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Mochilão MEMO: Terra dos belos cavalos

Igreja mais alta do Museu ao Ar Livre. Em sua base se encontam outras Igrejas, monastérios e sepulturas [Lucas Siqueira/MEMO]

Göreme, 7 de janeiro de 2023

Ontem choveu, sabíamos que hoje estaria tudo branquinho de gelo. Os planos para o dia era fazer o câmbio de moeda, comprar a passagem de volta para Istambul e depois subir novamente ao Sunset Point para aproveitar e fotografar o vale nevado. Mudança de planos! De última hora, nosso roteiro se retorceu no avesso. Ao invés de comprar a passagem para Istambul, compramos para Izmir; como o ônibus parte amanhã as 18h30 – antes do que nos programamos – mudamos também a tour do dia e antecipamos a visita ao Museu ao Ar Livre de Göreme.

No caminho até o Museu, entre Göreme e Ürgüp, passamos pelo Museum Ranch, uma espécie de haras de onde saem passeios a cavalos pelos vales ao redor. Enquanto caminhávamos pelo local, observei os belos animais e pudemos entender por que toda essa região se chama Capadócia. No século V a.C os reis persas Dário e Xerxes, seu filho – aquele interpretado por Rodrigo Santoro no filme 300 –, receberam cavalos desta região como tributos. Os persas, então, batizaram a região de Katpatuka, a qual quer dizer “Terra de Belos Cavalos”. Existem também outras fontes que contradizem a origem do nome, afirmando que deriva de Katpadukya, do vocabulário hitita, que quer dizer o mesmo. De quem o nome Capadócia derivou de verdade eu não sei, só sei que ambos estavam certos e essa realmente é uma região com os mais belos cavalos.

Caminhando mais um pouco. Chegamos ao famoso Museu ao Ar Livre da “Terra dos Belos Cavalos”.  A área do museu foi declarada Patrimônio Mundial da UNESCO em 1985, o que tornou o local o destino mais procurado pelos turistas. E por qual motivo? Porque aqui simplesmente se encontram as igrejas e monastérios dos séculos X e XI mais bem-preservados da Turquia. Nos tempos romanos pré-cristãos, o vale de Göreme, especificamente a região do Museu ao Ar Livre, se popularizou por conta dos fiéis que peregrinavam até os as templos e cemitérios esculpidos nas rochas.

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Os monges eremitas encontraram no Vale de Göreme um local de paz e tranquilidade para praticar a espiritualidade da vida monástica, principalmente por santos terem sisos enterrados nessas mesmas cavernas. Tokali Kilise, uma igreja construída e reformada algumas vezes na antiguidade, é a peça mais preciosa do complexo, com as mais belas pinturas e afrescos que narram a vida de Jesus. Infelizmente ou felizmente, fotografar ou gravar vídeo dentro da igreja de Tokali é proibido, sendo assim, fica somente as fotos da área externa. Caso tenha curiosidade, garanto que vale a pena, saber mais sobre essa igreja e ver suas pinturas disponíveis no site oficial da Capadócia histórica.

A visita a igrejas, monastérios e sepulturas foi incrível. No entanto, assim que chegamos em Göreme, atravessando a rua, encontramos dois senhores que vendiam algumas lembrancinhas da Capadócia. Na hora, percebi que um deles estavam usando um típico chapéu de couro da época dos cavaleiros otomanos. Nos devaneios desconexos que circulam em meus pensamentos, imaginei aquele senhor um pouco mais jovem e montado em um daqueles belos cavalos que vimos no começo do passeio. Ele percebeu que eu estava admirando-o, então, para quebrar o clima, apontei para seu chapéu e disse que ele se parecia com Osman – fundador do Emirado Otomano, cujos descendentes transformaram em Império, cuja imagem se vinculou, por nome, ao chapéu tradicional dos turcomanos.

Sr Osman, em Göreme, Turquia [Lucas Siqueira/MEMO]

Aquele gentil senhor riu e agradeceu, talvez por ter se surpreendido com um gringo que conhecia um pouquinho de sua história. Pedi para tirar uma foto deles, eles concordaram sem pestanejar, e ficaram ainda mais surpresos e até felizes quando viram que a Di tem uma tatuagem escrito Allah em árabe ﷲ. Fotografei-os, compramos algumas lembrancinhas e nos despedimos com Salaam Aleikum, que significa “A paz de Deus esteja com você” e devolvemos a resposta com Aleikum Essalam, que significa “Esteja ela (a paz de Deus) com você também”, mesmo que não sejamos muçulmanos.

Senhor que carinhosamente chamamos de Osman, com seu típico chapéu dos antigos otomanos da região da Capadócia [Diana Emidio]

Amanhã é dia de se despedir da Capadócia, levaremos as melhores lembranças possíveis, lembranças que não tem preço e não ocupam espaços físicos. No futuro, toda vez que lembrar deste lugar, me virá a mente a imagem do senhor “Osman”, um turco muçulmano usando o seu chapéu otomano e montado – mesmo que embora não estivesse – em seu mais “belo cavalo”.

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Nota: Todos os textos do Mochilão MEMO são produzidos em trânsito; por gentileza, peço que compreenda que pode haver falhas ou erros que serão corrigidos ao longo da viagem. Obrigado a todos pela compreensão.

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