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Viagem do papa ao Bahrein atrai atenção a direitos humanos e divisão na sociedade

Papa Francisco em Roma, Itália, 19 de maio de 2022 [Riccardo De Luca/Agência Anadolu]

O Papa Francisco chegou no Bahrein nesta quinta-feira (3) com objetivo de ampliar laços com o mundo islâmico. No entanto, sua viagem pode ser pega no meio de um acalorado debate sobre direitos humanos entre a monarquia sunita e a oposição xiita.

As informações são da agência de notícias Reuters.

O avião papal pousou em Sakhir, onde o pontífice deve encontrar com o rei Hamad bin Isa al-Khalifa. Trata-se da segunda visita de um papa à Península Arábica, após a viagem de Francisco aos Emirados Árabes Unidos – onde conduziu sua primeira missa na região.

“O papa prossegue com certa lógica para abrir novos caminhos a realidades distintas do mundo islâmico”, declarou o bispo Paul Hinder, vigário apostólico para o Sul da Arábia do Vaticano, que acumula vinte anos de pregação na região.

As dores no joelho de Francisco, porém, o afligiram durante a viagem. O papa argentino, de 85 anos, costuma cumprimentar correspondentes a bordo de sua aeronave no percurso; desta vez, não pôde fazê-lo.

Após um acidente no qual rompeu um ligamento do joelho, neste ano, o clérigo idoso passou a se locomover com ajuda de uma bengala – e mesmo uma cadeira de rodas.

Durante sua visita entre 3 e 6 de novembro, Francisco deve discursar ao Fórum do Bahrein por Diálogo, sob o tema “Coexistência humana no Ocidente-Oriente”. Além disso, deve reunir-se com o rei Hamad e o Conselho de Anciões na mesquita instalada no palácio real.

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Setenta porcento da população barenita é muçulmana. Contudo, diferente da Arábia Saudita, o governo permite que sua comunidade de 160 mil católicos – na maioria imigrantes – professem sua fé publicamente em duas das igrejas construídas no país.

O Bahrein é lar da primeira igreja católica do Golfo da era moderna, inaugurada em 1939, além da Catedral de Nossa Senhora da Arábia – a maior igreja católica da península.

Embora a visita seja um sonho realizado para os católicos da ilha, a presença do pontífice atraiu atenção a disputas entre o governo sunita e a comunidade xiita, que encabeçou um levante pró-democracia no contexto da Primavera Árabe, em 2011.

Na ocasião, a monarquia barenita pediu socorro a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos para esmagar os protestos. Milhares de manifestantes e jornalistas foram presos e julgados – mesmo em tribunais de massa.

Desde então, revoltas esporádicas foram reprimidas com violência.

Famílias de presos no corredor da morte recorreram ao papa para que condene a pena capital e defenda a liberdade de prisioneiros políticos.

O Instituto Barenita por Direitos e Democracia – radicado em Londres – e outras ongs pediram a Francisco que denuncie abusos de direitos humanos, entre os quais, o encarceramento em massa de dissidentes pró-democracia.

O Bahrein nega as críticas da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras entidades globais sobre sua conduta e afirma processar os suspeitos conforme as diretrizes da lei internacional, além de reformar com frequência seu sistema penal.

Um porta-voz do governo, em resposta à Reuters, afirmou em nota: “Nenhum indivíduo no país está em custódia por suas crenças”. De acordo com o oficial, a Constituição protege a liberdade de expressão.

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Hinder crê que o papa pode aludir à pauta de direitos humanos em público, mas deve reservar os apelos dos prisioneiros a um ambiente privado.

Conforme o Bahrein, o fórum interreligioso sediado em seu território durante a viagem do papa deve “cimentar ainda mais valores de tolerância” entre as fés.

O Bahrein, junto dos Emirados, assinou os chamados Acordos de Abraão, promovidos pelo então presidente dos Estados Unidos Donald Trump, no final de 2020, para normalizar relações com a ocupação israelense.

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