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Ministro da Saúde do Líbano descreve as mortes pela explosão em Beirute como ‘destino’

Danos causados pela enorme explosão no porto de Beirute, capital do Líbano, em 5 de agosto de 2020 [Anwar Amro/AFP/Getty Images]
Danos causados pela enorme explosão no porto de Beirute, capital do Líbano, em 5 de agosto de 2020 [Anwar Amro/AFP/Getty Images]

O Ministro da Saúde do Líbano Hamad Hassan despertou indignação no país ao alegar, em entrevista televisionada ontem (4), que as mortes causadas pela explosão no porto de Beirute foram “obra do destino”.

Hassan afirmou ainda que as vítimas do coronavírus foram responsáveis pela própria morte, pois expuseram a si mesmas ao contágio.

Os controversos comentários do ministro libanês foram sua resposta quando questionado sobre quem é o responsável de fato pelo rápido aumento nos índices de infecção e mortalidade por coronavírus no país.

Declarou Hamad Hassan: “Podemos dizer que a explosão e aqueles que morreram são obra do destino, mas os mortos por coronavírus ou infectados, na minha opinião, são responsáveis [pelo contágio], queiram ou não”.

A declaração precede um iminente retorno ao lockdown absoluto no Líbano, por três semanas, incluindo toque de recolher, a fim de conter a propagação da doença.

Os comentários de Hassan incitaram indignação online. Usuários libaneses do Twitter reagiram com veementes protestos à tentativa do ministro de desviar de sua própria responsabilidade.

Salman Andary, repórter da Sky News Arabia, descreveu a fala de Hassan como “provocadora” e reiterou que a culpa pelo aumento nas mortes deve-se diretamente às decisões políticas do próprio Ministério da Saúde.

Outros responsabilizaram o governo em exercício como um todo, diante do aumento no contágio, ao denunciar a indiferença e corrupção sistêmica da elite política libanesa, que levou à explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020.

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Sarah Copland, oficial das Nações Unidas, escreveu nas redes sociais: “A morte de meu filho não foi destino, foi resultado de corrupção e negligência. Aqueles responsáveis devem ser julgados por matá-lo tão jovem!”

A investigação sobre a causa da explosão em Beirute, que o governo prometeu durar apenas cinco dias, logo após o desastre, foi suspensa de modo inconclusivo em dezembro.

O juiz Fadi Sawwan decidiu suspender o inquérito após dois ex-ministros indiciados solicitarem à Suprema Corte que transferisse o caso a outro tribunal. Permanece incerto quando ou se a investigação será retomada.

O então Primeiro-Ministro Hassan Diab também foi indiciado por negligência criminosa, mas recusou-se a comparecer a uma audiência para ser questionado por Sawwan.

O Líbano se ergue das cinzas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

O Líbano se ergue das cinzas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Investigações internacionais – incluindo um inquérito do FBI, nos Estados Unidos – não conseguiram determinar com precisão a causa do desastre. Contudo, tornou-se claro que a explosão decorreu de 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenados inadequadamente.

Tensões provenientes da sensível investigação macularam o processo de formação de um novo gabinete ministerial, deixando o Líbano sem qualquer governo funcional desde a renúncia de Diab, em agosto, após o trágico episódio.

Qassem Hashem, membro do parlamento e representante do bloco Desenvolvimento e Liberdade, exortou hoje (5) aos líderes partidários a reintegrar os poderes do governo em exercício, a fim de solucionar o impasse político.

Em comentários divulgados pela revista Al-Anbaa, Hashem fez um apelo por uma decisão “excepcional”, ao argumentar: “A necessidade remove restrições”.

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