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Israel nomeia representante internacional contra ‘deslegitimação’

Noa Tishby durante evento de lançamento de seu livro “Israel: A Simple Guide”, em Los Angeles, Califórnia, 6 de abril de 2021 [Rich Fury/Getty Images]

Israel nomeou a atriz e escritora Noa Tishby como primeira representante especial para combater a “deslegitimação” e o “antissemitismo” — como o estado ocupante costuma descrever campanhas legítimas contra o apartheid e a colonização na Palestina.

A escolha da cidadã israelo-americana foi confirmada nesta segunda-feira (11) pelo Ministro de Relações Exteriores Yair Lapid, que pareceu sugerir uma ameaça a grupos de direitos humanos.

Lapid reconheceu que, dentre os principais alvos da nova oficial israelense, estão organizações proeminentes como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch (HRW), que denunciaram recentemente Israel por crimes de lesa-humanidade, incluindo apartheid.

Em outubro, Israel criminalizou seis ongs palestinas ao difamá-las como “terroristas”. Dentre as entidades, estão associações civis, como Addameer e Al-Haq, instituições de defesa da infância e sindicatos de mulheres e da categoria agrária.

LEIA: A definição ‘seriamente falha’ de antissemitismo deve ser abandonada, diz coalizão judaica

Personalidades influentes — como os atores Richard Gere, Tilda Swinton e Susan Sarandon; o diretor Ken Loach; o músico Jarvis Cocker; e os autores Philip Pullman, Colm Tobin e Irvine Welsh — descreveram a medida como “ataque sem precedentes contra ativistas por direitos humanos do povo palestino”.

O chanceler israelense, não obstante, alegou: “Israel está sob ataque de pessoas que nos chamam de estado de apartheid”.

Em entrevista à revista Jewish Currents, Tishby insistiu que “antissionismo e antissemitismo são uma única coisa” e admitiu que seu principal objetivo é conter críticas à ideologia fundadora do Estado de Israel.

“Quero assegurar que as pessoas de fora do mundo judaico entendam que antissionismo é antissemitismo”, reafirmou a ativista colonial de 46 anos.

Contudo, trata-se de uma falácia: pesquisadores — incluindo historiadores israelenses, como Ilan Pappé — observam que o sionismo representa uma ideologia política de fundo colonial e que nem todos os sionistas são judeus ou vice-versa.

Ativistas nas redes sociais constataram um detalhe em particular durante a apresentação de Tishby, promovida em vídeo pela chancelaria israelense.

“Alguém reparou que a nova representante especial de Israel contra o ‘antissemitismo’ usa um pendente que aparentemente retrata o mapa da ‘Grande Israel’, incluindo toda a Cisjordânia e Golã?”, destacou Lara Friedman, presidente da Fundação para a Paz no Oriente Médio, ao citar os territórios ocupados pertencentes a Palestina e Síria, respectivamente.

Outro usuário comentou sobre o acessório: “Bastante honesto, toda a Palestina é ocupada sob o regime israelense, incluindo as colinas sírias de Golã; então, sim, temos bantustões nos quais a população nativa vive sob apartheid”.

Daniel Lobato 𓂆 on Twitter

Outros usuários notaram que a prioridade da fala de Lapid foi a acusação de apartheid, de modo que a missão da representante é contestar ou desacreditar as evidências dos crimes israelenses compiladas por grupos de direitos humanos.

Corroboram a acusação de apartheid a Anistia Internacional e o HRW; as ongs B’Tselem, Yesh Din, Addammer e Al-Haq; e mesmo o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que reportou a prática perpetrada nos territórios ocupados em sua 48ª sessão.

Outro alvo de Tishby é a campanha global de Boicote Desinvestimento e Sanções (BDS).

A escritora deve pressionar ainda para que governo estrangeiros adotem a definição de antissemitismo promovida pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA).

Analistas — incluindo Kenneth Stern, um dos redatores da definição — advertem para o uso da alegação de antissemitismo para reprimir críticas legítimas à ocupação, em franco detrimento à liberdade de expressão, sobretudo nos campi universitários.

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