Principal partido da Tunísia convoca protestos de rua, escalando disputa do governo

Apoiadores do partido Ennahda protestam pelo fim da crise política no país, marcado por disputas entre o Presidente Kais Saied e o Primeiro-Ministro Hichem Mechichi, em Túnis, capital da Tunísia, 27 de fevereiro de 2021 [Nacer Talel/Agência Anadolu]

O maior partido político da Tunísia mobilizou dezenas de milhares de apoiadores a saírem às ruas da capital Túnis, neste sábado (27), em uma demonstração de força que deverá agravar ainda mais a disputa entre o Presidente Kais Saied e o Primeiro-Ministro Hichem Mechichi, que paralisou o governo.

Tratam-se das maiores manifestações na Tunísia em anos. Correligionários do Ennahda viajaram de todas as partes do país e marcharam ao centro de Túnis, entoando palavras de ordem como “O povo quer proteger as instituições” e “O povo quer união nacional”.

As informações são da agência Reuters.

O partido Ennahda, liderado pelo Presidente do Parlamento Rashid Ghannouchi apoia o premiê Mechichi na disputa com o presidente, incitada pela reformulação de ministérios.

A disputa trouxe à tona meses de tensão entre as três proeminentes figuras políticas, após as eleições tunisianas de 2019, que resultaram em um parlamento fragmentado e na vitória de Saied, um candidato independente, à presidência.

O impasse político ocorre ainda sob um contexto preocupante de ansiedade econômica, protestos indignados, desilusão generalizada com o sistema democrático e demandas conflitantes por reformas – por um lado, credores internacionais; por outro, a poderosa federação sindical do país –, à medida que o pagamento da dívida externa se rarefaz.

LEIA: Ghannouchi diz que a revolução tunisiana precisa de ajuda

Saied indicou Mechichi como primeiro-ministro em julho de 2020, perante o colapso de um governo de apenas cinco meses. Entretanto, ambos se afastaram logo em seguida. Mechichi então exortou o apoio dos dois maiores partidos no parlamento – o Ennahda e o Coração da Tunísia, liderado pelo magnata de mídia Nabil Karoui, preso desde dezembro.

Em janeiro, Mechichi exonerou onze ministros de seu gabinete para reformular o governo, em medida vista como uma forma de substituir aliados de Saied por políticos do Ennahda e do Coração da Tunísia. O presidente recusou-se a empossar quatro dos novos ministros, ao alegar conflito de interesses.

Enquanto isso, protestos contra a desigualdade socioeconômica e abusos policiais concentravam-se majoritariamente em repudiar Mechichi e o partido Ennahda.

O Ennahda descreveu a marcha de sábado como “apoio à democracia”, embora analistas observem tratar-se de um esforço para mobilizar a população contra Saied, o que sugere o espectro de protestos concorrentes, capazes de incitar maior polarização e violência.

O orçamento da Tunísia para 2021 prevê a necessidade de 19.5 bilhões de dinares tunisianos (US$7.2 bilhões) em empréstimos, incluindo US$5 bilhões em empréstimos internacionais. O total da dívida externa a expirar neste ano chegou, assim, a 16 bilhões de dinares.

O índice de crédito da Tunísia despencou desde o início da pandemia de coronavírus e a inadimplência concernente à dívida externa disparou nas últimas semanas, despertando receios de que o país não consiga arrecadar recursos para superar a crise.

Contudo, reivindicações de credores estrangeiros por cortes orçamentários de longo prazo enfrentam forte oposição da mais poderosa federação sindical do país, dado que podem levar a reduções drásticas em programas sociais e desestabilizar ainda mais a estrutura de governo.

LEIA: A Primavera Árabe pode realmente ser uma conspiração israelense?

Sair da versão mobile