Israel constrói nova estrada colonial entre Jerusalém e assentamentos

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Obras estão em curso para construção de um grande anel rodoviário no território ocupado de Jerusalém. Oficiais israelenses alegam que a estrada beneficiará a todos os residentes, mas críticos do projeto denunciam que se trata de mais um obstáculo às esperanças palestinas de ter Jerusalém Oriental como capital de seu futuro estado.

A estrada, denominada Rodovia Americana, conectará assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada localizados a norte e sul de Jerusalém.

As sessões central e sul da rodovia já estão em construção; editais para a extensão norte – com custo estimado de US$187 milhões – serão publicados mais adiante, ainda este ano, segundo informações concedidas por um funcionário municipal de Jerusalém à agência Reuters, sob condição de anonimato.

O projeto percorre o perímetro ou arredores de Jerusalém Oriental em sua quase totalidade. No total, são estimados investimentos em mais de US$250 milhões.

Israel anexou Jerusalém Oriental após a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, junto da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em medida jamais reconhecida pela comunidade internacional.

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A construção ocorre às vésperas da implementação de planos do governo israelense para anexar assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, conforme promessa eleitoral do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu. Discussões do gabinete estão previstas para ter início em 1° de julho. A decisão unilateral atrai enorme crítica internacional, após anos de impasse nas conversas de paz entre israelenses e palestinos, desde 2014.

A rodovia inclui um túnel de 1.6 quilômetros a leste do Monte das Oliveiras. Oficiais israelenses argumentam que a obra aliviará o congestionamento para cidadãos israelenses e palestinos que residem na área.

“[A estrada] não une assentamentos. Não se trata de unificar fronteiras ou limites municipais”,  alegou Arieh King, vice-prefeito israelense de Jerusalém e figura de destaque no movimento colonial judaico na cidade ocupada. “Mas os conecta melhor à vida diária – seja para estudos, turismo ou comércio. Então, na prática, cria uma enorme metrópole de Jerusalém.”

Palestinos denunciam que a estrada favorecerá colonos e prejudicará ainda mais a viabilidade do estabelecimento de Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado da Palestina, a ser constituído junto dos territórios da Cisjordânia e Gaza.

Por e-mail, Fadi Al-Hidmi, Ministro da Autoridade Palestina para Assuntos de Jerusalém, declarou:

Este projeto isola os bairros palestinos da cidade uns dos outros.

Em resposta à Reuters, Al-Hidmi caracterizou a chamada Rodovia Americana como parte do projeto ilegal israelense de imposição de um anel rodoviário sobre os territórios ocupados. “[A estrada] cerca Jerusalém Oriental para conectar os assentamentos israelenses e isolar ainda mais a capital palestina ocupada do resto da Cisjordânia.”

Os assentamentos ilegais na Cisjordânia foram construídos por sucessivos governos sionistas sobre terras capturadas em 1967. Mais de 400.000 colonos israelenses vivem na região, além de 200.000 colonos em Jerusalém Oriental. Os assentamentos são terminantemente ilegais segundo a lei internacional. Israel contesta, ao alegar necessidades de segurança e laços bíblicos ou históricos com a terra ocupada.

Arieh King afirmou que a estrada representará um “corredor significativo” para o bloco colonial de Gush Etzion, na região sul da Cisjordânia, além de assentamentos como Har Homa (sul de Jerusalém Oriental) e Maale Adumim (leste de Jerusalém), que abrigam 40.000 colonos.

Entretanto, residentes árabes de bairros de Jerusalém Oriental como Umm Tuba e Sur Baher também deverão se beneficiar, segundo King, porque a obra reduzirá o tempo de viagem na região.

O Ministério dos Transportes de Israel não respondeu perguntas sobre o caso, ao direcioná-las à prefeitura israelense de Jerusalém.

Daniel Seidemann, advogado israelense que representa algumas das famílias palestinas afetadas pelo projeto, relatou à Reuters que a rodovia enquadra-se na estratégia histórica israelense de utilizar projetos de infraestrutura para assegurar “anexação de fato” de territórios ocupados.

Declarou Seidemann, especialista em questões geopolíticas de Jerusalém:

O que vemos aqui é, novamente, a integração contínua do norte da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, sob controle único de Israel, com a área sul da Cisjordânia, para propósitos coloniais. Esta é a motivação e o fato de que beneficiará de algum modo palestinos de Jerusalém Oriental é meramente colateral, nada mais.

Documentos de planejamento analisados pela Reuters e visitas à área para preparação da rota rodoviária mostram que o projeto se estenderá por mais de 8 km. Dezenas de palestinos que vivem no caminho da Rodovia Americana destacam tais fatores e a proximidade da rodovia a grandes assentamentos como evidências de que a estrada é projetada fundamentalmente para aprazer interesses coloniais.

A escala do projeto, que recebe seu nome de uma pequena via antiga que corta a região sudeste de Jerusalém, é notória a 4 km da cidade central, onde uma enorme ponte é construída em vale remoto. A estrutura cinzenta de 230 metros, cuja silhueta pode ser vista de fora do vale, impõe-se sobre a paisagem rural da região. Betoneiras operam nos bairros palestinos de Sur Baher e Jabal al-Mukabar, circundados por colinas históricas.

Outdoors anunciam que a conclusão da sessão da rodovia perto de Har Homa está prevista para agosto de 2021. O assentamento ilegal foi construído por Netanyahu na década de 1990, às margens da cidade palestina de Belém.

“Vivemos em um paraíso e agora estamos sob a rodovia”, relatou Khader Attoun, cuja casa tem vista direta à ponte em construção. “Israel quer nos espremer para fora de nossas terras e nos confinar a casas minúsculas, para que colonos dirijam em rodovias instaladas pelos vales de nossos ancestrais”.

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