Portuguese / English

Middle East Near You

Erdogan enviará tropas turcas à Líbia a pedido do governo em Trípoli

Recep Tayyp Erdogan, Presidente da Turquia e líder do Partido Justiça e Desenvolvimento (AK) discursa em uma conferência de líderes regionais na sede de seu partido, em Ancara, Turquia, 26 de dezembro de 2019 [Murat Kula/Agência Anadolu]

A Turquia enviará tropas à Líbia a pedido do governo em Trípoli logo no próximo mês de janeiro, conforme declarou o presidente turco Recep Tayyp Erdogan nesta quinta-feira (26). A decisão reitera o papel central do país norte-africano em conflitos regionais ainda mais amplos. As informações são da agência Reuters.

O chamado Governo de União Nacional da Líbia, reconhecido internacionalmente, busca defender-se há meses de uma intensa ofensiva militar conduzida pelas forças do General Khalifa Haftar, estabelecidas no leste do país e apoiadas por diversos agentes internacionais, como Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos.

Em novembro, Ancara assinou dois acordos independentes com o Governo de União Nacional, liderado por Fayez al-Serraj. O primeiro acordo corresponde à cooperação militar e de segurança entre Líbia e Turquia; o outro acordou refere-se às fronteiras marítimas no Mar Mediterrâneo Oriental.

“Considerando que agora há um convite [da Líbia], iremos aceitá-lo,” anunciou Erdogan a membros do Partido Justiça e Desenvolvimento (AK), do qual também é líder. “Apresentaremos ao parlamento uma proposta de lei com o objetivo de enviar tropas à Líbia assim que o congresso for reaberto.”

A legislação deve, portanto, ser aprovada entre 8 e 9 de janeiro, permitindo o envio de tropas.

Entretanto, não está claro a qual convite específico Erdogan se refere, pois Fathi Bashagha – Ministro do Interior do atual governo líbio – sugeriu a repórteres em Túnis, capital da Tunísia, que ainda não foi feito nenhum pedido oficial ao governo turco.

“Caso a situação se intensifique, de modo que tenhamos o direito de defender Trípoli e seus residentes … submiteremos um pedido oficial ao governo turco para nos apoiar militarmente, a fim de expurgarmos o fantasma das forças mercenárias,” reiterou, porém, o ministro líbio.

Há semanas, o governo em Ancara assinala a possibilidade de executar uma missão militar na Líbia, ação que deve estender ainda mais o espaço de influência militar da Turquia na região, apenas três meses após ter lançado uma incursão no noroeste da Síria contra milícias curdas.

A Turquia já enviou suprimentos militares ao Governo de União Nacional, apesar de um embargo de armas estabelecido pelas Nações Unidas, segundo informações de um relatório emitido pela organização internacional e divulgado pela agência Reuters no último mês de novembro.

O governo em Trípoli e as forças rebeldes de Haftar não reagiram ou comentaram imediatamente após as declarações de Erdogan.

Nesta quarta-feira (25), Erdogan visitou a Tunísia, país norte-africano na fronteira com o território líbio, a fim de discutir a cooperação em um possível cessar-fogo na Líbia. Hoje, Erdogan ainda anunciou que seu país e o governo tunisiano de fato concordaram em auxiliar o Governo de União Nacional.

Tensões com a Rússia

Moscou demonstrou preocupações em relação a um possível envio de tropas da Turquia à Líbia para conceder apoio ao Governo de União Nacional. Erdogan já afirmou anteriormente que não permanecerá em silêncio diante da presença de mercenários do chamado grupo Wagner, que possui relações com o governo russo, que servem de aliados à ofensiva de Haftar.

“A Rússia está lá com 2.000 [combatentes] Wagner,” declarou Erdogan, ao referir-se também a aproximadamente 5.000 combatentes do Sudão em território líbio. “Por acaso, é o governo oficial que os está convidando? Não.”

O Presidente da Turquia reiterou: “Estão lá auxiliando um barão da guerra [Haftar]; por outro lado, estamos aceitando um convite do governo legítimo do país. Essa é nossa diferença.”

O chamado Exército Nacional da Líbia, liderado por Haftar, cujo quartel-general se localiza na porção leste do país, tenta desde abril tomar a capital Trípoli e depor o Governo de União Nacional. O governo líbio reconhecido internacionalmente foi estabelecido em 2016, após um acordo mediado pela ONU.

Oficiais turcos e russos conduziram negociações em Moscou ainda nesta semana, com o objetivo de buscar um consenso sobre as questões tanto na Líbia quanto na Síria. No entanto, o jornal russo Vedomosti afirmou também nesta quinta-feira que as discussões demoraram muito mais do que os três dias previstos.

Na Síria, a Rússia representa o maior aliado do Presidente Bashar al-Assad. Por outro lado, a Turquia tem apoiado grupos rebeldes que buscaram depor o regime sírio no decorrer dos últimos oito anos de guerra civil. Relatos posteriores à última rodada de negociações indicam que os ataques executados por forças da Rússia ao lado do regime sírio resultaram no deslocamento forçado de dezenas de milhares de sírios em direção à Turquia.

A Turquia busca pressionar ainda mais a comunidade internacional para assinar uma série de acordos com as nações do Mediterrâneo, sobre questões referentes aos refugiados, recursos energéticos, entre outras. Ancara, entretanto, enfrenta um impasse em divergências com a Grécia sobre recursos retirados da costa da ilha de Chipre, território disputado pelas partes em questão.

Categorias
ÁfricaEuropa & RússiaLíbiaNotíciaONUOrganizações InternacionaisTurquia
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments