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Protestos contra carestia crescem no Irã e ganham caráter político

Cédulas de rials iranianos em uma loja de câmbio em Bagdá, capital do Iraque, 8 de agosto de 2018 [Khalid Al-Mousily/Reuters]

Protestos que tomaram as ruas do Irã após corte nos subsídios alimentares ganharam caráter político, ao reivindicar a deposição dos principais líderes do país, reportou agência de notícias Reuters. Segundo relatos divulgados nas redes sociais, quatro pessoas foram mortas.

As manifestações começaram na última semana, deflagradas por um corte nos subsídios públicos, que levou a um aumento de até 300% no custo dos produtos à base de farinha.

O governo também aumento ou preço de alguns produtos básicos e cotidianos, como óleo de cozinha. Contudo, segundo estimativas oficiais, o país de 85 milhões de habitantes tem quase metade da sua população abaixo da linha da pobreza.

Após uma semana, os manifestantes ampliaram suas demandas, incluindo apelos por liberdade política, estado laico e destituição da elite político-religiosa.

Vídeos compartilhados online mostram manifestantes queimando retratos da maior autoridade nacional, o Líder Supremo Ali Khamenei. Algumas pessoas chegaram a sugerir o retorno de Reza Pahlavi, filho exilado do antigo xá iraniano, deposto pela revolução islâmica.

Publicações no Twitter registraram protestos em dezenas de províncias, como Ardabil, Cuzistão, Lorestão e Coração Razavi. Parte da imprensa estatal, no entanto, declarou que a tranquilidade foi restaurada no território nacional.

Não obstante, protestos continuaram na manhã deste domingo (15) em ao menos 40 cidades, dentre as quais: Quchan, perto da fronteira com o Turcomenistão; Rasht, centro comercial no norte do país; e Hamedan, no oeste iraniano.

A Reuters não pôde identificar de maneira independente a autenticidade das postagens.

Na sexta-feira (13), a agência iraniana IRNA afirmou que lojas foram “incendiadas em algumas cidades”, levando a polícia a prender “provocadores”.

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No sábado (14), a rede semi-oficial ILNA mencionou um parlamentar ao confirmar a morte de um manifestante em Dezful, cidade produtora de petróleo na província do Cuzistão. Contudo, vídeos no Twitter registraram ao menos quatro vítimas das forças de repressão.

Residentes de Teerã — contactados pela Reuters no domingo — relataram forte presença policial nas ruas da capital.

A rede global de monitoria NetBlocks constatou horas de interrupção nos serviços iranianos de comunicação, sugerindo uma medida das autoridades para impedir a convocação de protestos e o compartilhamento de vídeos nas redes sociais.

Os levantes recentes somam-se à pressão imposta aos governantes iranianos, que lutam com uma economia enfraquecida por anos de sanções dos Estados Unidos.

Em 2018, o então presidente americano Donald Trump restabeleceu uma política de “máxima pressão”, ao revogar o acordo nuclear assinado três anos antes. Negociações para restaurá-lo permanecem paralisadas desde março.

Autoridades iranianas receiam que uma nova onde protestos evidencie a vulnerabilidade do establishment iraniano diante da indignação popular. Neste entremeio, o governo em Teerã buscou promover os cortes como “redistribuição justa” à população carente.

Em 2019, protestos começaram dispersos após um súbito aumento no custo dos combustíveis. No entanto, logo se espalharam por todo o país e se tornaram um dos maiores desafios à elite iraniana, culminando em uma das mais violentas campanhas de repressão nas quatro décadas de história da república islâmica.

O número de baixas em 2019 varia entre 1.500 vítimas contabilizadas pela Reuters e 300 mortes, conforme levantamento da Anistia Internacional. Teerã, porém, rejeita ambas as estimativas.

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