Anhar Al-Deek e as variadas formas de violência praticadas por Israel

Na última semana uma história me chamou bastante atenção. Anhar, uma ativista, estudante da Universidade de Berzeit, foi presa acusada de ter cometido uma tentativa de ataque a um assentamento ilegal israelense. Sem provas do ocorrido, ainda não há veredicto à jovem que se encontra encarcerada há 5 meses. No entanto, o caso repercutiu nos últimos dias por um detalhe importante da história: a jovem está grávida e prestes a dar à luz.

Anhar relatou, nas últimas semanas, seu desespero por correr o risco de ter seu filho na prisão. Nas cartas que escreveu à sua família revelou as ameaças que os guardas da prisão faziam a ela e ao seu filho. Além de passar seu tempo algemada e de permanecer nesse estado, durante o parto, caso seu bebê viesse a nascer na prisão, outro fator também assombra as mulheres palestinas que têm seus filhos na prisão: a possibilidade de nunca mais vê-los, acontecimento recorrente nas prisões israelenses.

Após apelo à comunidade internacional, Anhar foi libertada ontem (dia 2 de setembro de 2021) sob pagamento de fiança de 40.000 shekels israelenses (USD$12.500, doze mil e quinhentos dólares) e ficará em prisão domiciliar na casa de familiares.

Israel viola diariamente várias normas de direitos humanos: crimes de guerra, crime de apartheid, crime de perseguição e várias outras formas de violação de direitos podem ser listadas aqui. No entanto, os absurdos executados contra a jovem contam com um requinte de crueldade sofisticado.

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Factualmente, Israel inicia sua história com sangue e sofrimento. Quando Israel ainda não existia como Estado, o massacre de Deir Yassin em 9 de abril de 1948 foi cometido pelas guerrilhas judaicas que viriam a formar as forças armadas israelenses no futuro; no seu primeiro dia enquanto Estado, Israel cometeu uma das maiores chacinas da história do século, que recebeu o nome de Nakba; em 1982 o mundo presenciava mais um crime: o massacre de Sabra e Chatila. Dessa forma, a Imagem de Israel é vinculada à crimes, sangue e tragédias desde o início de sua existência. No entanto, a cada ano que se passa, mais selvageria é adicionada à  tal violência.

Ferir o direito de uma mãe poder dar à luz sem estar algemada é uma truculência sem tamanho. É desumano o caso de  mães que nunca mais puderam ver seus filhos, pois estes  foram dados como mortos e tiveram seus corpos desaparecidos. Tudo isso perpetrado por um Estado, promovido e executado por forças estatais. Estado este, no mínimo, criminoso.

Há 73 anos a população palestina sofre com as violências cometidas por Israel, no entanto, o movimento que notamos a cada dia é o aprimoramento das formas de violência e a adição de mais desumanidade. Seja pelo medo provocado por ações militares nas cidades palestinas sem motivos aparentes, ou pelos cercos e pela proibição de livre movimentação, ou pelo risco de ser preso arbitrariamente apenas por ter convicções próprias, o povo palestino se vê cada vez mais sem alternativas, sem esperanças e encurralados a viver sob as mazelas da ocupação.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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