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Trump revive ‘Riviera de Gaza’ em encontro com Kushner e Tony Blair

28 de agosto de 2025, às 14h35

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do genro e assessor Jared Kushner, na Casa Branca, em Washington DC, em 1º de outubro de 2018 [Chip Somodevilla/Getty Images]

Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, atendeu a um encontro na Casa Branca, a convite do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para discutir o futuro de Gaza, em ocasião que incitou alarde pela exclusão dos palestinos e por reunir lobistas de guerra e limpeza étnica.

Junto de Blair, esteve Jared Kushner, genro e assessor sênior de Trump, conhecido como proponente da normalização entre Israel e regimes árabes, nos Acordos de Abraão.

O evento foi saudado pelo emissário trumpista ao Oriente Médio, Steve Witkoff, como um “grande encontro”, com enfoque no suposto pós-guerra em Gaza, incluindo expulsão dos palestinos e conversão do território em zona controlada por Washington.

Witkoff — militante colonial — descreveu a iniciativa como “bem-intencionada”, em meio à apreensão crescente sobre o genocídio em Gaza.

A presença de Blair — cúmplice do ex-presidente americano George W. Bush na invasão ao Iraque, em 2003 — atraiu escrutínio dado envolvimento de equipes de seu instituto em um projeto promovido como “Plano Riviera”.

Informações vazadas ao jornal Financial Times confirmaram que pessoal do Instituto Tony Blair para Mudança Global participou de reuniões sobre um plano fiscal para despovoar Gaza e convertê-la em balneário de luxo para fins turísticos e imobiliários.

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O instituto negou autoria ou apoio ao plano, exaltado por Trump via vídeos por inteligência artificial, contudo, manteve contatos com a gestão na Casa Branca. 

Em fevereiro de 2024, Kushner mencionou ainda os “valores” potenciais da orla de Gaza, ao sugerir abertamente que Israel deveria “transferir as pessoas” do território, para então “redesenvolvê-lo”.

A Casa Branca trumpista consulta Kushner há meses sobre o futuro do enclave palestino, incluindo colaboração com economistas como Joseph Pelzman, partidário da demolição completa de Gaza e deslocamento de seus residentes, sobretudo ao Egito.

Nenhum oficial ou emissário árabe ou palestino foi convidado à Casa Branca, apesar das implicações à estabilidade regional. Compareceu, ainda assim, Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, próximo ao premiê Benjamin Netanyahu.

Sobre Blair, ex-enviado ao chamado Quarteto do Oriente Médio, a presença no encontro é especialmente controversa, ao lado de arautos da ocupação e assentamentos ilegais. Um assessor chegou a afirmar, contudo, que sua participação se deu para supostamente reiniciar o “processo político”, rumo a uma “solução de dois Estados”.

A gestão americana, porém, trabalha para obstruir uma recente onda ocidental, incluindo França, Austrália, Canadá e potencialmente Reino Unido, para salvaguardar a proposta de dois Estados ao reconhecer um Estado palestino durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, neste mês de setembro.

O esquema da Riviera trumpista é amplamente condenado pela sociedade civil palestina, juristas internacionais e diversas organizações de direitos humanos como perigo regional com base em uma lógica colonial.

O encontro coincidiu ainda com preparativos israelenses para ocupação plena da Cidade de Gaza, logo após Israel se retirar de negociações sobre um plano de cessar-fogo e troca de prisioneiros acatado pelo grupo palestino Hamas.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há quase dois anos, com ao menos 62 mil mortos, 155 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco e destruição. Dentre as fatalidades, ao menos dezoito mil são crianças.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade conduzidos em Gaza.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

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