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Autoridade Palestina diferencia opressão colonial e colaborativa

Presidente da Autoridade Palestina (AP) Mahmoud Abbas durante cúpula do Golfo em Riad, na Arábia Saudita, em 9 de dezembro de 2022 [Corte Real Saudita/Agência Anadolu]
Presidente da Autoridade Palestina (AP) Mahmoud Abbas durante cúpula do Golfo em Riad, na Arábia Saudita, em 9 de dezembro de 2022 [Corte Real Saudita/Agência Anadolu]

Quando Israel investiu contra ongs palestinas em 2021 e 2022, a Autoridade Palestina (AP) deu início a uma campanha própria para explorar a conjuntura. “Como um gesto de solidariedade, o presidente [Mahmoud] Abbas se reuniu com organizações da sociedade civil palestina visadas por Israel”, reiterou uma reportagem da época da agência de notícias Wafa.

A ofensiva israelense contra grupos de direitos humanos – incluindo a designação de seis ongs da sociedade civil como “grupos terroristas”, pelo ex-ministro da Defesa Benny Gantz, sem dar qualquer evidência a suas ações – permitiu que a Autoridade Palestina emulasse brevemente a defesa de uma causa que contesta seu próprio autoritarismo. No entanto, a construção ilusória de um estado exige seus truques, ao menos até que se dissolva uma fachada efêmera, assim que a Autoridade volte a recair em uma atitude contrária aos direitos humanos.

Em 2021, declarou Abbas: “Estamos todos ao lado dessas instituições nacionais que fazem seu dever ao expor os crimes da ocupação ao mundo”. Todavia, agora que sua Autoridade Palestina nega a renovação do registro da ong Advogados por Justiça, que defende cidadãos visados pela Autoridade Palestina, fica muito claro que Abbas e seus asseclas não querem de fato que parte dos crimes contra os palestinos sejam expostos ao mundo – isto é, seus próprios crimes.

Segundo o Human Rights Watch (HRW), os serviços de inteligência da Autoridade insistem que a ong Advogados por Justiça aceitou financiamento estrangeiro, apesar de sua designação como entidade sem fins lucrativos. Caso seu registro não seja renovado, a organização pode perder o acesso a escritórios e fundos. Pouco surpreende que as objeções da Autoridade Palestina em renovar o registro da entidade coincidam com a crescente unidade do povo palestino em nome da resistência anticolonial.

Grande parte do trabalho da organização se concentra nas violações da Autoridade contra civis palestinos – uma realidade oculta se não fossem por organizações específicas que assumem a tarefa. As violações do direito internacional por Israel são mais célebres do que as violações da Autoridade Palestina, mesmo que esta colabore com a ocupação e obtenha ganhos pessoais em troca. Não há modo algum da Autoridade conservar seu poder sem o apoio de Israel e agentes estrangeiros – o bastante apenas para mantê-la flutuante e impedir a emergência de uma nova liderança democraticamente eleita.

A Autoridade Palestina diferencia assim as violações de Israel de suas próprias, à medida que os crimes da ocupação asseguram ao círculo de Abbas uma estrutura necessária para preservar a ilusão da construção de um estado. Contudo, o mesmo não se aplica a suas próprias violações, mesmo que a Autoridade exiba ostensivamente sua brutalidade, por exemplo, quando serviços de segurança executaram em custódia o ativista político Nizar Banat, em junho de 2021.

Quanto mais a Autoridade Palestina busca se agarrar à fachada de única representação política possível para o povo árabenativo – não somente em relação ao Hamas, mas a movimentos cuja mentalidade não seja necessariamente idêntica ao partido hegemônico –, mais o governo de Abbas demonstra sua violência. Obstruir os trabalhos da fundação Advogados por Justiça, ao negar seu registro legal, é evidência de como os palestinos precisam ser protegidos da própria Autoridade. Enquanto a Autoridade Palestina clama por apoio internacional contra a ocupação de Israel – ciente da persistente negativa –, os palestinos são oprimidos por Abbas e suas forças de segurança, sem que nenhuma entidade política denuncia a violência interna.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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