República Democrática da Etiópia, Abiy Ahmed Ali. Mas acabou se reunindo também com o presidente de Israel, Isaac Herzog, em um momento em que suas críticas ao Estado de Ocupação têm aumentado devido à guerra em Gaza.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Presidente do Estado de Israel, Isaac Herzog, na Expo City Dubai – Plenária Al Hairat. Dubai – Emirados Árabes Unidos. Em 01.12.2023. [Ricardo Stuckert / PR]

O encontro aparentemente arranjado de última hora e assessorado por Jacques Wagner  mostrou o brasileiro com cara de poucos amigos ao posar para a foto. A justificativa oficial era o pedido de ajuda para a liberação de outros brasileiros. Em nenhum momento, o nome de Islam Hamed, brasileiro palestino preso desde a adolescência por Israel, foi mencionado nas declarações após o encontro.

LEIA: O resgate que falta para o Brasil: Islam Hamed, brasileiro palestino que desapareceu nas prisões de Israel

A sequência dessa reunião mostrou Lula sem meias palavras dizendo que o que se passa em Gaza é genocídio. Apanhou das entidades sionistas. Em outros vídeos responsabiliza o Hamas por ter acendido o pavio com o ataque de 7 de novembro, frustrando os solidários com a Palestina.

A menor radicalização de Lula tornou mais potente na Conferência do clima a fala do presidente da Colômbia, Gustavo Petro que conseguiu, com maestria, mostrar que a situação de Gaza é termômetro do que virá com a mudança climática, se ambas as coisas não forem resolvidas agora.

Petro, antes, já havia chamado de volta seu embaixador, liderando um grupo de países na América Latina que fizeram o mesmo.  Ele apontou o dedo para os países do norte e os acusou de se preocupar apenas com seu consumo de carbono e  fechar os olhos para o massacre da Palestina porque é isso que eles também  farão quando os imigrantes do sul baterem às suas portas em busca de água potável das geleiras derretidas.  Petro associou o avanço da extrema direita genocida no mundo com a volta do nazismo. “Hitler já está batendo às portas dos lares de classe média dos países do Norte, e alguns já os deixaram entrar” – disse.

O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro e o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante primeira Sessão do Segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e de Governo, na Expo City Dubai – Plenária Al Hairat. Dubai – Emirados Árabes Unidos. Em 01.12.2023 [Ricardo Stuckert / PR]

Embora se projete como uma liderança mais rebelde, capaz de pressionar por uma agenda diferenciada na América Latina, sua trilha não compete com a escolhida por Lula, de tornar-se interlocutor de igual para igual com os poderosos do mundo nas questões geopolíticas. E de responsabilizar os que se recusam a negociar. Ele acusa os Estados Unidos por ter vetado um cessar-fogo humanitário em Gaza enquanto era tempo de evitar tanta matança. Assim como acusa o frances Emmanuel Macron de ter recusado o acordo do Mercosul por não querer fazer concessões. Lula quer reformar a ONU para salvá-la do desmoronamento  a olhos vistos dos instrumentos moderadores criados pela comunidade internacional e que são alvo dos ataques dos que miram as democracias.

Quanto a Israel, tudo que o Estado de Netanyahu tem feito em Gaza vai contra qualquer discurso humanitário de Lula, que está demorando em se levantar e tomar atitudes concretas em defesa dos palestinos e condenação de Israel. Em longa entrevista à Al Jazeera, Lula criticou fortemente a supremacia do investimento militar no mundo em detrimento da luta contra a fome e pela paz. No entanto, até agora, não rompeu com os acordos militares do Brasil com Israel, que ajudam a financiar o terrorismo israelense contra o povo de Gaza.

A Conferência da ONU vai até dia 12, quando o GST (Global Stocktake) fará um balanço dos avanços das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. O presidente já está no Brasil, recebendo chefes de Estado que chegaram para o encontro do Mercosul, que ele considera mais um espaço estratégico de coordenação para temas globais.”

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