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Israel troca embaixador amigo de Bolsonaro por perfil mais discreto

Yossi Shelley beija a mão de Jair Bolsonaro durante solenidade de entrega da medalha da Ordem de Rio Branco, no Palácio Itamaraty, em Brasília, 3 de maio de 2019 [Antonio Cruz/Agência Brasil]
Yossi Shelley beija a mão de Jair Bolsonaro durante solenidade de entrega da medalha da Ordem de Rio Branco, no Palácio Itamaraty, em Brasília, 3 de maio de 2019 [Antonio Cruz/Agência Brasil]

O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, anunciou nesta quarta (24) estar deixando o posto. Ele, que tinha grande proximidade com a família Bolsonaro, será substituído por Danny Zonshine, diplomata considerado mais “discreto” que Shelley.

“Após quatro anos de trabalho intenso, posso dizer que me sinto de coração parte deste imenso e lindo país.”, disse Yossi Shelley em publicação nas redes sociais.

Shelley publicou fotos da cerimônia em que recebeu do chanceler Ernesto Araújo a condecoração da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, principal comenda dada pelo presidente da República a personalidades estrangeiras.

“Com muita felicidade anuncio que hoje tive a honra de ser agraciado pelas mãos do chanceler Ernesto Araújo com a comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Grã-Cruz, em razão do trabalho que fielmente me dediquei durante quatro anos como embaixador de Israel no país.”, escreveu Shelley. “Juntos, Israel e Brasil construíram nos últimos anos uma relação sólida de amizade e que vem rendendo frutos nas mais diferentes áreas. Os avanços são inúmeros e assim continuarão.”

Ele publicou fotos das homenagens recebidas e uma foto do presente que recebeu de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado federal: uma garrafa do vinho “Bolsonaro – Il Mito”.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel escolheu Daniel Zohar-Zonshine para substituí-lo em Brasília. Shelley está no posto desde 2017 e após o anúncio tentou se articular para permanecer no cargo. Em dezembro, o jornalista Lauro Jardim noticiou que o israelense pediu diretamente a Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro para permanecer no cargo e ambicionava convencer Jair Bolsonaro a pedir por ele diretamente ao governo de Israel.

Ualid Rabah, presidente da Federação de Instituições Palestinas no Brasil (Fepal), define  Yossi Shelley como um diplomata de comportamento “bufão”, que “mais do que flertou com todos os extremistas da cena brasileira e pousou com todos os racistas declarados”.

“[Shelley] buscou nestes setores o apoio que Israel perdia nos setores mais civilizados, que começam a perceber que Israel é a grande metrópole mundial do racismo, da intolerância, da difusão do discurso e dos métodos que têm o ódio como fundamento. E, de certa forma, representou o que Israel é hoje publicamente: um regime racista, de apartheid, que busca apoio dos setores mais extremistas no mundo, até mesmo os apoiando para que triunfem eleitoralmente.”

LEIA: Embaixador de Israel cobra mudança da embaixada brasileira para Jerusalém

O substituto, Danny Zonshine, é um diplomata de carreira; foi embaixador de Myanmar (2014-2018), cônsul geral na Índia (2005-2008) e conselheiro da embaixada brasileira em 2001.

Na opinião de Rabah, Zonshine parece ser mais discreto que Shelley, mas é preciso não se deixar enganar com isso, “porque o que está em tela não são os punhos de renda de diplomatas mais cuidados versus bufões.”. Segundo ele, ”o que está em jogo é a natureza de Israel, cada vez mais belicosa, cada vez menos desejosa de paz na Palestina e, ainda, cada vez mais promotora no mundo da criminalização da agenda palestina, inclusive buscando impor aos países que adotem legislações neste sentido, travestidas de combate ao terrorismo e ao mal definido “antissemitismo”.”

“Assim como não adiantaria criminalizar ou elogiar o capitão do mato e esquecer o real problema, o regime escravista, idem para Israel e seus diplomatas. Eles representam os interesses de Israel e ponto final.”, afirma.

O presidente da Fepal destaca que o problema não é os diplomatas de plantão e sim o próprio Estado de Israel, que é campeão em crimes contra a humanidade e em prejuízos comerciais ao Brasil.

“O que precisamos analisar é o quanto o Brasil perde com Israel. Somente nos últimos dois anos tivemos prejuízos na balança comercial com Israel na ordem de mais de 1,5 bilhão de dólares, isto é, algo em torno de 8 bilhões de reais. E esta balança jamais se inverterá. E isto à custa de prejuízos com países que dão superávit ao Brasil. Um exemplo: para agradar a Israel, o Brasil passou a hostilizar o Irã, que dava ao Brasil seu 5º maior superávit na balança comercial. Graças a isso este superávit caiu 1 bilhão de dólares. Ou seja: para agradar ao regime de apartheid de Israel, o Brasil acetou ter déficit comercial com o lado israelense, isto é, ter prejuízo, perder empregos, e jogar na lata do lixo um superávit de quase 6 bilhões de reais, num só ano, o ano passado, com o Irã.”

Ele também relembra que Zonshine, que ocupava o cargo de diretor de Assuntos Públicos do Ministério das Relações Exteriores de Israel, durante o mandato do presidente Lula, foi destacado para “bombardear a posição brasileira na negociação nuclear com o Irã” e teve “papel na dinamitação da diplomacia brasileira”.

A troca ainda depende da aceitação do nome pelo Itamaraty e não tem data para ser efetivada. Também não foi anunciado se Yossi Shelley ocupará algum novo cargo político.

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