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Apoio de Damasco à Palestina é artifício político para ganhos pessoais

Protesto contra as invasões israelenses a Al-Aqsa durante o mês do Ramadã, no distrito de Azaz, na Síria, em 7 de abril de 2023 [Bekir Kasim/Agência Anadolu]
Protesto contra as invasões israelenses a Al-Aqsa durante o mês do Ramadã, no distrito de Azaz, na Síria, em 7 de abril de 2023 [Bekir Kasim/Agência Anadolu]

Historicamente, o regime sírio de Bashar al-Assad apela à causa palestina para promover uma agenda política própria na região. Por anos e anos, Damasco se posicionou como firme defensor da causa palestina, ao representar a si mesmo como guardião dos direitos palestinos e de sua luta contra a ocupação israelense. Esse posicionamento permitiu ao regime obter certo apoio e credibilidade entre populações árabes e islâmicas sob a égide de liderança regional contra as investidas de Israel.

Na realidade, o regime sírio faz uso da causa palestina para desviar a atenção de seus próprios problemas internos e suas graves violações de direitos humanos.

Damasco também recorreu à causa palestina como moeda de troca nas relações com países da região e a comunidade internacional. Ao projetar apoio à causa palestina, o regime sírio buscou obter concessões de outros governos em questões como sanções, reconhecimento diplomático ou ajuda militar.

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O relacionamento entre a presidência síria e os líderes palestinos é complexa e frequentemente contenciosa. Apesar de compartilharem interesses comuns na causa palestina, suas respectivas agendas políticas e prioridades os puseram em conflito em algumas ocasiões.

Ao longo das décadas, a Síria promoveu apoio aos grupos da resistência palestina, como Hamas e Jihad Islâmica, ao lhes fornecer suporte político e militar. No entanto, esse apoio nem sempre foi bem-vindo pelos próprios líderes palestinos, sobretudo filiados à Autoridade Palestina (AP), que insistem em manter uma abordagem diplomática sobre o conflito com Israel.

Assad é acusado ainda de minar esforços de Ramallah para negociar um “acordo de paz” com a ocupação colonial israelense, ao apoiar grupos armados e rejeitar a “solução de dois estados”.

Em casa, não obstante, o governo entrou em franco confronto com a população palestina em situação de exílio. Em 1983, por exemplo, o regime sírio reprimiu brutalmente uma rebelião de facções palestinas na cidade de Hama, ao executar milhares de pessoas. Tais atitudes levaram a uma deterioração significativa nas relações entre os lados, cuja melhora demorou décadas.

Mais recentemente, em 2015, o longo cerco de Yarmouk, distrito da capital Damasco que abriga a maior comunidade de palestinos da Síria, deixou numerosos mortos.

Embora existam interesses comuns, as agendas e estratégias da liderança síria e da resistência palestina parecem persistir no âmbito do impasse, ao passo que Assad e seus aliados buscam se beneficiar da causa palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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