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Memo conversa com Ana Prestes

O cenário internacional ainda pode exigir a substituição de Ernesto Araújo, diz a cientista política

Em entrevista ao Monitor do Oriente, a cientista política e analista internacional, Ana Prestes, analisou o cenário político atual após as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, falou sobra a política externa brasileira, o novo governo de Biden nos Estados Unidos e a questão Israel e Palestina.

Sobre a possível substituição do ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, muito criticado por membros do governo, mas que segue tendo o apoio do presidente Bolsonaro, Ana conta que o que se ouve na câmara é que a recomposição do Itamaraty, para um perfil menos confrontacionista que de Araújo, pode acontecer devido a “necessidade de uma recomposição com o governo dos Estados Unidos e uma recolocação no mundo”.

“Eu ainda tenho dúvidas sobre a substituição. Eu confesso que às vezes acho que vai (sair), mas depois acho que não vão tirar ele. Porque ele é realmente muito ligado ao núcleo bem familiar do Bolsonaro e filhos, aquele núcleo duro do governo. Eu acho complicado. Essa vitória do Biden nos Estados Unidos pode mudar isso; se tivesse continuado o Trump, ele não tiraria o Araújo de forma alguma.”, comenta.

“Agora, com a presidência da câmara mais alinhada ao presidente Bolsonaro, a tendência é que mesa e comissão de Relações Exteriores se comuniquem mais, e estejam mais alinhadas ao Itamaraty. Há muitas especulações se haverá mudanças no Itamaraty, então estamos aguardando se vai continuar nessa linha bolsolavista, (referindo-se à influência ideológica do astrólogo ultradireitista Olavo de Carvalho sobre o atual governo) que é uma linha mais de confrontação com a China, Venezuela…Ou se virá uma linha mais equilibrada; como na época de Temer, que foi ao Líbano. Alguém mais conciliador.”, analisa, Prestes.

Para a cientista política, o país continuará alinhado aos interesses de Israel. Esse cenário, ela acredita,  não mudará independentemente de quem vencer as eleições para primeiro-ministro do Estado que ocupa a Palestina . “Eu acredito que o governo Bolsonaro vai continuar muito próximo de Israel, endossando suas políticas, inclusive contra o povo palestino”, diz.

Ana Prestes também comentou a decisão do Tribunal Penal Internacional, no último dia 5, de que a corte pode julgar os crimes cometidos por Israel em todos os territórios palestinos. Ela relata que a decisão não deve mudar muito o cenário de impunidade com os crimes cometidos por Israel contra o povo palestino, porque os processos no tribunal são muito demorados e “têm pouca efetividade prática”, além de estar “suscetível a um jogo de poder”.

“Infelizmente, nesses últimos anos, com Trump e Netanyahu, a gente viu um desequilíbrio ainda maior no balanço entre o reconhecimento da soberania, território e do estado palestino, em uma ocupação brutal.” Para ela, a causa palestina está sendo estrangulada pelo poder de Israel e Estados Unidos. “É preciso um reordenamento, que os países europeus possam se alinhar; que a China, Rússia e Irã se imponham também para desequilibrar isso.”, comenta.

Ana Prestes também é escritora de livros infanto-juvenis. Em 2017, ela publicou “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”, explicando porque, no dia 8 de março, as mulheres do mundo todo se colocam em defesa dos seus direitos. E, recentemente, lançou em coautoria com seus primos, “Minha Valente Avó”, um livro sobre as mulheres que lutaram contra a ditadura militar e hoje são avós. e uma homenagem dos netos à Maria Prestes.

A entrevistada é neta de Luiz Carlos Prestes, famoso militar e político brasileiro que liderou a marcha da “Coluna Prestes” (1924-1927) e o movimento da “Intentona Comunista” (1935). Ele foi considerado um dos maiores líderes revolucionários da América Latina. Sua avó, Maria Prestes, foi militante da Juventude Comunista Brasileira. Ao lado de Carlos Prestes, teve uma vida marcada pela militância comunista, clandestinidade e exílio. Ela acaba de completar 91 anos e o livro foi escrito em sua homenagem.

Ana é cientista social, doutora em ciência política pela UFMG e doutoranda em história pela UnB e escritora de livros infantis. Foi diretora da União da Juventude Socialista, integra o Comitê Central do PCdoB. Atualmente, ela escreve a coluna “Notas Internacionais” no site Opera Mundi, coluna que virou também o podcast “A Semana no Mundo”.

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