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A Revolução tunisiana de Jasmim

Uma mulher segura a bandeira nacional tunisiana durante um protesto em 14 de Janeiro de 2016 [FETHI BELAID/AFP/Getty Images]
Uma mulher segura a bandeira nacional tunisiana durante um protesto em 14 de Janeiro de 2016 [FETHI BELAID/AFP/Getty Images]

 Neste dia, em 2011, o ditador tunisiano Zine El Abidine Ben Ali demitiu-se após o início da Revolução de Jasmim no país, dando início ao que conhecemos como Primavera Árabe.

O quê: A Revolução de Jasmim

Onde: Tunísia

Quando: 17 de Dezembro de 2010 – 14 de Janeiro de 2011

O que aconteceu?

 Em 17 de Dezembro de 2010, Mohammed Bouazizi, um ambulante de 26 anos, teve o seu carrinho de produtos frescos confiscado por uma policial que o insultou e esbofeteou quando ele protestou. Mais tarde, os funcionários locais recusaram-se  a ouvir suas queixas. Frustrado e envergonhado com a humilhação pública que tinha sofrido, Bouazizi incendiou-se diante do edifício municipal de sua cidade Sidi Bouzid.

A auto-imolação fatal de Bouazizi foi a gota d’água da raiva contida sobre corrupção governamental, igualdade social, desemprego e repressão política. Os protestos começaram em Sidi Bouzid nesse mesmo dia e se espalharam pela Tunísia, levando à expulsão do então Presidente Zine El Abidine Ben Ali, que tinha governado o país durante 23 anos. Isto inspirou o povo de outros países árabes a erguerem-se contra os seus ditadores.

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A 14 de Janeiro de 2011, Ben Ali afastou-se do poder e fugiu para a Arábia Saudita, marcando a primeira vez que um ditador árabe cai por uma revolta popular e não por um golpe de estado. Segundo as Nações Unidas, pelo menos 300 pessoas foram mortas durante a revolta tunisiana, enquanto dezenas de manifestantes, ativistas e jornalistas foram presos.

O que aconteceu depois?

 Entre 1956 e 2011, a Tunísia funcionou de fato como um Estado de partido único, com a política dominada pelo secular Reunião Constitucional Democrática (RCD) com os ex-presidentes Habib Bourguiba, que liderou a luta pela independência da Tunísia em relação à França, e depois Zine El Abidine Ben Ali.

Ex-presidente tunisiano Zine Al-Abidine Ben Ali [Wikipedia] A chamada Revolução de Jasmim abriu caminho para uma democracia multipartidária na Tunísia. Os presos políticos foram libertados e os membros de partidos políticos anteriormente exilados puderam regressar à sua pátria.

Após a queda de Ben Ali, houveram três governos interinos antes das primeiras eleições democráticas para a Assembleia Constituinte em 2011. Isto levou à formação do primeiro governo democrático da Tunísia no fim do mesmo ano. O veterano político tunisiano Moncef Marzouki foi nomeado Presidente.

Em 2014, a Tunísia aprovou uma nova Constituição e, mais tarde naquele ano, realizaram-se as primeiras eleições parlamentares democráticas desde o início da revolução. Os resultados foram anunciados em 27 de Outubro de 2014 com o partido laico Nidaa Tounes – fundado em 2012 – tendo ganho 38% dos votos expressos, demonstrando a pluralidade. No mês seguinte, realizaram-se as primeiras eleições presidenciais e Beji Caid Essebsi tornou-se Presidente, com 55,68% dos votos no segundo turno.

Tunísia hoje

A transição pós-revolução da Tunísia para a democracia tem sido vista como relativamente suave e pacífica, pelos padrões da região de qualquer forma, com os meios de comunicação tunisianos tendo mais liberdade do que nunca agora. O crescimento econômico do país, no entanto, continua a ser demasiado baixo para superar os grandes desafios de desemprego e desigualdade social.

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Em Maio de 2017, o então primeiro-ministro tunisiano Youssef Chahed declarou guerra à corrupção, propagada durante o tempo de Ben Ali e que se manteve endêmica até então. No entanto, uma lei aprovada naquele ano concedeu anistia aos funcionários acusados de corrupção sob o mandato de Ben Ali; o que provocou a ira pública.

Hoje em dia, os tunisinos sentem que os sucessivos governos não conseguiram governar o país adequadamente e fornecer soluções para os graves problemas económicos e sociais.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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