Em um campo repleto de estrelas, no qual o Egito tem nenhuma bandeira fincada, a engenheira Sara Sabry se tornou a primeira mulher egípcia, árabe e africana a chegar ao espaço.
A vista da Terra do espaço sideral transformou nossa perspectiva sobre a civilização, o planeta e as relações entre nosso mundo e o universo além. Em meio à fascinação coletiva, que excede as nacionalidades, sobre a fronteira final e sua escalada homérica a novas alturas, uma associação sem fins lucrativos – a Space for Humanity – decidiu fundar o Programa Embaixador da Estação Espacial, destinado a educadores e entusiastas que querem ampliar o acesso ao espaço e a uma cultura de interconectividade.
Em seu programa de 2021, Sara (29) foi escolhida entre sete mil cidadãos de todos os cantos do globo, para viajar ao espaço e vivenciar o fenômeno que astronautas profissionais descreveram como Efeito Perspectiva: uma mudança cognitiva após ver o planeta do alto.
Sara constatou uma série de mudanças em sua percepção prévia sobre o mundo, após retornar à Terra. “Em apenas um instante, minha perspectiva sobre a escala das coisas mudou. Tudo que eu conhecia antes passou a ter um sentido diferente enquanto eu estava lá. Eu não tive medo. Na verdade, nunca me senti tão confortável e em paz comigo mesma. Sinto uma nova conexão com o universo e com tudo que eu deveria fazer com a minha vida”.
Sem hesitação, reafirma: “Queria voltar assim que pisei na Terra. Me sinto em casa no espaço”.

Astronauta Sara Sabry [astrosarasabry.com]
“Eu estava muitíssimo bem-preparada no momento em que apertei os cintos de minha cadeira. Basta a memória muscular. Eu não pensei no arreio ou nos barulhos da máquina. Tudo que eu tinha de fazer já tinha criado raízes em minha memória”, explica Sara.
Antes da missão, junto de sua tripulação, que incluiu outro astronauta de primeira viagem, Sara participou de exercícios operacionais extensivos para prepará-la devidamente ao voo, incluindo procedimentos de emergência e problemas cotidianos que fazem parte do treino profissional a todos que queiram viajar além da órbita terrestre. Entre os procedimentos, naturalmente, fugas de emergência em caso de eventualidade.
“O processo foi simulado inúmeras vezes, incluindo todas as coisas que podem dar errado; logo, não tive medo, porque a preparação mental foi grande parte do trabalho”, acrescenta Sara. “De fato, as primeiras vezes que me visualizei no espaço, senti ansiedade e dor de estômago, fiquei com suadouro, porque eu sabia aquela experiência mudaria minha vida. Foi tudo muito rápido, eu soube da viagem com apenas duas semanas de antecedência. A preparação, no entanto, foi eficaz e intensiva. Naturalmente, incluiu treinamento mental. Toda noite, quando ia dormir, eu me visualizava na cápsula, rumo ao espaço, meu último pensamento antes de cair no sono. Isso se tornou minha segunda natureza”.

Astronauta Sara Sabry [astrosarasabry.com]
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“Quanto mais estudei e trabalhei e adquiri experiência, percebi que o ramo espacial é bastante inacessível a pessoas como eu, porque sou egípcia e não tenho outro passaporte, por exemplo”, adverte Sara. “Todas as oportunidades são nos Estados Unidos e na Europa e o acesso é muito restrito. Há diversas leis que tornam inacessível a pesquisa na área para alguém como eu, o que me motivou a fundar a Iniciativa Deep Space. Oferecemos programas para tornar possível que pessoas como nós possam estudar o espaço sideral e obter um diploma certificado. É tudo que sonhei no começo de minha jornada”.
Para Sara, ser parte de um grupo seleto, embora cada vez maior, de mulheres com destaque no setor espacial é uma verdadeira honra. Em todo o mundo, apenas 18% das estudantes abraçam o setor de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, comparadas a 35% de seus colegas do sexo oposto, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU).
Inspirada pelas descobertas de Stephen Hawking, motivada por um desejo ardente de entender o universo em expansão e suas complexidades, Sara continua determinada a superar os limites do espaço sideral e avançar em sua pesquisa de astrofísica.
“Eu me interessei pela astrofísica porque sempre tentei compreender o que ocorre no espaço, tendo de recorrer aos cientistas da área. Na verdade, você vai ver que há mais questões do que respostas. Isso me fez ponderar como eu poderia combinar meu conhecimento em engenharia mecânica e biomédica para levar a humanidade a outros planetas, para que possamos conhecer de onde viemos e para onde vamos, porque se trata de um dos campos com maior impacto na vida humana”.

Astronauta Sara Sabry [astrosarasabry.com]
“A primeira coisa que disse quando pousei é que quero que todos vejam isso. Me pareceu tão injusto que apenas seiscentas pessoas na história da humanidade puderam ver a Terra do alto! Não deveria ser uma experiência restrita a poucos seletos, mas isso também me motiva a fazer acontecer a Iniciativa Deep Space e tornar a viagem espacial acessível a todos”.









