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OTAN e Nações Unidas devem decidir se estendem a mão ou cruzam os braços

Comboio de trezentos veículos blindados das Forças Armadas da Turquia a caminho da fronteira síria, em apoio às unidades militares estacionadas na região crítica, em Hatay, Turquia, 10 de fevereiro de 2020 [Burak Milli/Agência Anadolu]

Tensões escalaram rapidamente no noroeste da Síria após a morte de mais outro soldado turco por forças do regime de Bashar al-Assad, com apoio russo. O número de baixas da Turquia atinge agora o índice de vinte mortes, à medida que tanto o presidente turco Recep Tayyip Erdogan quanto sua contraparte russa Vladimir Putin veem-se encurralados em um canto no qual jamais desejaram estar. A recusa de ambos os homens fortes em voltar atrás agora significa que sírios inocentes e mesmo combatentes de todos os lados têm de enfrentar o prospecto de um massacre iminente.

Sobretudo, é absolutamente inútil que as Nações Unidas continuem a clamar debilmente por um cessar-fogo. No que se refere ao Oriente Médio dos dias de hoje, este tipo de coisa existe apenas no papel e raramente dura mais do que o tempo necessário para que a tinta seque.

A OTAN emitiu diversas advertências – como se realmente fossem necessárias – de que a Turquia é um membro significativo da aliança. Os Estados Unidos concentram-se na reação de Ancara conforme chegam relatos de mais soldados turcos mortos em campo.

“Enviamos nossas condolências ao governo turco pela morte destes soldados”, relatou uma porta-voz do Departamento de Estado americano à agência Anadolu, sob condição de anonimato. “Tais ataques resultaram na morte de diversos oficiais turcos. Ficamos ao lado da Turquia, nosso aliado da OTAN, contra tais ações.”

Bom, sinto muito, mas tanto a OTAN quanto os Estados Unidos parecem estar confusos sobre o termo “ficar ao lado”. Ambos parecem preferir simplesmente observar sem fazer nada. Caso realmente estivessem “ao lado” da Turquia, estariam dispostos a agir de uma forma ou de outra.

Enquanto isso, o massivo êxodo civil decorrente de uma guerra civil que matou mais de um milhão de sírios, deslocou milhões e deixou grandes porções do país em absoluta ruína, continua intenso.

As Nações Unidas deveriam ter percebido anos atrás que um acordo pacífico não seria alcançado enquanto o Presidente da Síria Bashar al-Assad se mantivesse no poder. Seria possível a assinatura de um acordo de paz com Adolf Hitler e o Terceiro Reich em qualquer momento da Segunda Guerra Mundial? Pois esta é a magnitude equivalente da tarefa que a ONU insiste ser possível.

Erdogan deve reunir-se com Putin e Angela Merkel – chanceler da Alemanha – no próximo mês, a fim de discutir a situação em Idlib. O encontro deveria ser antecipado como questão de urgência; para esta semana, preferencialmente segunda ou terça-feira.

Em termos fundamentalmente realistas, a Turquia – que já acolhe 3.7 milhões de refugiados sírios – chegou ao ponto de saturação e é preciso observar que cerca de um milhão de sírios deslocados, mal sobrevivendo às terríveis condições presentes, dificilmente permanecerão passivos por muito tempo. As Nações Unidas e o restante da comunidade internacional já aguardaram demais com os braços cruzados. Acordos de cessar-fogo não funcionaram e não funcionarão sob qualquer hipótese; a oportunidade para soluções diplomáticas já pereceu há muito tempo atrás. Ações decisivas são agora necessárias.

Caso qualquer membro da ONU tenha a ousadia de dizer “O que isso tem a ver conosco?”, aqui vai uma generosa dica: a invasão ilegal e devastadora dos Estados Unidos no Iraque, em 2003. Ações têm consequências e as raízes do conflito atual estão emaranhadas na invasão e seus resultados, cujos efeitos ainda sentimos para muito além das fronteiras iraquianas. O que acontece hoje na Síria tem tudo a ver com o Ocidente e as Nações Unidas. Seus líderes precisam admitir seus próprios erros, aceitar a responsabilidade e então fazer algo positivo para ajudar o povo na Síria, deixando de ser assim meros observadores.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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