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Lutas irmãs: a América Latina rebelde que sofre por Gaza

Varal em protesto realizado em Córdoba, Argentina, em solidariedade com o povo palestino [Resuen Latinoamericano]

O Brasil não é só Bolsonaro, a Colômbia não é só Ivan Duque, o Perú não é Fujimori e as lutas por democracia não têm a cara de Jeanine Añez, na Bolívia, ou Juan Guaidó na Venezuela. Embora seja este o filtro aplicado aos países da regiao quando se trata da cobertura política internacional, o continente tem alma própria.

No coração latino-americano ferve a luta dos povos que colocam direitos humanos e sociais no topo da agenda política, embora enfrentando a nova capacidade organizativa e mobilizadora da direita, que coloca em suas prioridades a retirada destes direitos para enxugamento do Estado e o apoio ao uso da força contra os rebeldes.

Esse coração sofreu nas duas últimas semana junto com o povo palestino e, guardadas as devidas proporções com o isolamento terrível imposto à luta palestina, se identificaou com ela: “é difícil protestar aqui dentro (da favela), as pessoas têm medo da represália dos policiais, mas na hora da emoção a galera desce, a galera vai com pau, pedra. São os palestinos brasileiros nas nossas ‘Faixas’ de Gaza” – diz o militante das favelas André Constantino em entrevista ao portal 247.

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Quando os palestinos se levantaram em Jerusalém contra a invasão de Al-Aqsa e os despejos em Sheikh Jarrah, os jovens da Colombia também estavam nas ruas desde 24 de abril ,sob a represssão policial que ainda não teve um cessar-fogo e  que já deixou 51 mortos, sendo 43 assassinados pelas forças do Estado

Dados das vítimas da violência de Estado na Colômbia

 

No norte do México, perto do muro de Trump com os Estados Unidos, movimentos em Tijuana se mobilizam pelas mesmas lutas: #Colômbia e #Palestina.

O presidente venezuelano falecido Hugo Chavez  já chamou a Colômbia de “Israel da América Latina”. E e o governo  colombiano à época, encabeçado por Juan Manuel Santos, concordou e declarou sentir-se orgulhoso por isso,  importando treinamento e armas suas armas e cultivando uma relação de amizade que só aumentou desde então.

No ano passado,  o governo incluiu Israel como observador em um encontro de governos latino-americanos de segurança contra “terroristas da América Latina” . E no último mês foram feitos vários acordos bilaterais  entre Ivan Duque e Netanyahu. Em toda América Latina onde os acordos militares são feitos, como é o caso atual do Brasil, manifestantes têm se levantado para afirmar que as armas de lá matam aqui.

Um forte protesto em favor dos Palestinos veio da Argentina,  que reuniu partidos, movimentos sociais e organizações por direitos humanos, lideranças mapuches e intelectuais,como o premio Nobel Perez Esquivel,  e representantes de lutas históricas como as Mães de Maio e Familiares dos Desaparecidos Políticos,  em pelo menos três marchas e atos em frente ao Ministério das Relações Exteriores e a embaixada israelense em Buenos Aires, além de manifestações em Córdoba.

Os  argentinos querem que o governo de Alberto Fernandez reveja suas políticas em relação a Israel. Pediram que a Argentina rompa relações com o Estado sionista. Uma grande crítica da oposição é sobre a adesão argentina ao uso da definição de antissemitismo da IHRA   que considera antissemita a crítica ao Estado de Israel.

No Chile, a Federação Palestina celebrou a marcha de sete quilômetros em solidariedade à  Gaza. Enquanto Gaza estava sob ataque, o povo chileno ia às urnas para eleger representantes que escreverão sua nova Constituição, após uma grande mobilização e referendo nacional que exigiu o enterro da Constituição da ditatura militar chilena.

Também no Brasil houve protestos importantes, com atos em várias capitais e uma carreata em São Paulo, pedindo pelo fim dos ataques à Gaza. Neste sábado, os manifestantes de diversas organizações voltaram a se reunir no vão do Masp, para exigir a saída de Israel dos territórios ocupados e o fim do apartheid.

O Brasil passa por um dos períodos de maior humilhação na história do país em termos de política externa e de respeito aos direitos sociais e ambientais, especialmente da negação e irresponsabilidade do governo frente ao aumento dos casos de covid-19. Defensor de regime militar, o presidente  Jair Bolsonaro e um de seus filhos  publicaram posts atacando o Hamas, enquanto o país afunda na pandemia.  A solidariedade com a Palestina é também um grito de Fora Bolsonaro, alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as irregularidades da sua política sanitária.

LEIA: Desprezo pela pandemia e pela democracia no autoritarismo de Bolsonaro

Na Venezuela, na Bolívia, em Cuba, países que sofrem sanções interancionais e campanhas da direita regional as manifestações pró-palestina  foram divulgadas na América do Sul pela venezuelana Telesur e na internet por sites como Prensa Latina, Resumen Latino Americano, Almayaden espanhol e a cobertura especialidade do Monitor do Oriente Médio, incluindo diversas manifestações de presidentes de países em luta por democracia, como o atual mandatário da Bolívia, Luiz Arce.

As  manifestações pró palestina conectam ações solidárias no Brasil, Argentina, Colômbia,  México, Nicarágua, Panamá, Uruguai, além de posições conjuntas entre os países, a exemplo do chamado do Grupo de Puebla pelo fim dos bombardeios em Gaza.

Cidadãos mexicanos se manifestam em frente ao Zócalo, na Cidade do México Grupo Reforma]Também foi especialmente grande a adesão das organizações da sociedade civil na região aos documentos pedindo o fim do bombardeio à Gaza e a responsabilização de Israel pela comunidade internacional.

Organizando um Fórum Social Mundial no México em 2022 e um Fórum Mundial temático Palestina Livre, programado para outubro, 168 organizações assinaram um chamado à solidariedade no dia 15 de maio, quando palestinos celebravam a Nakba.

A América Latina também se conecta com a Palestina na dificuldade do enfrentamento à covid-19, com leitos superlotados e sem acesso adequado a vacinação. As demonstrações de solidariedade irromperam no continente atormentado pela pandemia, beirando já um milhão de mortes, com apenas 3% das pessoas vacinadas.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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