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Sudão anuncia resposta positiva à mediação quadripartite sobre represa etíope

19 de março de 2021, às 10h15

Tadele, operador de rádio na Grande Represa do Renascimento, perto de Guba, Etiópia, em 26 de dezembro de 2019 – a construção de 145 metros de altura e 1.8 km de extensão deverá tornar-se a maior usina hidrelétrica na África, com capacidade de 6 mil megawatts de potência [ Eduardo Soteras/AFP via Getty Images]

O Sudão anunciou nesta quinta-feira (18) ter recebido respostas positivas para compor um mecanismo de mediação quadripartite para retomar as negociações paralisadas sobre a Grande Represa do Renascimento, construída pela Etiópia, na bacia do Rio Nilo.

O relato foi comunicado por Mustafa Hussein, chefe da equipe técnica de negociação sudanesa, segundo a agência de notícias oficial SUNA.

Hussein confirmou “respostas bastante positivas de todas as partes convidadas à mediação quadripartite sobre a Represa do Renascimento” – isto é, União Europeia, Estados Unidos e ONU, além de União Africana, que já promove as negociações.

“As partes internacionais expressaram prontidão para exercer o papel de facilitadores e mediar as negociações, ao oferecer sua expertise técnica e política para construir pontes sobre as divergências entre os três países”, prosseguiu em referência a Etiópia, Sudão e Egito.

Destacou ainda: “A mediação quadripartite concederá apoio e melhora aos esforços da União Africana, liderados pela República Democrática do Congo, para obter um acordo vinculativo satisfatório às partes, sobre o preenchimento e operação da barragem”.

Hussein argumentou que a insistência do Ministério de Águas, Irrigação e Eletricidade da Etiópia em “proceder com o segundo preenchimento em julho próximo, sem um acordo, sugere que Addis Ababa não pretende mudar sua postura, em violação à lei internacional”.

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Além disso, para o chefe da equipe sudanesa, a abordagem etíope “contradiz a Declaração de Princípios assinada pelos líderes dos três estados em março de 2015, concernente ao preenchimento e operação da Grande Represa do Renascimento”.

Hussein exortou o governo do país vizinho a “cultivar um senso de lógica, aderir às leis internacionais, respeitar as águas para além da fronteira e observar o princípio de uso justo e razoável da água, sem causar danos significativos aos países a jusante”.

“Reiteramos que o Sudão é capaz, em todo caso, de proteger sua segurança nacional, seus recursos e a integridade de sua infraestrutura”, concluiu o representante sudanês.

O governo sudanês em Cartum enviou uma série de cartas oficiais a União Africana, União Europeia, Estados Unidos e Organização das Nações Unidas, para convidá-los a participar do mecanismo quadripartite e mediar as negociações sobre a questão regional.

O Egito declarou apoio à proposta sudanesa. Entretanto, em 9 de março, o governo etíope declarou seu repúdio ao novo mecanismo e defendeu a mediação exclusiva do bloco africano.

A Etiópia insiste em iniciar a segunda fase do preenchimento da barragem mesmo sem fechar um acordo, reivindicado por Egito e Sudão. Ambos temem o impacto da represa sobre sua cota anual das águas do Nilo, além de danos em potencial contra sua infraestrutura hídrica.

O diálogo promovido pela União Africana está paralisado desde janeiro, devido às exigências do governo sudanês de alterar a metodologia de negociação e a oposição etíope a tal medida.

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