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Chefe da CIA assistiu tortura e ‘estupro’ de prisioneiro saudita

Gina Haspel, então diretora da Agência Central de Inteligência (CIA), presta depoimento no Senado dos Estados Unidos, em Washington DC, 29 de janeiro de 2019 [Win McNamee/Getty Images]

Gina Haspel — ex-diretora da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), sob a gestão de Donald Trump — esteve presente na ocasião da tortura do prisioneiro saudita Abd al-Rahim al-Nashiri, declarou James E. Mitchel, psicólogo que ajudou no desenvolvimento do programa de interrogatório adotado por Washington, durante audiência realizada na Baía de Guantánamo.

Segundo reportagem do New York Times, Mitchell revelou detalhes sobre a longa carreira de Haspel no serviço de espionagem, incluindo seu período como chefe regional da CIA em uma instalação clandestina na Tailândia, em 2002, onde al-Nashiri foi torturado.

Conforme o relato, Haspel assistiu enquanto dois de seus agentes submetiam al-Nashiri a um “interrogatório avançado”, eufemismo para procedimentos violentos que incluem o método conhecido como waterboarding — ou afogamento simulado.

O testemunho confirmou especulações sobre o uso de tortura na Tailândia, sob o comando de Haspel. Em 2018, durante a audiência que acatou sua nomeação como diretora da CIA, Haspel recusou-se a responder perguntas sobre al-Nashiri, ao alegar confidencialidade.

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O trabalho de Haspel como diretora regional de inteligência na Tailândia permanece, deste então, envolto em segredo. Mitchell jamais citou Haspel nominalmente, mas seu relato, ao referir-se à chefe de base na ocasião, possibilitou juntar os pontos.

Por determinação judicial, o psicólogo referiu-se a Haspel pelo codinome Z9A — prática regularmente adotada para proteger “segredos de estado”, mesmo que compreendam informações vazadas.

Outros oficiais haviam confirmado antes que Haspel fora responsável pela instalação secreta na Tailândia, entre outubro e dezembro de 2002 — justamente o período no qual al-Nashiri sofreu tortura, sob acusação de orquestrar um ataque a bomba contra um navio destroier da Marinha dos Estados Unidos, no ano 2000.

Ao descrever o interrogatório de duas décadas atrás, Mitchell admitiu ter realizado afogamento simulado contra o prisioneiro saudita, junto de John Bruce Jessen, outro “psicólogo” contratado pela CIA. Al-Nashiri foi despido, vendado e agredido com tapas; um agente bateu sua cabeça na parede.

Em outra instalação clandestina, al-Nashiri foi ameaçado com uma furadeira contra seu rosto coberto, supostamente para divulgar planos do grupo terrorista al-Qaeda. Em 2004, em uma nova base, após se recursar a comer, agentes inseriram uma sonda alimentar em seu reto — procedimento descrito por um advogado da Marinha como estupro.

Após as sucessivas denúncias, Haspel prometeu apenas evitar o uso de métodos similares durante suas operações.

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