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O que está por trás do mais recente apelo de Israel por assassinatos seletivos?

O ex-primeiro-ministro israelense e líder da oposição Yair Lapid em 12 de junho de 2023 [Menahem Kahana/AFP via Getty Images]

Três dias após a Operação Tempestade de Al-Aqsa, Israel anunciou o assassinato seletivo de dois altos funcionários do Hamas, Jawad Abu Shmala e Zakaria Abu Muammar, que eram responsáveis pelas finanças e relações internas, respectivamente. Ontem, o líder da oposição israelense, Yair Lapid, anunciou seu apoio à eliminação da liderança do Hamas por meio de assassinatos seletivos, nomeando seis oficiais como alvos.

“O Estado de Israel não deve parar e não deve desistir até matarmos seis pessoas: Yahya Sinwar, Mohammed Deif, Ismail Haniyeh, Saleh Al-Arouri, Khaled Meshal e Marwan Issa”, afirmou Lapid durante a reunião semanal do Yesh Atid. “O Estado de Israel precisa capturá-los, onde quer que estejam. Seja em Gaza ou em outros países, não importa.”

Não é a primeira vez que políticos israelenses pedem a retomada dos assassinatos seletivos. Em junho deste ano, o ministro da Segurança de extrema direita, Itamar Ben-Gvir, também pediu explicitamente assassinatos seletivos, considerando-os uma necessidade.

A comunidade internacional permaneceu em silêncio sobre os assassinatos seletivos de Israel, mesmo quando foram realizados em países estrangeiros. No contexto atual, Lapid está expondo o fato de que a agressão selvagem de Israel contra Gaza é, em grande parte, um fracasso em termos do que se pretende alcançar: a destruição do Hamas. O plano israelense de aniquilar Gaza não está, é claro, apenas ligado ao Hamas. Uma reencenação contemporânea dos horrores da Nakba – deslocar ou matar mais de dois milhões de palestinos em Gaza em um período de tempo tão curto – equivale a uma limpeza étnica. O Hamas é apenas a desculpa que Israel está usando para justificar seu genocídio em Gaza.

Aqui vc vai ver  que cortei uma citação que tem no memo inglês porque não está na matéria e não tem quem diz a frase

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Se a comunidade internacional não estivesse tão comprometida com a falsa narrativa de segurança de Israel, a estrutura dos assassinatos direcionados do Estado do apartheid seria percebida de forma diferente. Israel recebe mais de US$ 3 bilhões por ano do governo dos EUA para sustentar seu empreendimento colonial em terras palestinas roubadas. Os EUA também lhe concederam uma vantagem militar qualitativa, garantindo assim sua capacidade de derrotar qualquer possível ameaça à sua segurança. Se a liderança do Hamas for erradicada por meio de assassinatos seletivos, outros assumirão as posições de liderança. Embora Lapid possa pontificar contra o Hamas, como fizeram outros políticos israelenses antes dele – o ex-ministro da Defesa Benny Gantz é um exemplo disso – a questão real é que a narrativa de segurança de Israel enfrenta um risco genuíno de fratura agora, e os políticos israelenses estão lutando para mantê-la em seu pedestal.

Com essa oportunidade, a comunidade internacional deveria passar de resoluções não vinculantes para responsabilizar Israel por sua violência colonial contra os palestinos. A “autodefesa” contra pessoas sob ocupação não tem base legal no direito internacional. De qualquer forma, Gaza não deveria ser sinônimo de Hamas no discurso político; essa é a narrativa colonial israelense, que nunca admitirá que o enclave contém uma população majoritariamente de refugiados com fortes lembranças da Nakba de 1948. Os assassinatos direcionados apenas confirmam até que ponto a narrativa de segurança e autodefesa de Israel pode ser manipulada. Depois de permitir que o mundo inteiro testemunhe do que é capaz em termos de destruição, a comunidade internacional deveria avaliar bem seu apoio a Israel, uma entidade colonial que não se detém diante de nada para matar a fim de salvar sua supremacia militar como hegemonia regional autoproclamada.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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