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Líbano e EUA discutem desarmar Hezbollah em troca de retirada israelense

8 de julho de 2025, às 14h38

Nawaf Salam, então juiz do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, após encontro com o presidente do Líbano, Joseph Aoun (não visto), no Palácio de Baabda, em Beirute, em 14 de janeiro de 2025 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Nawaf Salam, primeiro-ministro do Líbano, confirmou na segunda-feira (7) ter discutido com o enviado dos Estados Unidos, Tom Barrack, um processo sincronizado de retirada militar de Israel do sul do país e desarmamento do grupo Hezbollah.

Em coletiva de imprensa após se reunir com Barrack — em Beirute, em visita oficial —, Salam afirmou que “limitar as armas ao Estado e estender sua autoridade” é consenso no país desde os Acordos de Taif, de 1989, que encerraram a Guerra Civil.

“O Hezbollah é parte integral do Estado”, reconheceu Salam. “Seus membros votaram a favor da declaração política do governo” — isto é, o plano de ação regional do gabinete atual.

Salam, porém, condenou os ataques israelenses ainda em curso no sul do Líbano e vale do Bekaa, ao apontar “rejeição unânime” e reiterar que seu governo busca apoio árabe e internacional para cessar as violações.

Recentemente, a Casa Branca de Donald Trump escalou pressão para que o tradicional grupo xiita da resistência libanesa abandone suas armas. Salam, de sua parte, apontou “passos interligados entre retirada israelense e desarmamento do Hezbollah”.

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Na sexta-feira (4), o secretário-geral do Hezbollah, Naim Qassem, rejeitou os apelos, ao insistir que a pacificação do movimento só será considerada “após o fim das agressões israelenses”.

Salam indicou ainda ter solicitado a reativação do comitê responsável por coordenar a cessação das hostilidades e implementar a Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de 2006, que prevê cessar-fogo e zona neutra dentre os territórios controlados por Israel e Hezbollah.

Barrack destacou ter recebido uma resposta do presidente libanês Joseph Aoun, assim como do presidente do parlamento Nabih Berri, sobre a matéria.

Segundo Salam, o emissário americano então encaminhou um plano com mecanismos para aplicar termos do cessar-fogo, incluindo arranjos para limitar a posse e circulação de armas a partir do sul do Líbano.

Para o premiê, “apenas o Estado tem autoridade para decidir sobre guerra e paz”.

Um oficial libanês, em contato com a Anadolu, observou na última semana que o plano de Barrack, introduzido em junho, tem cinco páginas e três enfoques: desarmamento e monopólio das armas ao Estado; reformas fiscais e controle de aduanas; e retomada de relações com a Síria, incluindo demarcação de fronteiras e reaproximação comercial e política.

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Trocas de disparos entre Israel e Hezbollah — no contexto do genocídio contra Gaza — escalaram a guerra aberta em setembro de 2024, com a invasão por terra pelo exército colonial sionista.

Apesar de um cessar-fogo firmado em novembro, Israel mantém ataques quase diários ao sul do Líbano, sob alegação de atacar atividades do Hezbollah. Beirute, no entanto, registrou quase três mil violações israelenses, com 232 mortos e 530 feridos.

Sob o cessar-fogo, o exército de Israel deveria se retirar por completo do sul libanês até 26 de janeiro — prazo estendido a 18 de fevereiro, sob relutância israelense. Tropas da ocupação, contudo, mantêm presença em cinco posições para além da fronteira.