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Demolindo sua casa com as suas próprias mãos

Foto de arquivo de um trator israelense.

Caso você pergunte a qualquer um sobre os elementos básicos ou componentes da felicidade que buscam atingir ou obter, suas respostas irão certamente diferir de acordo com opiniões e perspectivas particulares. No entanto, não penso que alguém possa negar o direito a um lar como fator importante para ser feliz.

Um lar é um dos elementos básicos mais notáveis para uma vida feliz, pois abriga as pessoas do escuro e as protege do frio do inverno e do calor do verão. Os indivíduos são livres e plenos nos limites de sua própria casa, afastados do ruído da vida. Podem viver consigo mesmos e com suas famílias, hóspedes e visitas. Diz o hádiz do Profeta Maomé (a paz esteja com ele): “Aquele que começa o dia tomado por segurança familiar e boa saúde, em posse de provisões para o seu dia, é como se possuísse todo o mundo”. Estes dizeres são uma forte evidência do lar como um importante elemento de felicidade. É por essa razão que vemos pessoas economizando dinheiro para construir uma casa e formar uma família. Podem demorar bastante e pode lhes custar bastante, a fim de obter uma bela casa e alcançar sua visão de vida feliz.

No entanto, imagine: você prestes a viver em sua nova casa ou às vésperas de concluí-la, quando então recebe uma ordem de uma autoridade judicial facciosa para demolir o que construiu por argumentos e critérios sem qualquer fundamento – o menos mesquinho de todos, “construção sem permissão”. Imagine ser forçado a duas alternativas amargas: “ou demolimos a sua casa com as nossas próprias ferramentas e você irá pagar os custos de demolição ou você mesmo a derruba e economiza nos custos.” O que você faria?

Agora perguntamos: Será isso possível? Onde? Como? Por quê? Por quem?

Palestinos de Jerusalém Oriental são obrigados a demolir suas próprias casas,
em 4 de dezembro de 2016. [maannews]

Aqueles que desejam responder a essas perguntas devem olhar para a Palestina, em particular à Cisjordânia e Jerusalém, onde a ocupação busca criar um permanente estado de angústia entre os palestinos. A ocupação os impede de exercer seus direitos em sua própria terra e os priva de aproveitar os benefícios e alegrias em seu próprio país, através do uso da força e do armamento militar e a cumplicidade global de quem dorme nos lençóis das forças opressoras que apoiam a ocupação.

De acordo com relatos publicados por autoridades relevantes, de 2006 a 31 de janeiro de 2019, a ocupação demoliu ao menos 1.405 unidades residenciais palestinas na Cisjordânia, sem contar Jerusalém Oriental, onde ao menos 6.213 palestinos, incluindo 3.138 menores de idade, foram desabrigados como resultado das operações.

Nas comunidades acometidas pela ocupação, a maioria das quais ameaçada de deportação, os agentes insistem em demolir as casas dos residentes como ato contínuo. De 2016 a 31 de janeiro de 2019, a ocupação destruiu e voltou a destruir casas habitadas por 1.020 palestinos, incluindo 489 menores de idade.

Além disso, do início de 2016 até 31 de janeiro de 2019, somente na Cisjordânia, sem contar Jerusalém, a Administração Civil da ocupação israelense derrubou 636 edifícios, incluindo muros, poços, armazéns, construções de agricultura, navios comerciais, prédios públicos, etc.

Aqueles que monitoram as demolições executadas pela ocupação contra o povo nativo podem notar que as operações não são arbitrárias nem aleatórias, tampouco justificadas pela falta de alvará de construção dos proprietários de imóveis. Ao contrário, é uma política sistemática de governo. As operações de demolição superam a remoção de pedras dos terrenos, de modo que almejam modificar os marcos geográficos e criar novas dificuldades práticas à vida dos palestinos.

A demolição irá continuar enquanto for mantida a política oficial dos regimes árabes de enxergar o infanticida como uma pomba da paz. Tudo que nos resta a dizer é: destruir nossa casa com as nossas próprias mãos significa morrer ainda em vida.

Este artigo foi primeiro publicado em árabe, no Centro de Informação Palestino, em 2 de março de 2019.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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