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Relembrando o assassinato israelense de quatro crianças nas praias de Gaza

Em 16 de julho de 2014, mísseis israelenses mataram quatro crianças da mesma família em uma praia de Gaza

O que: Mísseis israelenses matam quatro crianças da mesma família no litoral palestino

Quando: 16 de julho de 2014

Onde: Faixa de Gaza, Palestina ocupada

O que aconteceu?

A ofensiva militar de Israel sobre Gaza, em 2014 – “Operação Margem Protetora”, entre 8 de julho e 26 de agosto – representou um dos ataques mais mortais executados contra os palestinos residentes na pequena faixa costeira sitiada. Além da enorme destruição de infraestrutura civil e uso desproporcional de ataques aéreos, muitos dos crimes de guerra cometidos por Israel na ocasião tiveram como alvo deliberado áreas civis. Pode-se alegar que este fator representa o mais chocante dentre tais crimes.

Na tarde de 16 de julho, quatro crianças pertencentes a família Bakr aventuraram-se no pequeno porto de uma praia da Cidade de Gaza, brincando perto dos barcos que seus pais usavam para pescar, como única forma de subsistência.

LEIA: Relembrando a ofensiva israelense contra Gaza de 2014

Durante a ofensiva, Israel proibiu todos os pescadores palestinos de navegar com suas embarcações e fundamentalmente fechou o porto de Gaza.

Enquanto os quatro primos – Mohammad Ramiz Bakr (11), Ismail Mahmoud Bakr (9), Ahed Atef Bakr (10) e Zakariya Ahed Bakr (10) – brincavam no local com outras crianças da família, forças israelenses bombardearam a área e os barcos de pesca. Um dos meninos morreu imediatamente. Os outros três começaram a correr, quando uma segunda bomba também os atingiu.

Três outros membros da família Bakr foram gravemente feridos no ataque: Hamad Bakr (13), atingido por um estilhaço no peito; Motasem Bakr (11), ferido na cabeça e nas pernas; e Mohammad Abu Watfah (21), cujo o estômago também foi atingido por estilhaços de bomba.

Tyler Hicks, fotógrafo do New York Times, testemunhou o segundo ataque após ouvir “uma explosão perto, muito alta”. Em seguida, escutou a segunda explosão, enquanto juntava seu equipamento. Mais tarde, recordou: “Eu vi o menino correr; mal pude reagir e já estava morto. É essa a imagem que fica comigo.”

O que aconteceu a seguir?

Após o assassinato dos quatro meninos, o Exército de Israel admitiu ter conduzido o ataque, ao classificá-lo como “resultado trágico” e alegar ter confundido as crianças com militantes do Hamas. O episódio despertou forte indignação internacional. Em resposta, Israel lançou sua própria investigação interna sobre os assassinatos, concluída quase um ano mais tarde, em junho de 2015.

O relatório resultante essencialmente exonerou Israel de qualquer responsabilidade sobre as mortes. Afirmou: “O incidente ocorreu em uma área há muito conhecida como complexo pertencente a polícia naval do Hamas, utilizada exclusivamente por militantes”. Este complexo, prosseguiu a declaração, “abrange a extensão do quebra-mar da costa marítima da Cidade de Gaza, fechado por uma cerca e claramente separado da praia que serve à população civil.”

Tal foi a alegação do Exército de Israel, embora a barraca perto do local onde brincavam as crianças estivesse perfeitamente à vista de hotéis próximos onde se hospedavam jornalistas internacionais. Todos os repórteres presentes relataram o que viram: não havia nenhum militante na área no momento do ataque.

A declaração militar israelense continuou: “Executamos uma série de ataques ao complexo nos dias que antecederam o incidente”. Alegou ainda que, em um ataque conduzido no dia anterior, “um contêiner localizado dentro do complexo, utilizado como depósito militar, foi atingido.”

A afirmação, novamente, contradiz os relatos de muitos dos jornalistas que ali estavam. O complexo em questão, confirmaram as testemunhas, dava acesso fácil tanto a pescadores quanto a residentes palestinos que visitavam a praia para nadar e relaxar. Portanto, representava uma localidade improvável para o Hamas manter de fato seus suprimentos militares. Além disso, o contêiner descrito no relatório israelense afinal não possuía qualquer equipamento militar, como revelou inquérito.

LEIA: Marinha de Israel dispara contra pescadores de Gaza, forçando-os a voltar à costa

Em agosto de 2018, a rede The Intercept revelou informações de um relatório secreto da Polícia Militar de Israel que sugeriram que os ataques foram conduzidos sem qualquer autorização. Segundo o vazamento, operadores de drones israelenses confessaram ter contactado seus superiores após o assassinato da primeira criança, solicitando permissão para o segundo ataque e orientações sobre o que fazer com os outros meninos que fugiam, supostamente confundidos com militantes do Hamas. O relatório declara, no entanto, que “menos de um minuto depois, operadores de drones decidiram lançar o segundo míssil, matando três outras crianças, apesar de jamais terem obtido uma resposta à pergunta.”

O assassinato dos meninos da família Bakr representou para muitos mais uma evidência clara de que Israel buscou atingir civis e áreas civis indiscriminadamente, nos numerosos ataques aéreos que executou contra Faixa de Gaza. O caso simbolizou o massacre de inocentes pelas mãos do exército Israelense, pois as crianças facilmente seriam percebidas como inofensivas e distinguidas de combatentes do Hamas, ou ainda sequer relacionadas a qualquer conflito político que possa eventualmente incitar a morte de civis.

Mal se passaram três anos e Israel prendeu os pescadores da família Bakr. Enquanto isso, ao menos 1.500 casas palestinas destruídas na mesma ofensiva de 2014 ainda precisam ser reconstruídas.

Seis anos depois, justiça ainda não foi feita à família Bakr. A “investigação” de Israel sobre seus próprios crimes de guerra garantiu a impunidade.

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