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Com abraço, Netanyahu celebra Biden por visitar Israel em ‘tempos de guerra’

Presidente dos EUA Joe Biden abraça o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, em 18 de outubro de 2023 [Reprodução/Agência Anadolu]
Presidente dos EUA Joe Biden abraça o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, em 18 de outubro de 2023 [Reprodução/Agência Anadolu]

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enalteceu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, como primeiro incumbente americano a visitar Israel em “tempos de guerra”, após o político democrata pousar em Tel Aviv na manhã desta quarta-feira (18).

Segundo o jornal Times of Israel, Netanyahu o recebeu com um abraço.

Biden planeja se encontrar com líderes coloniais para reafirmar seu apoio aos bombardeios perpetrados contra a Faixa de Gaza — denunciados como punição coletiva, crime de guerra e genocídio conforme a lei internacional.

Logo ao chegar, Biden ecoou a desinformação israelense e a propaganda de guerra ao negar a responsabilidade das tropas coloniais sobre um massacre que deixou mais de 500 mortos no Hospital Baptista al-Ahli, na Cidade de Gaza, na noite de terça-feira (17).

“Baseado no que vi, parece que foi feito pelo outro lado”, alegou o presidente americano, sem qualquer evidência.

Biden chegou a alegar que o Hamas — partido político que moderou-se ao longo dos anos, incluindo por meio de esforços diplomáticos internacionais — seria pior que o movimento terrorista Estado Islâmico (Daesh), segundo o jornal The Guardian.

O líder americano adota o rótulo de “terrorismo” ao descrever a Operação Tempestade de Al-Aqsa, campanha de resistência que pegou Israel de surpresa ao atravessar a fronteira e capturar colonos e soldados como prisioneiros de guerra, em 7 de outubro.

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A ação decorreu de meses de escalada da violência colonial em Jerusalém e na Cisjordânia, além de 17 anos de cerco militar contra Gaza. A lei internacional reconhece o direito à resistência à ocupação e colonização como legítimo — incluindo a resistência armada.

Netanyahu exaltou a visita de Biden como “profundamente comovente” e agradeceu o apoio de Washington “hoje, amanhã e sempre”.

Em declaração que contrapõe o direito reconhecido internacionalmente ao estabelecimento de um Estado palestino, Netanyahu afirmou ao chefe da Casa Branca: “Seu apoio expressa o tamanho de seu compromisso pessoal ao futuro do único e exclusivo Estado judeu”.

Biden e Netanyahu mantinham relações distantes até então, sobretudo devido à proposta do líder israelense de reforma judicial, ao remover poderes da Suprema Corte em favor do executivo, sob acusações de golpe e meses de protestos de massa em Israel.

O presidente americano também sofre críticas internas às vésperas de um possivelmente conturbado ano eleitoral nos Estados Unidos.

Na segunda-feira (16), ativistas judeus antissionistas obstruíram o acesso à Casa Branca, ao reivindicar de Biden que pressione por um cessar-fogo — palavra censurada pela Secretária de Estado, conforme memorando encaminhado às embaixadas.

No mesmo dia, Janet Yellen, secretária do Tesouro da gestão Biden, alegou à rede Sky News que seu país “certamente” pode arcar com “duas guerras”, em alusão ao conflito na Ucrânia e o apoio incondicional do Pentágono a Israel.

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Suas declarações foram condenadas por concidadãos progressistas, que reafirmam que os Estados Unidos passam por uma crise social sem precedentes, à medida que Biden protela promessas de campanha por investimentos federais em educação, saúde e habitação.

Desinformação e propaganda de guerra

Não é a primeira vez que Biden repete as mentiras difundidas pelo aparato militar de Israel. O líder democrata afirmou na semana passada ter visto imagens de “bebês degolados” pelo movimento Hamas, durante uma operação de resistência que cruzou a fronteira, no sábado, 7 de outubro. As imagens não existiam.

Os rumores foram desmentidos por jornalistas em campo que confirmaram não haver indícios de tais atrocidades. O exército da ocupação recusou-se a confirmar os relatos.

Biden jamais se retratou.

O discurso racista empregue por Biden e pela imprensa corporativa americana resultou na morte de um menino palestino-americano de seis anos na cidade de Chicago, assassinado com 26 facadas pelo locatário de seu apartamento.

Há alertas de aumento nos crimes de ódio contra palestinos, árabes e muçulmanos em solo americano, em uma situação que parece reprisar as decorrências da propaganda de guerra adotada para justificar a invasão ao Iraque, no início do século XXI.

Nesta terça-feira, enquanto Biden estava a bordo da aeronave presidencial Força Aérea Um, um ataque aéreo israelense atingiu o Hospital Baptista no 11° dia de bombardeios intensos aos 2.4 milhões de civis em Gaza, incluindo a clínicas, escolas, casas e abrigos.

O Hamas descreveu o bombardeio israelense ao centro médico como “ato de genocídio”. A Autoridade Palestina (AP) rechaçou o incidente como “massacre”, em rara convergência de discurso entre tradicionais adversários políticos no cenário nacional palestino.

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Logo após o ataque, Israel aventou a versão de que a explosão decorreu de um foguete disparado pela resistência palestina. A escala da destruição e registros de vídeo, porém, demonstram o contrário, com elementos característicos da tecnologia bélica israelense.

Hananya Naftali, assessor de Netanyahu, chegou a vangloriar-se do ataque na rede social X (Twitter): “A Força Aérea de Israel atingiu uma base terrorista do Hamas [sic] dentro de um hospital em Gaza. Diversos terroristas mortos [sic]”. Mais tarde, apagou a postagem.

Antes de atacar o hospital, Israel instruiu sua evacuação, apesar de alertas internacionais de que a transferência de pacientes que dependem de suporte para sobreviver — como bebês recém-nascidos e pacientes de diálise e quimioterapia — não é possível.

Para “provar” a versão das tropas ocupantes, apologistas de guerra recorreram a um vídeo transmitido uma hora antes do ataque, às 18h59 do horário local —, embora o bombardeio tenha ocorrido às 19h50. Uma investigação da rede Al Jazeera identificou o momento exato do ataque por meio de análise de vídeos.

A mudança de discurso coincide com a campanha de desinformação e propaganda de guerra adotada por Israel para justificar o genocídio a Gaza.

O Hospital Baptista não tratava apenas feridos, mas também abrigava pessoas que deixaram o norte de Gaza sob instruções de Israel para “salvar suas vidas”. Milhares de crianças e suas famílias acreditavam ter encontrado um refúgio no local.

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