Francesca Albanesa, relatora especial das Nações Unidas para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, condenou nesta quinta-feira (10) a decisão do governo dos Estados Unidos de sancioná-la, ao descrever a medida como “obscena” e ressaltar perseguição política por suas denúncias do genocídio israelense em Gaza.
Em contato com a Al Jazeera, Albanese ressaltou que não será intimidada ou silenciada por sanções do presidente americano Donald Trump e que retaliações “não impedirão sua busca por justiça e respeito à lei internacional”.
Conforme a relatora, as táticas de Washington equivalem a “técnicas de intimidação da máfia”, a fim de “assustar as pessoas a ignorarem o assunto”.
“Quero lembrar a todos que a razão pela qual as sanções foram impostas é a busca por justiça”, reafirmou. “É claro, tenho sido crítica a Israel. Israel vem cometendo genocídio e crimes de guerra e lesa-humanidade”.
Na quarta-feira (9), o secretário de Estado trumpista, Marco Rubio, anunciou sanções, ao acusar a relatora de “travar uma campanha de guerra política e econômica contra os Estados Unidos e Israel”.
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No dia seguinte, Albanese reagiu, ao notar que as atrocidades cometidas em Gaza não se referem apenas “às implacáveis ambições territoriais de Israel”, ou ao apoio externo, mas também emana de “empresas que lucram com tudo isso”.
Na semana passada, Albanese divulgou um relatório técnico mapeando corporações e marcas cúmplices da escalada israelense.
Entre as empresas citadas, está a estatal brasileira Petrobrás, denunciada por exportar produtos de petróleo utilizados nos tanques e veículos israelenses que atuam em Gaza, além de multinacionais como Amazon, Microsoft, Google, Airbnb e outras.
O dossiê — ao tratar do que classificou como “economia do genocídio” — advertiu que companhias e executivos devem responder por violações de leis locais e internacionais. Em evento online do Middle East Eye, Albanese brincou “ter atingido um nervo”.
À Al Jazeera, admitiu avaliar ainda os efeitos das sanções contra si. Todavia, insistiu que seus problemas “não são nada comparados com o que os palestinos sofrem em Gaza”, sob bombardeios, incursões terrestres e bloqueio de Israel.
Albanese condenou ainda a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), mecanismo israelo-americano sob verniz assistencial, ao discerni-lo como “armadilha mortal”. O programa militarizado incorreu em centenas de mortos, em corredores de distribuição de ajuda, desde sua implementação, no fim de maio.
A oficial defendeu também os inquéritos do Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, sobre as violações de Israel, que culminaram em mandados de prisão inéditos contra o premiê Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.
Para Rubio, o apoio de Albanese ao processo configuraria “base legal” para sanções.
Conforme António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, através de seu porta-voz, Stéphane Dujarric, a decisão americana é, no entanto, “um precedente perigoso”: “O uso de sanções unilaterais contra especialistas da ONU é inaceitável”.
Jurg Lauber, embaixador do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, ecoou o repúdio: “Peço a todos os Estados-membros a cooperaram com os relatores especiais e todos os oficiais e que evitem qualquer intimidação ou represália contra eles”.
Em 21 meses, a campanha israelense destruiu a maior parte de Gaza, com mais de 57 mil mortos, 135 mil feridos e dois milhões de desabrigados sob cerco militar absoluto e catástrofe de fome.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), corte-irmã de Haia, que julga Estados, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.
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