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Relembrando a criação da CSN e a posição do Brasil na II Guerra

Getúlio Vargas (sentado à esquerda) e Franklin Delano Roosevelt (sentado à direita), Rio de Janeiro, 1936 [CPDOC/GV]
Getúlio Vargas (sentado à esquerda) e Franklin Delano Roosevelt (sentado à direita), Rio de Janeiro, 1936 [CPDOC/GV]

Neste dia, em 1941, durante o Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial, realizava-se a assembleia geral de criação da Companhia Siderúrgica Nacional, empresa que marcaria o Estado intervencionista e desenvolvimentista do governo Vargas e o posicionamento do Brasil em favor dos países aliados contra os países do eixo na guerra.

O quê: Criação da Companhia Siderúrgica Nacional

Quando: 9 de abril de 1941

Onde: Rio de Janeiro

O que aconteceu?

Após a obtenção de um financiamento de US$ 20 milhões dos Estados Unidos, o Brasil, sob a presidência de Getúlio Vargas, pode viabilizar a construção de uma grande siderúrgica nacional para suprir o país do aço necessário para o parque nacional, as obras públicas e as forças armadas.

Dependente da exportação do café nos anos 30, o país era obrigado a importar produtos industrializados, com preços diretamente impactados pela crise de 29, afetando também a indústria cafeeira. Para importação do aço em quantidade suficiente, até os trilhos para sua ferrovia, o Brasil era obrigado a exportar minérios em lugar de empregá-los nas dispersas e pequenas empresas siderúrgicas.

A implantação de uma indústria siderúrgica nacional era de interesse estratégico do Brasil que vinha discutindo planos para sua viabilização desde a década de 20.

Um acordo assinado entre  o governo e a Itabira Iron Ore Company, em 1920, comprometia  a empresa americana a construir uma usina siderúrgica em troca do monopólio do transporte do minério, o que nunca aconteceu. Os contratos foram anulados em 1931, com a criação Comissão Nacional de Siderurgia, e a construção de uma siderúrgica voltou a ganhar prioridade em 1937, com o projeto do Estado Novo.  Outra tentativa de acordo, em 1939, com a empresa americana United Steel, nos EUA sob o governo do presidente Roosevelt, acabou sem resultados  concretos, mas com estudos de viabilização avançados. O Brasil já detinha as condições para criar sua empresa, desde conhecimento, matéria prima e mão de obra especializada, mas dependia de recursos. Os Estados Unidos não tinham interesse no projeto de siderúrgica nacional brasileira por dividirem com a Europa o monopólio da produção do aço e porque necessitava da matéria prima, o minério de ferro produzido no Brasil, para os países aliados. O projeto significaria também impulsionar a industrialização do Brasil e reduzir sua dependência de importações.

Em 1939, o governo Vargas mantinha missões de negociação, tanto nos Estados Unidos e Inglaterra, quando na Alemanha nazista, em busca de possibilidades de financiamento ao seu projeto siderúrgico. Em plena Segunda Guerra Mundial, a posição brasileira era do interessedos países aliados (França, Inglaterra, EUA e, posteriormente, URSS)  mas também dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e Getúlio Vargas jogou com isso.

Em junho de 1940, o presidente brasileiro fez um polêmico discurso pronunciado a bordo do encouraçado Minas Gerais, que foi interpretado como o anúncio da adesão do Brasil aos países do Eixo. Diante do risco sinalizado, os EUA se viram forçados a liberar o empréstimo através do Export-Import Bank of the United States (Eximbank), em troca do alinhamento brasileiro com as suas posições.

Com a entrada do recurso, a CSN foi constituída em 9 abril de 1941, como empresa de capital misto, na assembleia que aprovou sua primeira diretoria. O presidente da empresa, Guilherme Guinle, foi nomeado diretamente por Getúlio Vargas. A assembleia nomeou Ari Torres (vice-presidente), Macedo Soares (diretor-técnico) e Oscar Weinschenck (diretor-comercial).

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O que aconteceu depois

O ano seguinte à fundação da empresa foi determinante para a entrada no Brasil na Guerra, a partir dos compromissos assumidos nos Acordos de Washington e as pressões que os Estados Unidos passaram a fazer com a sua entrada efetiva na guerra. De um lado, o governo americano pressionava o Brasil a romper a neutralidade, sob pena da tomada do Nordeste.

Por outro lado, de fevereiro a agosto de 1942, dezenove navios brasileiros foram torpedeados pelas forças alemãs, o que causou a morte de 742 pessoas, levando a população a cobrar uma reação do governo.  Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista.

O Brasil participou da guerra cedendo bases navais e aérea no Nordeste para abastecimento de aeronaves e submarinos e enviando, 1944, os soldados da Força Expedicionária Brasileira para lutar na Itália.

Inauguração pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra da Companhia Siderúrgica Nacional, 1946. [Arquivo Nacional]

Inauguração pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra da Companhia Siderúrgica Nacional, 1946. [Arquivo Nacional]

A construção da CSN se estendeu até o pós-guerra, sendo inaugurada em 1946,  já na administração Gaspar Dutra.  A esta altura, Getúlio Vargas havia sido deposto e não participou da inauguração.

Na verdadeira cidade criada para abrigar as obras,  chegaram a trabalhar em Volta Redonda quase 10 mil homens e a usina ganhou status de instalação militar de “segurança nacional”, já sob os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943,  com organização sindical, mas também sob novas formas de vigilância política dos trabalhadores, sendo parte da história de resistência do movimento sindical no Brasil.

A CSN foi importante base da industrialização nacional, mas na década de 80, passou a enfrentar grave crise financeira. Em 2 de abril de 1993, após um intenso processo de cortes em nome do saneamento financeiro e demissões, e com o movimento sindical dividido, a CSN foi arrematada por US$ 1,05 bilhão, pelo consórcio de grupos empresariais privados Vicunha e Bamerindus e pela então estatal Vale do Rio Doce a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), dando início a uma série de privatizações no Brasil.

Protesto de trabalhadores contra a privatização da CSN.[Banco de dados Livro da Cidade]

Protesto de trabalhadores contra a privatização da CSN.[Banco de dados Livro da Cidade]

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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