Jornalistas em todo o mundo expressaram indignação nesta semana após mais uma série de ataques israelenses a repórteres em Gaza, ao condenarem, coletivamente, o que descrevem como fracasso da indústria midiática em agir por seus trabalhadores.
Na segunda-feira (25), forças israelenses mataram cinco jornalistas de agências internacionais em um duplo bombardeio contra o Hospital Nasser, no sul de Gaza, com ao menos 20 mortos no total. Entre os mortos Mariam Abu Dagga, fotojornalista da Associated Press; Hussam al-Masri, fotógrafo da Reuters; Moaz Abu Taha, repórter freelance; e Mohamed Salama e Ahmed Abu Aziz, que colaboravam com o Middle East Eye, entre outras agências.
Um sexto jonalista, Hassan Douhan, foi baleado e morto por soldados israelenses em Khan Younis. Douhan era um proeminente repórter investigativo e editor-chefe da publicação local al-Hayat al-Jadidah, responsável por treinar diversos jornalistas emergentes no enclave palestino.
O segundo bombardeio ao Hospital Nasser foi flagrado em tempo real, durante transmissão ao vivo da emissora jordaniana Al Ghad TV. O vídeo viralizou online, descrito como “gravação de um assassinato doloso”.
🚨🚨 Camera of @AlGhadTV was live documenting rescue efforts of the 1st strike on Nasser Hospital that killed journalist Hussam AlMasri when the second strike hit rescue workers. Reminder that Israel is ordering medical workers & population to move south, where this compound is pic.twitter.com/YTihCcZgff
— Nour Odeh 🇵🇸🍉 #FreePalestine (@nour_odeh) August 25, 2025
A jornalista Carole Cadwalladr foi à rede social X (Twitter) tanto para condenar os ataques de Israel contra jornalistas palestinos como para denunciar o fracasso de agências, sindicatos e redações em agir devidamente em solidariedade à categoria.
LEIA: Mariam Abu Daqqa, repórter morta por Israel em Gaza, deixa mensagem ao filho
“Sinto profunda vergonha”, escreveu Cadwalladr. “Não é apenas a morte de alguns jornalistas. É a morte da imprensa”.
Hind Hassan, também jornalista, ecoou o sentimento: “Israel assassinou outros quatro repórteres em Gaza. Uma mancha em nossa indústria. Estamos testemunhando a aniquilação sistemática, em tempo real, dos correspondentes palestinos — consequência de uma desumanização implacável avalizada pela amplificação de falsas narrativas que tentam justificar os ataques”.
Este sentimento se tornou comum entre postagens de incontáveis jornalistas online, que compartilharam imagens dos colegas mortos em Gaza.
Israel continues its mass murder spree against journalists in Gaza. According to reports from Gaza, the journalists Israel killed today are: Hossam El-Masry, Mohamed Salama, Mariam Abu Daqqa and Moaz Abu Taha. pic.twitter.com/NXiy0l9Cvp
— jeremy scahill (@jeremyscahill) August 25, 2025
Muitos criticaram a cobertura dos ataques inclusive por publicações para as quais as vítimas trabalhavam. A Associated Press, por exemplo, sequer identificou a colaboradora morta, Mariam Abu Daqqa, em sua reportagem inicial.
“Seu nome é Mariam Abu Daqqa e ela trabalhava noite e dia, como todos os nossos colegas em Gaza, em circunstâncias desumanas e excruciantes”, ressaltou sua colega Mariam Barghouti, em resposta a um tuíte da Associated Press. “E agora, sequer lhe dão a cortesia de identificá-la pelo nome. Apenas notícias passageiras”.
That’s the @Reuters, @nytimes, @AP, and the @Independent’s framing of the journalists’ slaughter in Gaza today.
Three of the deceased journalists are reporters of three of the above-mentioned outlets. pic.twitter.com/zudGAsTCub
— Abubaker Abed (@AbubakerAbedW) August 25, 2025
Desde outubro de 2023, Israel matou 246 jornalistas palestinos em Gaza.
Ainda na segunda-feira, a repórter palestina Laila al-Arian comentou sobre como a cobertura do Ocidente — ou falta dela — sobre Gaza afiançou os crimes.
“Precisamos de um total acerto de contas sobre como a propaganda em torno 7 de outubro abriu caminho para o momento em agora vivemos, em que Israel pode conduzir uma onda de assassinatos contra jornalistas, trabalhadores de saúde, crianças e outros com total impunidade”, escreveu.
Uma reportagem da rede de monitoramento Fair, publicada na sexta-feira (22), corroborou a fabricação de consentimento por parte da grande imprensa ocidental para o assassinato em massa de trabalhadores da categoria. A investigação analisou a cobertura sobre a morte de diversos jornalistas — dentre os quais, Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, da Al Jazeera, em 10 de agosto —, por 15 agências de grande circulação, radicadas sobretudo nos Estados Unidos.
LEIA: Repórter se demite da Reuters por ‘traição’ à categoria sobre cobertura de Gaza
Descobriu-se que a cobertura de todas essas agências reproduziu “os mesmos tópicos sionistas, que contribuíram para fabricar consentimento para os assassinatos”, especialmente uma campanha de difamação de que o popular e respeitado jornalista al-Sharif seria um membro do grupo Hamas.
Entre as agências denunciadas: The New York Times, The Los Angeles Times, The Washington Post, The Wall Street Journal, The Financial Times, ABC, CBS, NBC, CNN, Fox News, BBC, Politico, Newsweek, The Associated Press e Reuters.
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 25 de agosto de 2025
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.
