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Jornal de Harvard censura artigo sobre genocídio israelense em Gaza

Universidade de Harvard em Boston, EUA [Getty Images]

O prestigiado Harvard Law Review (HLR), periódico acadêmico da universidade americana, decidiu censurar a publicação de um artigo que examina o quadro legal sobre a Nakba em curso, executada por Israel contra os palestinos, sobretudo em Gaza.

Nakba — ou “catástrofe” — é o termo em árabe adotado pelos palestinos para descrever a limpeza étnica desde 1948 a partir da criação do Estado de Israel, via expulsão e extermínio em massa da população nativa na Palestina histórica.

De autoria de Rabea Eghbariah, advogado palestino de direitos humanos e doutorando de Direito em Harvard, a peça havia superado a revisão editorial e estava perto da publicação quando o presidente do jornal interveio.

Em e-mail citado por uma recente reportagem do Intercept, o editor Tascha Shahriari-Parsa revelou que o presidente bloqueou a publicação devido a receios de eventual “oposição ou ofensa devido ao artigo”; em outras palavras, assédio e perseguição no campus perpetrado por grupos pró-Israel.

No sábado (18), após vários dias de debate e uma reunião de quase seis horas, o conselho editorial do HLS se reuniu para votar sobre a publicação, informou o The Nation.

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O artigo foi rejeitado por 63% dos votantes. Embora nenhuma razão tenha sido divulgada, os fatos falam por si: o discurso crítico sobre o sofrimento palestino permanece tabu.

Em declaração conjunta, vinte e cinco editores manifestaram receios de intimidação pública governando as decisões editoriais da universidade, que alegam buscar a verdade e proteger a liberdade acadêmica.

“Em um momento em que se enfrenta uma campanha pública de intimidação e assédio, a liderança da revista interveio para impedir a publicação”, advertiu o comunicado. “O corpo de editores — nenhum dos quais é palestino — votou em apoio à esta decisão. Não temos conhecimento de nenhuma outra peça solicitada que tenha sido revogada dessa maneira.”

O The Nation publicou o artigo rejeitado pela Harvard Law Review.

O texto argumenta que a violência e a crise humanitária que incorre sobre Gaza devem ser reconhecidas como genocídio, conforme evidências de que Israel busca exterminar o povo palestino no todo ou em parte do território; portanto, atendendo à definição de genocídio da Organização das Nações Unidas (ONU).

O autor menciona diversas declarações de autoridades israelenses, bem como as condições materiais impostas aos palestinos, para demonstrar dolo e resultado genocida.

O texto confirma ainda que o bloqueio militar a Gaza e o assassinato em massa de civis podem plausivelmente constituir genocídio sob o direito internacional.

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Além disso, condena a recusa de instituições ocidentais, incluindo juristas e redes da mídia corporativa, em reconhecer a realidade do genocídio devido à aplicação seletiva do direito internacional, ao observar que os palestinos são desumanizados e marginalizados sob uma estrutura institucional e retórica de natureza colonial.

O autor reforça ainda que o Nakba em curso tem como objetivo declarado exterminar os palestinos política e fisicamente de suas terras e conclui que, assim como conceitos como genocídio e apartheid foram codificados pelo direito internacional após a Segunda Guerra Mundial, a experiência palestina merece reconhecimento para que se obtenha paz e justiça.

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