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‘A era de hoje não deve ser de guerra’ diz G20, enquanto Brasil cobra dívida ambiental

Lula na cúpula do G20, na Índia. Foto: Ricardo Stuckert - PR
Lula na cúpula do G20, na Índia.[Ricardo Stuckert - PR]

Com declaração fechada um dia antes do final do encontro, líderes das maiores economias do mundo, reunidos na cúpula do G20, neste fim de semana em Nova Déli, na Índia, afirmaram que “o uso ou ameaça de uso de armas nucleares é inadmissível”. Nisso, sintonizou-se com a cobrança por uma declaração que coloque a guerra Russia-Ucrânia como preocupação e ameaça global. Mesmo que um consenso parecesse difícil, o documento afinal saiu.  Mas  não no tom do  encontro anterior, realizado em Bali, na Indonésia, quando o G20  cobrou a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.

A posição de agora é mais consistente com o que tem defendido o presidente brasileiro,  Luiz Inácio Lula da Silva, de que  “todos os Estados devem abster-se da ameaça do uso da força ou de buscar a aquisição territorial contra a integridade territorial e a soberania ou a independência política de qualquer Estado” , mas sem dizer com isso que a Ucrânia precisa vencer a guerra.

“ Saudaremos todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiam uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia, que defenderá todos os Propósitos e Princípios da Carta das Nações Unidas para a promoção de relações pacíficas, amigáveis e de boa vizinhança entre as nações no espírito de ‘Uma Terra, Uma Família, Um Futuro’” – slogan do encontro deste ano.  “A era de hoje não deve ser de guerra”, diz o documento que irritou o presidente da Ucrânia, para quem o G20 não tinha nada a propor.  Na verdade tem, mas não está focado nos interesses da OTAN, ou da Russia contra a OTAN, disputados no solo ucraniano.

Para o Brasil, que assume a presidência do  G20 em dezembro, a reunião dos países mais ricos é motivo de outra cobrança – a divída deles para com um planeta em colapso. “Quem mais contribuiu historicamente para o aquecimento global deve arcar com os maiores custos de combatê-la. Esta é uma dívida acumulada ao longo de dois séculos”, disse Lula. Mas no negócio da guerra que alimenta economias baseadas na indústria armamentista, as reservas do mundo escoam pelo ralo. Lula lembrou que, no ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas, uma montanha de dinheiro que poderia ter usos menos selvagens, e ele citou desenvolvimento sustentável e a ação climática.

O espirito brasileiro durante o encontro do  G20 esteve mergulhado na tragédia das cidades alagadas do Rio Grande do Sul, e nos riscos de novas catástrofes climáticas pelo país.  Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis, alertou o Brasil.

O G20 foi uma oportunidade de lembrar que os efeitos da mudança do clima não são sentidos por todos da mesma forma.  “São os mais pobres, mulheres, ‘ndígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados. De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o Sul Global”. E continam sendo.

Desde a COP de Copenhague, os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento.Essa promessa, lamenta o Brasil,m nunca foi cumprida.

 

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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