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Dia Internacional da Mulher: Lembrem-se de todas as mulheres sob ocupação

Parlamentar ucraniana Kira Ruddik [kiraincongress/Twitter]

A parlamentar ucraniana Kira Ruddik expressou surpresa no Twitter ao pegar em armas pela primeira vez e descobrir como utilizar um rifle Kalashnikov. “Parece surreal: há somente alguns dias isso jamais passaria pela minha cabeça. Nossas mulheres protegerão nossa terra assim como os homens. Avante Ucrânia!”. Uma fotografia em sua casa registrou diversas armas sobre uma mesa de madeira e Ruddik reafirmou sua disposição em juntar-se às fileiras de combatentes para defender seu país da invasão russa.

Neste Dia Internacional da Mulher, é razoável dizer que o mundo assiste espantado a manifestação de coragem e resiliência das mulheres ucranianas. Redes sociais, websites e noticiários na televisão estão repletos com imagens simbólicas de sua resistência. Como mulher palestina, eu me solidarizo com sua situação. No entanto, tenho de perguntar: por que é aceitável que mulheres ucranianas peguem em armas contra a invasão de seu país enquanto minhas irmãs são chamadas de “terroristas” ao fazer o mesmo por sua terra?

Parlamentar ucraniana Kira Ruddik [cogman_bryan/Twitter]

Seu apoio conferido à Ucrânia e às suas mulheres mostra que o Ocidente é absolutamente capaz de condenar uma ocupação quando lhe interessa. Precisamos mesmo lembrar a comunidade internacional das mulheres palestinas que vivem sob a brutal ocupação militar de Israel? Mulheres palestinas enfrentam opressão e injustiça em suas terras, assim como na diáspora. São privadas de seus direitos fundamentais, como movimento, segurança, liberdade e mesmo subsistência, à medida que Israel impõe uma leis discriminatórias, equivalentes ao crime de apartheid, cujo intuito é apagar a presença palestina de toda a região. A limpeza étnica continua a todo vapor, praticada dia após dia pela ocupação israelense.

Desde junho de 1967, quando teve início a segunda fase da ocupação sionista, mais de 16 mil mulheres foram detidas pelo estado colonial. A Comissão Palestina para Assuntos dos Prisioneiros estima que há atualmente 32 mulheres nas cadeias de Israel. Cidadãs palestinas mantidas em custódia são continuamente submetidas a abusos físicos e psicológicos, a começar com sua prisão. Muitos nomes e histórias permanecem escondidos atrás das grades — mulheres corajosas, como Israa Jaabis, Fadwa Hamadah, Jihan Hashemah, Nourhan Awad, Maysoon Musa e Shatila Abu Ayada, que defenderam sua terra da ocupação sionista.

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O mundo tem razão em enaltecer a bravura das mulheres ucranianas; todavia, suas irmãs palestinas na Faixa de Gaza continuam sob cerco e ocupação. As mulheres palestinas lutam para ajudar suas famílias, mas é tragicamente comum que seus filhos sejam mortos por drones ou franco-atiradores em um piscar de olhos. Muitas mães testemunham os sinais de tortura contra seus filhos encarcerados, sem saber se poderão vê-los novamente. Trata-se da realidade cotidiana em Jerusalém, Cisjordânia e Gaza. Nos campos de refugiados espalhados por toda o Oriente Médio, são as mulheres palestinas que mantêm unidas suas famílias, apesar das condições aterradoras nas quais são forçadas a viver.

Neste Dia Internacional da Mulher, é apropriado reconhecer sua luta histórica: sucessivos atos de resistência contra a ocupação israelense. Dessa maneira, é importante questionar: a comunidade internacional será capaz de despertar para a realidade em campo e trabalhar adequadamente para encerrar a ocupação? Ou continuará a lavar suas mãos?

Uma imagem de mulheres ucranianas confrontando soldados russos viralizou nas redes sociais. O grupo indagou os invasores porque estavam em sua terra e então distribuiu sementes de girassol nos bolsos de seus uniformes. O mundo reagiu positivamente — e está correto!

Mas as redes sociais também estão repletas de fotografias e vídeos de mulheres palestinas na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, que buscam defender seus símbolos nacionais das incursões cotidianas de colonos e soldados israelenses armados até os dentes. Onde está tamanho apoio da comunidade internacional às mulheres palestinas? Khadija Khweiss e Hanadi Halawani são duas das mulheres que buscaram resistir às agressões no santuário islâmico. Apesar de sucessivas restrições impostas pelas autoridades da ocupação, Khweiss e Halawani retornaram uma e outra vez para proteger Al-Aqsa dos anseios coloniais para expropriar o patrimônio de seu povo.

Naturalmente, é importante questionar aquilo que vemos nas redes sociais. Pouco após a invasão, um vídeo de uma “menina ucraniana confrontando um soldado russo” viralizou online. Não obstante, a menina nas imagens não era ucraniana, mas sim palestina; as tropas eram israelenses. Seu nome é Ahed Tamimi, outra figura heróica da resistência palestina, que enfrentou dezenas de acusações judiciais após dar um tapa em um soldado sionista que cercava a residência de sua família. Nada disso impediu sua resistência. Neste Dia Internacional das Mulheres, devemos aplaudir mulheres como Ahed Tamimi que defenderam seus direitos com uma coragem extraordinária — jamais condená-las ou difamá-las.

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Por trás de toda família palestina há uma mulher forte. Histórias de heroísmo, sacrifício e resistência diante da ocupação israelense. Mulheres palestinas ainda encarceradas; mulheres que defendem Al-Aqsa dos avanços coloniais; mulheres que sustentam suas famílias sob condições atrozes na Faixa de Gaza. São as mães dos mártires e feridos por décadas de luta; são o verdadeiro alicerce da sociedade palestina.

Neste Dia Internacional da Mulher, lembre-se das mulheres heróicas e de sua luta por liberdade frente ao apartheid e à ocupação israelense. Sua causa é tão legítima quando os esforços de suas irmãs ucranianas. Deem apoio à resistência do povo ucraniano tanto quanto puderem, mas jamais se esqueçam do povo palestino.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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