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O ‘Quarteto de Munique’ deve continuar a lembrá-los; isso pode ajudar alguns

Palestinos protestam contra o acordo do século, na Cidade de Gaza, em 12 de janeiro de 2019. [Mahmoud Ajjour/ApaImages]
Palestinos protestam contra o acordo do século, na Cidade de Gaza, em 12 de janeiro de 2019. [Mahmoud Ajjour/ApaImages]

A quarta reunião do “Quarteto de Munique” – Alemanha, Jordânia, Egito e França – terminou esta semana no Cairo. Estava principalmente preocupada com a questão palestina. A quinta reunião está prevista para acontecer em Paris, após a amarga transferência de poder de Donald Trump para Joe Biden em Washington. As primeiras quatro reuniões ocorreram durante o mandato de Trump e incluíram um confronto moderado e medido com o tsunami do acordo do século.

O Quarteto de Munique é importante em termos de membros e funções. Inclui os dois maiores países da União Europeia, bem como os dois países que assinaram tratados de paz com Israel, Egito e Jordânia, há 42 e 27 anos, respetivamente. Seu trabalho é manter acesa a chama da solução de dois estados, em face das tentativas dos EUA e de Israel de descartá-la e dos esforços de Trump e Benjamin Netanyahu para atacar todos os seus componentes: o estado independente nas fronteiras de 1967; Jerusalém Oriental enquanto a capital da Palestina; refugiados; e UNRWA.

É verdade que esse quarteto não foi capaz de mudar o rumo das políticas dos Estados Unidos e de Israel, pois seus membros não têm capacidade coletiva nem individual de influenciar o processo de tomada de decisão em Washington e Tel Aviv. No entanto, tem servido como a voz do consenso internacional e da legitimidade em face do unilateralismo americano e da arrogância israelense. O grupo agiu, portanto, com base no versículo do Alcorão: “Lembre-os, pode ajudar alguns”, e isso é importante, apesar dos resultados modestos.

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Agora, com a mudança iminente em Washington, esse quarteto vai adquirir uma nova tarefa, pavimentando o caminho para o governo Biden pedir uma solução de dois estados; prometendo restaurar as relações com os palestinos e retomar o apoio financeiro para eles; reabrindo do escritório da OLP em Washington; e reabrindo o consulado dos EUA em Jerusalém Oriental. O retorno dos Estados Unidos às suas posições e políticas anteriores com relação à questão palestina daria ao Quarteto de Munique credibilidade adicional.

No entanto, não tenho certeza sobre a necessidade básica de manter essa estrutura específica, ou se é melhor passar para um “quarteto internacional” ou uma versão “expandida”, o que está sendo discutido atualmente. Há previsões palestinas de que Washington não se oporá a retornar ao “Quarteto do Oriente Médio” internacional (ONU, EUA, UE e Rússia) e está aberto à ideia de expandi-lo para incluir partidos regionais, como Jordânia, Egito, Marrocos e talvez a Arábia Saudita. Os alemães e franceses seriam representados no novo agrupamento pelo representante da UE.

Não há dúvida de que o Quarteto de Munique continuará ganhando importância política, todavia pelo menos até que as intenções e a vontade do governo Biden sejam esclarecidas, já que as afirmações do presidente eleito sobre a abordagem multilateralista que pretende adotar na política externa não deveriam ser entendidas como aplicáveis automaticamente à questão Palestina-Israel. A experiência nos ensinou que Washington vê Israel como uma exceção à qual as regras normais não se aplicam, a menos que sejam aprovadas pelos israelenses, e de uma forma que atende aos seus interesses em primeiro lugar.

Se parecer que Washington não adotará uma abordagem multilateral em seus esforços para resolver o conflito devido à pressão israelense – e esta é uma possibilidade muito real, ao menos uma probabilidade para alguns -, então a existência de estruturas como o Quarteto de Munique serão importantes ao propósito de conter a pressão pró-Israel sobre Washington. O objetivo é pressionar os Estados Unidos a incluírem todos os principais atores na busca por uma solução que garanta o mínimo de direitos e interesses básicos dos palestinos.

Ao longo da história do conflito árabe-israelense, nos acostumamos com a Europa desempenhando o papel de “dublê” na ausência de um ator americano genuíno. Quando o governo dos Estados Unidos está ausente por um motivo ou outro, uma capital europeia intervém para distrair as partes, não para preencher o vazio americano. Dessa vez, há dois jogadores europeus com o mesmo desejo de dois grandes jogadores árabes de manter viva a chama da solução de dois estados. Todos têm o que desejam, e o que precisamos agora é que o ator americano genuíno dê um passo à frente.

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Este artigo foi publicado pela primeira vez em árabe na Addustour, em 13 de janeiro de 2021, e foi traduzido e editado para o MEMO.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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