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“Abraçamos muçulmanos e não-muçulmanos que chegam ou vivem no Brasil”

Entrevista com Sheik Jihad Hassan Hamadeh, vice-presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas

No Brasil, há muitas instituições a serviço da sociedade e seu povo, seja no nível religioso, político ou social. Elas desempenham um importante papel na preservação da existência e interdependência da sociedade brasileira.

A União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI) busca unificar diversas entidades islâmicas para potencializar o impacto dessas instituições em diversos campos da sociedade brasileira.

Nesta entrevista, o vice-presidente da UNI, Sheik Jihad Hassan Hamadeh, explica as diferentes formas de atuação e assistência ao povo brasileiro independente do credo.

Hamadeh é brasileiro, com pai sírio e mãe libanesa. Nasceu na Síria e migrou para o Brasil durante a infância, local onde cresceu. Estudou Direito Islâmico na Universidade Islâmica em Medina, na Arábia Saudita, e depois retornou ao Brasil, onde fez faculdade de Ciências Sociais e de História.

O que motivou a fundação da UNI e como ela atua?

Trabalhei anteriormente, a pedido da Presidência da República, no projeto do governo brasileiro de combate às drogas dentro do Brasil; foi pedido a nós, como clérigos, que estudássemos e elaborássemos um plano para ajudar a sociedade brasileira e limitar o impacto das drogas sobre os jovens, em particular.

Fui representante da comunidade islâmica e por muito tempo trabalhamos com instituições em cooperação com o governo brasileiro neste campo. Vimos resultados tangíveis desse projeto na prática e ainda precisamos de maior esforço do governo e das instituições para alcançar maiores resultados.

Sheik Jihad Hassan Hammadeh com sua família no Brasil (Arquivo Especial/Sheik Jihad Hassan Hammadeh)

Como parte da comunidade islâmica no Brasil, em 2005, sentimos a necessidade de unificar instituições islâmicas operantes no país e que defenda essas instituições, unifique seus assuntos e oriente corretamente. Baseado nisso, estabelecemos a União Nacional de Instituições Islâmicas que opera no Brasil, tendo a cidade de São Paulo como sede.

A UNI reúne entre trinta e quarenta instituições, cada uma é representada por um membro. Elas operam em diversos campos: religioso, assistencial, social e outros. Estamos trabalhando para unificar a palavra da comunidade islâmica e de todas as instituições que operam na união em relação ao governo brasileiro, às leis e à constituição. Por exemplo, há projetos em comum propostos por diferentes instituições islâmicas, como federação, unimos todos em um único projeto e o apresentamos ao Estado de forma organizada e clara, diminuindo os gastos.

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Quais são os principais obstáculos enfrentados?

Sem dúvidas, qualquer trabalho enfrenta obstáculos. A UNI inclui instituições de todo o território brasileiro, um território muito extenso que dificulta e encarece a movimentação. Para cobrir todos os estados é preciso dinheiro, então o obstáculo mais significativo é o financeiro. A falta de recursos limita o trabalho e a distância o atrasa.

A falta de pessoal trabalhando nessas instituições também impede nosso trabalho; precisamos de muitos voluntários para preencher essas lacunas. Existem muitas instituições que têm projetos prontos e só precisam de pessoas para implementá-los.

Apesar desses obstáculos, trabalhamos duro para atingir nossos objetivos e temos avançado muito.

Como as instituições da união ajudam os muçulmanos que vêm ao Brasil?

Se você olhar para o mundo árabe e islâmico há uma década, verá que os problemas existentes são diários. Temos abraçado muçulmanos e não-muçulmanos de diferentes países do mundo. Estivemos com imigrantes da Síria, Palestina, Iraque, Líbia, Egito e outros países que sofreram com guerras ou crises que forçam seus habitantes a migrar.

Nós os aconselhamos facilitando a moradia e estabilidade no Brasil; proporcionando assistência financeira, ajudando na integração com a comunidade brasileira e aconselhando para que trabalhem e se instalem confortavelmente. Nós tentamos, tanto quanto possível, estar presentes para oferecer alívio e assistência em todos os lugares que pudermos. Apesar das muitas crises sucessivas que dificultaram nosso trabalho, estamos usando toda nossa energia para atender as necessidades dos imigrantes no Brasil.

Também ajudamos nossos irmãos ao redor do mundo, mesmo que não tenham migrado para o Brasil. Por exemplo, uma grande conquista foi ajudar o povo libanês após a explosão do porto de Beirute, trabalhamos em cooperação com o governo brasileiro para entregar e distribuir ajuda às pessoas afetadas pela explosão. Nós também prestamos assistência a muitas famílias sírias que se refugiaram em diversos países e vivem em extrema pobreza.

Vocês ajudam imigrantes independente de sua religião?

Sim, claro, não fazemos distinção entre um muçulmano e um não-muçulmano. Temos empreendido muitos projetos no Brasil para ajudar brasileiros, sem considerar sua religião.

Há regiões brasileiras muito remotas, pobres e negligenciadas, que não são alcançadas nem mesmo pelo governo.  Um dos nossos projetos mais importantes, que se renova a cada ano, envolve ajudar essas regiões. Nós estabelecemos barracas de saúde em praças públicas, realizamos exames médicos abrangentes: exames de sangue, oftalmológicos e outros que ajudem a diagnosticar seus problemas de saúde. Procuramos resolver esses problemas por todos os meios possíveis e fornecemos medicamentos. Como muitos não têm carteira de identidade, cooperamos com o governo para emitir esses documentos através da associação. A Instituição Cinco Pilares (ICP), uma das maiores instituições assistenciais filiada à união, fornece alimentos, roupas e outras ajudas para que satisfaçam as necessidades básicas e alcancem a autossuficiência.

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É importante ressaltar que entre os nossos doadores há muçulmanos e não muçulmanos. Nós ajudamos os vizinhos das mesquitas como podemos e são, principalmente, não-muçulmanos. Ajudamos refugiados de países não-muçulmanos, como Venezuela e Haiti. Nós trabalhamos partindo de princípios humanitários e não apenas islâmicos.

Sheik Jihad Hassan Hammadeh em são paulo (Arquivo Especial)

Sheik Jihad Hassan Hammadeh em são paulo (Arquivo Especial)

O que você diria para a sociedade brasileira?

Gostaria de dizer que uma pessoa não pode viver sozinha, não pode estar isolada de outros. Se ela vive em uma sociedade, é importante pertencer à instituição que a representa, e fortalecê-la.

Eu aconselho e encorajo que todos escolham uma instituição que acreditem e amem e se voluntariem nela. Nós da União estamos prontos para dar o suporte e nossas portas estão abertas para o voluntariado e para qualquer um que queira contribuir, ajudar ou mesmo expressar sua opinião.  Todos estão convidados para participar de nossas reuniões abertas, às segundas-feiras, na Mesquita de Santo Amaro, às 20h30.

Eu posso garantir que quando uma pessoa participa das conquistas de uma instituição, ela sentirá alívio do fardo da vida e conforto psicológico em contribuir com a comunidade.

Além disso, estamos abertos a todas as instituições que desejem aderir à União que cumpram os requisitos.

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