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Vencedor do Nobel da Paz pede prisão de Netanyahu caso viaje à Argentina

30 de setembro de 2025, às 12h41

Adolfo Perez Esquivel, escritor e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, durante manifestação pela educação pública em Buenos Aires, na Argentina, em 23 de abril de 2024 [Ricardo Ceppi/Getty Images]

À medida que o presidente da Argentina, Javier Milei, se aproxima cada vez mais de Israel, Adolfo Perez Esquivel, seu concidadão portenho e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 1980, reivindica o caminho oposto: que a Justiça nacional aplique os mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, contra o premiê Benjamin Netanyahu, caso este visite o país.

Perez, de 93 anos, é um dos mais respeitados ativistas por direitos humanos da América Latina, laureado em Estocolmo por sua luta não-violenta contra a Ditadura Militar em seu país, quando emergiu dos cárceres, após tortura, como uma voz por Justiça.

Seu apelo sucede em uma semana um afago israelense a Milei, gratificado com o prêmio B’nai B’rith por seu compromisso para com Israel.

À agência de notícias Anadolu, comentou Perez: Caso venha, convidado por Milei, é lógico que enfrentará resistência. Esperamos que Netanyahu não venha a nosso país”.

A Argentina é signatária do TPI e deve, portanto, cumprir suas ordens, ressaltou o ativista. Para Perez, Israel alveja deliberadamente os civis de Gaza, com mais de 20 mil crianças mortas, enquanto Milei promete desacatar Haia para agradar a Netanyahu.

“A posição da corte é inequívoca”, observou, ao alertar que a obstinação de Milei constitui um “sinal negativo a nossa democracia”, bem como evidência do crescente alinhamento de Buenos Aires a Washington e Tel Aviv.

A campanha, porém, parece surtir efeito — ao menos por ora. Netanyahu planejava uma viagem à Argentina após sua passagem pelos Estados Unidos, na última semana; todavia, parece ter cancelado os planos. O jornal Times of Israel, ao citar a embaixada argentina, alegou “razões técnicas”.

Críticas aos EUA

Perez se voltou a Washington, ao indicar sucessivos vetos a um cessar-fogo no Conselho de Segurança das Nações Unidas e caracterizar a postura, incluindo apoio instrumental, como “maior obstáculo a qualquer solução pacífica”.

O ativista ecoou denúncias de esforços israelenses de longa data para impedir a criação de um Estado palestino. Neste sentido, notou arrefecimento das instituições da ONU, em particular sob pressão da Casa Branca.

“Temos de reformar e democratizar a ONU”, argumentou Perez, ao mencionar fracassos não apenas em Gaza, como na Ucrânia. “Nós, os povos do mundo, queremos a paz. Mas vemos o que está acontecendo. E é extremamente perigoso”

Judeus contra o genocídio

Argentina é lar da maior comunidade judaica falante do espanhol no mundo, estimada em 250 mil pessoas. Perez enfatizou sua diversidade, ao saudar fortes críticos das políticas e ações de Israel na Palestina.

“Nem todos os judeus pensam igual”, acrescentou. “Parabenizo aqueles que lutam para conquistar a paz na Palestina. É algo importantíssimo”.

Como exemplo, citou o ator judeu argentino Norman Briski, cujas críticas à ocupação teve como resposta ataques antissemitas do lobby de direita.

Perez enalteceu ainda a colaboração entre judeus e palestinos na Argentina, ao acenar ao movimento Não em Nosso Nome em Buenos Aires, contra o genocídio em Gaza. Ademais, saudou a Flotilha Global Sumud, rumo a Gaza, pelo fim do cerco.

Apelo por cessar-fogo

Sobre os prospectos de cessar-fogo em Gaza, Perez pediu passos concretos: “Israel deve parar o genocídio, que segue dia após dia, bombardeando hospitais, escolas, acabando com a vida das pessoas. A humanidade tem de fazer alguma coisa”

Sobre os países ocidentais, expôs hipocrisia: “Por um lado, a Europa pede paz; por outro, continua a auxiliar Israel. A ONU, sufocada. E os Estados Unidos continuam a pressionar pelo extermínio do povo palestino”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, com ao menos 66 mil mortos, 168 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome.

As ações foram reconhecidas como genocídio pela Comissão de Inquérito Independente das Nações Unidas, em setembro, após extensa análise. São ainda investigadas como tal pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, desde janeiro de 2024.

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