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Ser palestino é um ato de resistência

Presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz, em 4 de agosto de 2021 [Jefferson Rudy/Agência Senado]

Nesta terça-feira (03), durante os primeiros minutos da 38ª audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a covid-19, após a denúncia feita pelo senador Rogério Carvalho, o senador da república, Omar Aziz, relatou também tentativas de “intimidação” que vem recebendo por parte do governo de Jair Bolsonaro. Em sua fala, apontou o vazamento de informações da ABIN como tentativa de difamação política, em cujos documentos era retratado como “subversivo” devido a sua atuação contra o regime militar, na busca pela conquista da redemocratização do país.

A intimidação política como ferramenta para a interrupção de investigações, infelizmente, não é algo incomum na realidade brasileira, porém, o caso do Senador Omar Aziz possui alguns agravantes. Após criticar na CPI oficiais militares suspeitos de envolvimento em corrupção, os quais chamou de “lado podre” das forças armadas, o senador passou a ser alvo de diversos ataques, inclusive, xenofóbicos. Os ataques se expressam pelo fato de o presidente da Comissão ser um palestino em diáspora e segundo um documento divulgado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), o congressista foi intitulado como “o palestino” – entendido aqui de maneira pejorativa – durante o regime militar.

O vazamento desses documentos não pode ser entendido como simples coincidência. O plano dos militares é claro: tentar constrangê-lo a fim de interromper as investigações parlamentares sobre a conduta do governo federal em relação à covid-19 e as suspeitas de corrupção dos militares no Ministério da Saúde. Mas tal tentativa de achincalhar o senador não surtiu efeito. Em resposta, Aziz, declarou sentir muito orgulho de ser filho de um palestino, não possuindo nenhuma vergonha de sua descendência.

LEIA: Omar Aziz diz ter orgulho de ser filho de palestino e critica Bolsonaro por encontro com deputada nazista

Em resposta, o senador foi além, afirmou que, enquanto os protestos bolsonaristas ostentam centenas de bandeiras de Israel, o presidente, Jair Bolsonaro encontra-se com nazistas. Em alusão ao recente encontro do presidente com Beatrix von Storch, deputada do partido neonazista alemão – Alternativa para a Alemanha. Insinuando que o presidente não respeita a memória do holocausto, nem os judeus que o apoiam, ao confraternizar com nazistas.

Nos últimos anos, reconhecer-se como palestino ou até mesmo árabe, no Brasil, tem sido uma tarefa muito difícil. Com a ascensão de movimentos religiosos fundamentalistas, que possuem a defesa de Israel como eixo central de sua narrativa, a comunidade árabe, mais especificamente, a palestina, tem sido vítima de ataques ferozes nas redes sociais e nas ruas. Frequentemente associados com terrorismo, seja pela descendência, seja pela religião que professa, a numerosa população árabe que no passado foi vista como amiga, está sendo vista como inimiga de alguns setores da população. Os setores mais reacionários da “elite nacional”, alinhados com a pauta sionista, visam colocar o apoio ao Estado de Israel como um elemento central na política brasileira. De fato, é preciso dar um basta nessa infundada empreitada sionista no território nacional, no mesmo Brasil que sempre acolheu com tanto carinho os imigrantes e refugiados palestinos e árabes.

Portanto, a fala do Senador Omar Aziz, uma personalidade palestina que a cada dia ganha mais visibilidade no cenário nacional, é um ato de resistência e um elemento impulsionador do orgulho da diáspora palestina, libanesa, síria e muitas outras que, atônitas e sem saber como reagir a tantos ataques, se silenciam na esperança de evitar maiores danos. O caminho não é calar, pelo contrário, é dizer que temos muito orgulho não apenas de honrar nossas raízes, mas também de construir um Brasil melhor!

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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