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Canadá é suspeito de encobrir tráfico humano ao Daesh, Trudeau promete investigar

Primeiro-Ministro do Canadá Justin Trudeau durante cerimônia memorial em Kamloops, na Columbia Britânica, em 23 de maio de 2022 [Mert Alper Dervis/Agência Anadolu]

Revelações constrangedoras do suposto encobrimento dos serviços de inteligência ocidentais sobre o modo como Shamima Begum e duas amigas foram traficadas de Londres a terroristas do Estado Islâmico (Daesh) levaram o premiê canadense Justin Trudeau a instar a abertura de um inquérito para salvar a própria pele.

Trudeau prometeu nesta quarta-feira (31) “acompanhar” as evidências de que um espião a serviço do Canadá traficou meninas britânicas ao território sírio.

“Sei que há perguntas sobre certos incidentes ou certas operações do passado e garanto que pretendo acompanhá-las”, insistiu o primeiro-ministro.

Segundo relatos, Canadá e Reino Unido trabalharam para encobrir o caso de Shamima, que possuía apenas 15 anos de idade quando se tornou vítima de tráfico humano.

A conspiração é detalhada no novo livro de Richard Kerbaj, ex-correspondente de segurança do jornal Sunday Times, intitulado The Secret History of the Five Eyes. A obra foi publicada ontem e reúne entrevistas de líderes globais e mais de cem oficiais de inteligência.

“Cinco olhos” é o nome dado à aliança de inteligência formada por Canadá, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.

Segundo Kerbaj, o serviço canadense recrutou o contrabandista Mohammed al-Rashed, quando este pediu asilo na embaixada do país norte-americano na Jordânia. As três amigas foram então transferidas da Turquia à Síria por al-Rashed, cujos relatos sugerem dezenas de vítimas coagidas a se tornarem “noivas” de combatentes jihadistas.

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Al-Rashed fotografou os passaportes de Begum e suas amigas sob pretexto de documentação para compra de transporte doméstico, mas encaminhou as imagens a seu aliciador na missão em Amã, membro do Serviço de Segurança e Inteligência do Canadá (CSIS).

Em torno da mesma época, a Polícia Metropolitana do Reino Unido emitiu um alerta para tentar localizar as adolescentes, após serem vistas no aeroporto de Gatwick.

O Canadá, no entanto, manteve silêncio sobre as informações que possuía sobre o episódio. Somente após a prisão de al-Rashed por autoridades turcas – em posse de documentos das meninas – a conexão entre as partes foi relevada.

A Turquia informou o Reino Unido, mas o serviço britânico foi convencido por seus parceiros canadenses a encobrir o incidente, destacou a pesquisa de Kerbaj. Desta maneira, a agência canadense obteve êxito em omitir seu papel no recrutamento e gestão de al-Rashed.

Neste entremeio, o vice-diretor da agência canadense foi enviado a Ancara, capital da Turquia, aparentemente para se desculpar por não contactar as autoridades turcas sobre as operações em território estrangeiro.

Tasnime Akunjee, advogado da família de Begum, reivindicou um inquérito sobre o papel da polícia e das agências de inteligência dos países envolvidos.

“O Reino Unido celebrou esforços próprios para derrotar o Daesh e impedir a abdução de nossas crianças por meio de seu programa de monitoramento online”, observou Akunjee. “Contudo, ao mesmo tempo, colaborou com um aliado ocidental … que traficava crianças britânicas ao longo da fronteira síria para entregá-las ao Daesh”.

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