O perfume da icônica rainha Cleópatra, um aroma de quase três mil anos vindo do Egito Antigo, foi recriado por uma pesquisadora do Laboratório de Divulgação Científica em Química (Quimidex) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A professora doutora e coordenadora do Quimidex, Anelise Regiani, contou à ANBA que o composto tem como base mirra, resina de pinheiro e dois tipos de canela, ingredientes muito valorizados naquele período histórico.
A fragrância é destaque na exposição interativa do Quimidex sobre a química dos perfumes no campus Trindade da UFSC, em Florianópolis, e visitantes podem sentir seu aroma único e ter um vislumbre da realeza egípcia do tempo dos faraós.
Cleópatra nasceu em 69 a.C. e reinou no Egito entre 51 a.C. e 30 a.C., e até hoje é considerada uma das mulheres mais importantes da antiguidade. Além de suas habilidades políticas, personalidade cativante e fascínio por essências aromáticas, Cleópatra também é lembrada por sua vaidade.
A ideia de reproduzir o perfume surgiu com base em um artigo científico publicado por cientistas alemães em 2021 na revista Near Eastern Archaeology, sobre os achados arqueológicos na região de Mendes, intitulado “Eau de Cleopatra”.
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Entre os pesquisadores estava Dora Goldsmith, egiptóloga especializada em aromas do antigo Egito. Sua pesquisa foi crucial para a recriação da fórmula original. Como o perfume era um luxo reservado à alta sociedade da época, é possível que a própria Cleópatra tenha sido uma das adeptas da fragrância.
“Dora se debruçou em literatura antiga, escritos de filósofos, foi a vários templos e leu os hieróglifos, e nesse artigo traz uma possível formulação do perfume de Cleópatra. No artigo eles dizem que não têm certeza porque não se tem isso escrito, mas como era um perfume muito famoso à época que ela viveu, ela provavelmente conheceu e usou esse perfume”, explicou Anelise.
Em setembro do ano passado foi feita a primeira reprodução do perfume, que foi exposta durante a Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepex) da universidade. Recentemente, o perfume foi recriado novamente em um vidro de 50 ml para a exposição do laboratório, e lá também estão todas as matérias-primas utilizadas, para que o visitante possa sentir o aroma de cada uma.
“Além do perfume à base do óleo de balanos, que era utilizado na época, fizemos uma tintura, diluída em álcool, porque às vezes fica mais fácil sentir os aromas”, disse Anelise. Os ingredientes utilizados foram aqueles encontrados no mercado e não são necessariamente originários da região, revelou a pesquisadora.
Balanos (Balanites aegyptiaca) é uma castanha, em inglês chamada desert date – não é uma tâmara porque vem de uma árvore, enquanto a tâmara vem de uma palmeira -, da qual se extrai o óleo que pode ser utilizado para perfumes, por quase não ter cheiro. Até hoje, os árabes muçulmanos têm o costume de usar perfumes à base de óleo.
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O perfume chamado Mendesiano remete à origem das descobertas com base nos escritos. Anelise contou que fez vários testes até chegar em uma fórmula que deu mais certo e é mais simples de fazer.
A pesquisadora cozinhou a mirra no óleo de balanos por uma hora a 90 graus Celsius, depois foi adicionada a resina de pinheiro e incorporadas as canelas (canela-cássia e canela-do-ceilão, também conhecida como canela-verdadeira). Então esse composto foi filtrado e ficou um óleo aromatizado de toque seco e perfumado, como um bálsamo. “Ele fica especiado, amadeirado, adocicado, é bem gostoso”, disse.
“Cleópatra é uma mulher de presença até hoje, e tinha técnicas para marcar sua presença para as pessoas perceberem que ela estava ali”, contou Anelise. A professora relembrou uma passagem dos escritos que é um exemplo memorável disso. “Conta a história que para chegar até Marco Antônio [o general romano que se tornou seu amante], no primeiro encontro com ele, realmente um encontro de sedução, para seduzi-lo, ela teria perfumado as velas do barco com perfume de rosas, então ela chegou chegando”, se divertiu.
E como seria o perfume da Cleópatra hoje, se ela fosse uma mulher do século 21, que perfume ela usaria? “Com certeza tem que ter mirra, tem que ser esse balsâmico, tem que ter esse especiado da canela, mas acredito que seria alguma coisa com rosa, uma coisa mais cor de rosa. E pensando que ela é bem moderna, tem que ser um perfume doce, porque é o que está na moda hoje”, afirmou Anelise. “E talvez com um cítrico de saída, uma bergamota, um limão siciliano”, complementou.
Anelise Regiani gosta de perfumes desde criança. Ela contou que fazia sachês com perfumes para vender na escola, e que seu pai sempre a presenteava com um perfume no Natal. Foi daí que ela foi estudar a química dos perfumes e fez disso sua carreira. Ela conta que tem memórias olfativas de vários perfumes, mas que hoje, seus perfumes preferidos são aqueles com flor de laranjeira.
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A exposição interativa conta com cinco módulos: História química da perfumaria, Química no frasco de perfume, Extração de matérias-primas, Como percebemos os cheiros e História da perfumaria no Brasil. É possível agendar uma visita pelo e-mail abaixo.
Serviço
Exposição interativa – A Química dos perfumes
Quimidex – Laboratório de Divulgação Científica em Química da UFSC
Florianópolis, SC
www.quimidex.ufsc.br@quimidex.ufsc
Agendamentos: [email protected]
Publicado originalmente em Anba