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Israel nega construção a meio milhão de residentes palestinos, segundo reportagem

27 de junho de 2023, às 08h00

Residência demolida do prisioneiro palestino Kamal Jouri em Nablus, na Cisjordânia, em 22 de junho de 2023 [Nedal Eshtayah/Agência Anadolu]

Mais de meio milhão de cidadãos palestinos radicados no território considerado Israel – isto é, capturado durante a Nakba, via limpeza étnica, em 1948 – tiveram alvarás de construção negados pelas autoridades da ocupação, segundo reportagem especial da agência Safa.

Além disso, o Estado israelense emitiu cem mil ordens de demolição e despejo contra seus “cidadãos árabes”.

Conforme a investigação, os palestinos no país vivem uma grave crise habitacional devido às políticas de sufocamento impostas por sucessivos governos em Tel Aviv, a fim de limitar seus números. Estima-se que haja hoje cerca de 1.7 milhão de palestinos radicados em Israel.

Ahmed Melhem, membro do Comitê para Defesa da Terra e da Habitação da aldeia de Ara, nos arredores de Haifa, reportou à Safa que mais de 60% das casas palestinas nos territórios de 1948 não têm plantas ou alvará de construção, devido à segregação imposta pelo regime de apartheid.

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Melhem reiterou que, apesar do altíssimo índice de demolição e multas contra os palestinos, cidadãos judeus que cometem transgressões a normas habitacionais são tratados de forma distinta. Para o oficial palestino, a política visa “assentar violações”.

Mais de 90% das ordens de demolição contra os palestinos são implementadas, prosseguiu o relato, enquanto ordens contra cidadãos judeus costumam ser revogadas mediante acordo. A política forçou ao menos cinco mil residentes a emigrar, informou Melhem, como parte da “guerra demográfica” travada pela ocupação.

“Nós, palestinos, somos conhecidos por viajar para estudar ou trabalhar, então retornar; no entanto, aqueles que emigraram não conseguem voltar”, destacou Melhem, ao denunciar as instituições israelenses por executar uma ofensiva socioeconômica contra os palestinos.

“Violações administrativas significam que a parte lesada não pode recorrer às cortes e têm de pagar 600 mil shekels (US$165 mil) em dois meses, para impedir que seus negócios sejam destruídos”, elucidou Melhem. “Então, tem de pagar pela licença”.

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“Naturalmente, é uma multa altíssima, acima das possibilidades da maioria dos proprietários de negócios, lojas, fábricas etc”, acrescentou. “Os palestinos, portanto, são forçados muitas vezes a demolir suas lojas e trabalhar em Tel Aviv ou outras cidades judaicas”.

Melhem concluiu com um alerta: caso tamanha pressão continue, um confronto é inevitável.